O para sempre será suficiente?

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Os olhos antes pesados se abriram calmamente, despertando de um sono longo e vazio.

Não havia sonhado com nada, diferente do seu comum. E como nada havia passado por sua mente, sentia-se estranho. Porém, ainda que sua consciência não tivesse lhe dado nenhuma imagem, a sensação era como se tivesse sonhado durante uma noite inteira.

Sonhos bons e felizes, coisas que o alegrariam em um todo.

No entanto, se ele não havia fantasiado com nada naquela noite, de onde haviam surgido tais imagens de sua memória?

Até porque um vampiro que tinha o mesmo rosto daquele que a tanto amava tinha o mordido e dito coisas estranhas, com junto à voz de uma pequena criança demoníaca ao seu lado. Não chegava nem perto da possibilidade de ser uma realidade.

— Ver você desperto e vivo me alivia tanto. — A voz melodiosa cruzou seus ouvidos com intensidade, por fim o fazendo notar onde estava realmente, enquanto já se sentava.

A iluminação se fazia por pequenas frestas das janelas tampadas com tábuas de madeira e a cama em que estava parecia arrumada e limpa, ainda que o cheiro que exalava dela era de algo que jamais havia sido usado, ao menos não nos anos em que Midoriya estivera vivo.

Seus olhos esmeraldinos sondaram até a figura em questão, querendo vê-lo. Se deparou com aquele que se lembrava do nome, mesmo que este jamais tenha sido dito. Trajava a capa longa e a roupa negra de brim, sempre mantendo o ar de conde devido à gola apavonada na camisa, enrolada com um laço grande e negro.

A aparência pálida tinha se aprofundado ainda mais em sua face, criando vincos com as veias escuras que já formavam pequenas redes na pele, e ao contrário de antes — ou no caso, do que se lembrava das vezes que o tinha visto —, o bicolor tinha olheiras profundas.

— Eu... — Izuku se lembrou da mordida no pulso e puxou a manga branca, já que ainda estava com o manto da fantasia de fantasma o cobrindo; se deparando com as marcas fundas e sanguinolentas, cobertas por uma atadura. — Você me mordeu!

Era claro que estava atemorizado. Amemória de que havia sido mordido por um vampiro o assustava até o último fio de cabelo; era como se ser mordido exalasse um perigo de morte terrível, e esse seu desejo de viver intensamente porque a morte se aproximava estivera certo por todo esse tempo. Contudo, sua memória fora para um ponto crucial da mordida: a sensação de puro gáudio, que efervescia o precórdio.

— Não queria lhe trazer memórias ruins logo na primeira vez que nos falamos realmente, — o bicolor fechou os olhos, como se auto repreendesse.

— Você não foi ruim, quer dizer, foi... Foi uma sensação boa.— O que ele estava dizendo? Assumindo que havia se deleitado em tal situação, quando na verdade deveria estar questionando em como um vampiro poderia realmente existir!

— Eu sei, — a resposta vaga transbordou um sentimento de que para ele também havia sido, ainda que parar tenha sido a coisa mais difícil de todas e acima de tudo que já lhe fora difícil; o que justificava as olheiras e a palidez fora do comum.

— Como você pode existir? Como é possível que você seja um vampiro? Você é um vampiro, não é mesmo? Isso quer dizer que, se você me mordeu, eu também irei virar um? — O discernimento pareceu cair como um véu sobre a cabeça de Izuku, que agora ficava ainda mais assombrado com a ideia.

— Sim, eu me classifico no que você considera como um vampiro de verdade, e você continuará sendo humano. Não existe possibilidade de eu te transformar ou algo assim, até porque essa é uma culpa que apenas eu carrego, — abriu os olhos fitando o esverdeado, que se encolheu um pouco diante do olhar pungente sobre si.

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