Capítulo 1

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- Incrível, estamos perdidos - digo sarcástica para Pedro.

- E a culpa é minha? - ele indaga como se a acusação fosse um absurdo.

Limpo a garganta e engrosso a voz imitando-o:

- Deixe eu ler a porcaria do mapa, vocês dois vão nos levar para fora do país antes de chegarmos no local certo.

Pedro fica sem graça, ele não quer admitir que nos levou a lugar nenhum.

- Não estamos perdidos - ele diz cheio de si.

- Estamos num beco, e isso é uma floresta, você entende que nos levou para uma parede de pedras no meio da floresta? - pergunto irritada.

- Vamos dar a volta - ele diz como se fosse simples.

- Você nem sabe qual a extensão desse negócio.

- Você que é...

- Parem vocês dois - diz Igor. - Assim não vamos chegar a lugar nenhum. Vamos dar a volta porque é a melhor opção já que está começando a escurecer. E, a partir de agora, Oliver é o líder.

Nós paramos de discutir, mas continuamos nos encarando com olhar mortal. Todos, no fundo, respeitamos o Igor, ele já salvou nossa pele várias vezes e só não manda em todo mundo porque não quer. Além disso, começando a escurecer é modo de dizer, porque não passa quase um feixe de luz pelas copas das árvores. E o fato de estar escurecendo lá fora torna tudo mais assustador.

Planejamos essa excursão desde o ano passado. Passar quinze dias na Alemanha, parecia um sonho, até nos perdermos da equipe de trilha e ficarmos sozinhos. Cinco pessoas, que não falam alemão, no meio de uma floresta deserta e assustadora. Mais especificamente a Floresta Negra, uma das florestas mais macabras do mundo, berço de vários contos assombrados. O que pode dar errado?

...

Já estamos andando há muito tempo e a lua já está alta. Sua luz dá um ar prateado sinistro à floresta, o que não quer dizer que não precisamos mais das lanternas, já que continua um breu. Mas finalmente chegamos ao fim da parede e descobrimos que é, na verdade, um grande muro que dá num portão no qual se lê:

Castelo Park

- Vamos entrar - Pedro diz indo em direção ao portão semiaberto.

- Você tá maluco? - pergunto. Como alguém acha um Castelo no meio de uma floresta e quer entrar? Nunca viu filme de terror?

- Você que é. Tá com medo, não tá? - eu tenho todo o direito de estar com medo, são ruínas no meio da floresta.

- Você acha um Castelo no meio de uma floresta e entra? - pergunto irritada.

- Claro! E se tiver ouro lá dentro? Na pior das hipóteses não terá nada - ele abaixa a voz e cobre a boca para que eu não veja. - Ai largamos ela lá é vamos embora.

- Você é um idiota - bato nele, o que o faz rir.

- Foi só uma brincadeira, mas precisamos de um lugar para passar a noite - isso é verdade, se de dia a floresta já era perigosa, pela noite quando os animais saem para caçar deve ser ainda pior.

- Também acho que não devemos entrar - Gui fala.

- Pronto. Vamos embora - Oliver diz e nesse momento o portão se abre sozinho.

- É o destino - Pedro passa pelo portão e vai em direção à porta da casa.

- PEDRO! - Vou atrás dele. Que idiota entra num lugar que a porta abre sozinha? Quer dizer, isso não é um shopping, tá no meio do nada.

- Parem, vocês dois - fala Igor, mas antes que possamos parar a porta do castelo se abre e, de lá, sai um jovem, no qual Pedro, por pouco, não se bate.

Ele tem cabelos pretos e suas maçãs do rosto são fortes, ele usa uma máscara dourada que cobre em volta dos seus olhos. E, quando nos vê, abre um sorriso sinistro.

Eu pensei que este lugar estivesse abandonado. E, pelas caras surpresas, os outros também. Mas, depois de uma discussão de olhares, acabam entrando todos na propriedade meio receosos.

- Suas máscaras - o garoto, que, surpreendentemente, fala português, entrega uma para cada um. - Coloquem! - fala autoritário e fazemos o que ele manda. Ele nos guia para dentro da casa. - Podem encontrar roupas mais adequadas na segunda porta à esquerda. Lembrem-se que as máscaras só devem ser tiradas e que vocês só poderão sair quando o baile acabar ou as consequências serão máximas - diz de modo duro como se para enfatizar a veracidade das palavras. - O baile já começou há um tempo, mas não perderam nada de importante. Divirtam-se - ele fala nos encarando do mesmo modo sinistro de antes.

- Como assim só poderemos... - começo a perguntar mas ele sume.

- Eu vou embora - diz Pedro.

- Acho melhor fazer o que ele mandou - Igor rebate. - Acabamos de invadir propriedade privada, não queremos que ele chame a polícia.

Ele disse que as consequências serão máximas, estava se referindo a isso?

- Assuma seus atos, só entramos aqui por sua causa, não nos cause problemas - diz Oliver e Pedro desvia o olhar para o chão.

Seguimos para o quarto ainda meio receosos e vestimos as roupas que estão lá, são estilo século XVIII e a minha pesa mais que uma pessoa. Gui me ajuda a fechar o vestido e calçar os sapatos, porque não acho meus pés no meio de tanto pano.

- Não dá pra respirar direito com essa roupa - reclamo sentindo o tecido esmagar minha costela quando inspiro.

- Como a roupa te deu peitos de repente?

- Por que está olhando para os meus peitos, Pedro?

- Porque antes não existiam e agora estão ai - ele zomba de mim.

- Eu vou te matar, sua peste - bato nele de novo.

- Parem com isso, os dois - fala Igor. - Vamos esperar esse baile acabar e vamos para casa.

- Ok - admito que me sinto um pouco mal por colocar toda a culpa nele, acho que também sou um pouco responsável pela situação, já que sempre acabamos criando confusão quando estamos juntos. Na verdade, eu e Pedro somos uma péssima equipe, nos desentendemos mais do que concordamos, mas ainda assim somos amigos há muito tempo. Porém essa relação pode ser melhor estudada quando isso acabar, afinal fomos nós que fizemos a equipe se perder mais cedo.

Voltamos para o corredor, dessa vez observando tudo cautelosamente. Ruína é tudo que esse castelo não é. As molduras dos quadros banhadas a ouro, os lustres com tantos cristais que passaria toda a noite contando... é dinheiro suficiente para alimentar a cidade próxima por meses.

Seguimos o grande tapete vermelho que leva à uma porta larga.

- Vamos? - pergunto tensa.

Oliver me dá a mão e eu abro a porta.

The Curses of Schwarzwald - Cursed Castle (pjm) (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora