Capítulo 19

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Está muito claro. Encaro o teto e as paredes brancas, logo depois percebo a agulha no meu braço. Tornando desnecessário olhar para a roupa, também branca, para entender que estou no hospital.

- Ela acordou - Gui fala e vejo os garotos virem até mim.

Todos parecem cansados, as olheiras são fortes embaixo dos olhos. o que será que aconteceu quando HoSeok os mandou para fora da floresta?

- Vocês estão bem? - pergunto verificando se todos estão inteiros, mas recebo olhares confusos em resposta.

- É você que está internada, não a gente - Pedro fala e Igor lhe dá uma cotovelada.

- O que ele quis dizer foi, como você está? - corrige Oliver.

- Não sei... talvez melhor. Não tenho certeza, está meio confuso... - penso por um tempo. - Como eu cheguei aqui? Como pararam o sangramento? Como vocês chegaram aqui?

Gui pede para os outros saírem e depois coloca uma cadeira de plástico perto da cama.

- Você não lembra de nada? - ele pergunta e nego com a cabeça. Lembro de muitas coisas, mas dessas não. Ele começa a fazer carinho e mexer no meu cabelo. - Algumas horas depois de nos perdermos do guia encontramos uma alcateia faminta. Nós fugimos, mas um dos lobos conseguiu atacar você.

Passo a mão na ferida em meu pescoço que está tratada. Lobos? Não haviam lobos. Não é possível que eu esteja louca.

- O quê? - pergunto confusa. - Mas e o castelo? E os...

- O médico disse que você pode ter sintomas como alucinações e distorções de memórias - ele fala.

- Então tudo que eu acho que aconteceu...

- É uma invenção da sua mente com o objetivo de te proteger das lembranças ruins - ele me interrompe novamente. - Isso somado com os remédios.

Isso foi um balde de água fria, até porquê não faz sentido meu cérebro substituir aquelas memórias ruins por outras... extremamente assustadoras, principalmente no final. No começo foi... bom, o JiMin... O JiMin não importa mais. Mas, de qualquer modo, é possível que minha mente tenha criado um garoto e tudo aquilo que tivemos - seja lá o que foi?

Eu não quero que não tenha sido real, mas também... tem coisas que eu preferia que tenham sido mentira. Será que tudo que lembro tenha foi apenas uma ilusão?

- Estou aqui há quanto tempo? - pergunto tentando me concentrar em outra coisa.

- Três dias. Chegamos aqui no dia seguinte ao que nos perdemos por volta de dez da manhã.

- Isso quer dizer que...

- Sim, amanhã é nosso último dia aqui. Mas não se preocupe você vai receber alta a tempo.

- Ok - falo decepcionada. Não queria voltar para casa sem respostas.

...

Quando o horário de visita acaba ele vai embora e fico sozinha. O que me deixa desconfortável, já que sem ele o quarto é meio macabro.

Levanto, com dificuldade, e vou até o espelho do banheiro.

Minha cabeça está cheia de ataduras, o pescoço um pouco roxo e o local da ferida coberto com esparadrapo e gaze.

Tiro a proteção e encaro o ferimento. Dá para ver o corte que JungKook fez e a mordida do vampiro por cima.

Não é possível que essa mordida tenha sido feita por um lobo, é pequena de mais.

Vejo um vulto no espelho e me viro rápido na direção, mas não há nada, apenas as cortinas balançam com o vento, e a estranha sensação de estar sendo observada. Vou até a janela e tento fechá-la, porém está emperrada. A sensação continua ou até piora e, apesar de voltar à cama, não consigo dormir direito graças a isso.

...

De manhã, depois de fazer alguns exames, o médico me libera. Então saio esperando encontrar Gui, porém, ao invés dele, quem está na porta do hospital é Pedro.

- Oi.

- Oi. Cadê o Gui?

- Ele... já está chegando é que... eu preciso falar com você, pode ser? - ele pergunta.

- Pode - falo receosa.

Começamos a andar em um silêncio constrangedor. Encaro o céu, está totalmente nublado, não se vê um raio de sol.

- Bom... - ele diz de repente. - Depois de passar pela experiência de quase te perder eu percebi que devia ter feito isso há muito tempo.

Isso não é coisa boa.

Sem avisar ele segura meu rosto e puxa contra o seu, assustando-me tanto quanto na primeira vez. Porém resolvo retribuir para ver o que acontece, mas, mesmo assim, não consigo sentir nada. Pior, sinto que não foi tão bom quanto foi com JiMin, que meu coração não disparou como fez com ele, e condeno o pensamento na hora. O JiMin foi coisa de uma noite, uma noite horrível, esqueça isso.

- Eu gosto de você - ele diz. - Desde a primeira vez que nos vimos. Eu realmente gosto de você.

Agora eu tenho certeza que não foi minha imaginação, eu não sou vidente para saber que isso aconteceria.

- Pedro eu... - ele me encara esperando que termine. - Eu... - droga. Não tem como explicar isso de um modo fácil. Então alguém limpa a garganta de modo forçado. - J-JiMin? - encaro o garoto de cabelos prateados parado do meu lado.

Não é o mesmo JiMin da festa. Com o cabelo bagunçado, vestindo uma camisa simples e uma calça moletom ele parece ainda mais bonito do que estava no baile.

O quê? Não. Foco.

- Podemos ir ali? - ele aponta para a floresta. - Vai ser rápido.

- C-claro - ainda estou meio atordoada, mas mesmo assim aceito ir com ele. Eu preciso de respostas. Porém Pedro segura meu pulso quando passo por ele.

- Você conhece esse cara?

- Sim, é um... amigo.

- Você pode voltar mais tarde. Estamos no meio de algo importante - ele fala para JiMin.

Ele está certo, eu não devia deixá-lo para ir à floresta com outro depois do que ele disse. Além do mais, esse outro, não me ajudou quando aqueles vampiros tentaram me matar.

- Ele tem razão - falo.

- Vai realmente recusar sendo que é seu último dia aqui?

- Como sabe disso? - pergunto.

- Você me contou - ele fala e ergo uma sobrancelha.

- Bom, não importa. Pelo menos ele não passou reto quando eu estava sendo atacada por vampiros famintos - falo num tom quase inaudível, mas sei que ele pode escutar.

- Se vier comigo eu vou te explicar tudo - fala.

- Eu... - Pedro aperta um pouco mais meu pulso.

- Só diga logo para esse idiota que virá comigo - JiMin fala sem paciência.

- JiMin, você é...

- Quer saber? - Pedro me interrompe. - Tudo bem, vai falar com seu amigo, vamos ter muito tempo para conversarmos quando estivermos sozinhos.

Ele me solta e sigo JiMin até bem próximo da margem da floresta.

- Amigo? - JiMin pergunta erguendo uma sobrancelha, o sorriso presunçoso de sempre completando a expressão.

- Tem razão, amigo é bem mais do que somos - seu sorriso vacila até que uma feição séria o substitua. - O que quer comigo? - pergunto sem humor.

The Curses of Schwarzwald - Cursed Castle (pjm) (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora