Bryon observava fixamente a água da lagoa do bosque sagrado. Imaginava que aquela lagoa era o mar, o mar de sua infância, o mar do qual se distanciara anos atrás, mas que era sua lembrança mais clara e vívida daquela época. Havia uma forte diferença entre as águas cinza-esverdeadas e revoltas das Ilhas de Ferro e a tranquilidade daquele lugar, mais ficar lá se tornara um hábito.
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Bryon seguia silenciosamente Lorde Stark pelo bosque. Sua mente de seis anos sempre tivera curiosidade em saber o que Lorde Stark fazia lá. Seu irmão dizia que não era importante para nós, como nascidos de ferro, mas isso não era suficiente para Bryon. Queria saber o que havia de especial naquele lugar. Na verdade Bryon se surpreendera com as coisas que encontrara naquele castelo. Sua mãe lhe contara várias histórias sobre os homens das terras verdes, sobre como eles eram malvados e fracos em comparação aos nascidos de ferro, mas nem Lorde Stark nem sua esposa e seus filhos pareciam tão ruins. Na verdade eles fascinavam o menino.
Enquanto andava, sentiu estar sendo observado. Não podia ser Lorde Stark, que mantinha a cabeça virada para frente. Olhou para os lados, para trás, para os cantos. Ninguém à sua vista. Lorde Stark se aproximou de uma área onde havia uma estranha árvore branca com um rosto em seu tronco. Ao olhar nos olhos vermelhos da árvore, Bryon se encheu de medo. Era ela quem me espiara. Sua respiração nervosa denunciou sua presença.
-Quem está ai?- Lorde Stark perguntou antes de se virar e olhar para o menino que o seguia.
-L-Lorde Stark.-Bryon o cumprimentou com nervosismo.
-Bryon-Lorde Stark se aproximou-O que faz aqui?
-Eu apenas estava andando pelo bosque, mas me perdi. Achei o senhor e o segui para me guiar.-respondeu.
Lorde Stark o olhou da forma fria de sempre.
-Este é o centro do Bosque Sagrado.-o Lorde de Winterfell explicou- Siga em frente para qualquer lado e estará fora do Bosque- apontou para a direção de onde vieram- Para lá fica o castelo.
-Obrigado, senhor.-o garoto se curvou ligeiramente, como vira os servos se curvarem- Sem querer incomodá-lo, o que o senhor faz neste lugar?
Lorde Stark se sentou próximo da árvore.
-Eu rezo- disse o nortenho-Esta árvore é sagrada para os Stark, pois acreditamos que os deuses antigos nos olham por meio de seus olhos.
-Ah.-Bryon finalmente entendera-Meistre Luwin nos falou sobre isso em algumas aulas, mas não sabia que havia uma por aqui.
Lorde Stark voltara seus olhos para os da árvore. Bryon se sentou próximo ao lorde de Winterfell. Naquele momento o lugar não parecia mais tão estranho.
-Posso rezar com o senhor?- Bryon perguntou.
-Não acho que seria adequado-o lorde respondeu- Os deuses antigos são do Norte e dos Starks. Sua família não os adora.
-Entendo.-Bryon ficou com a cabeça baixa por um instante, mas notou uma coisa- posso rezar para essa lagoa.
-O quê? -lorde Stark parecia confuso.
-Sabe, é que o Deus afogado é o deus do mar, e a lagoa também é feita de água, como o mar. Vou rezar para o Deus afogado nela.
Lorde Stark não retrucou.
_______________________________Olhando para trás, aquilo parecia um acontecimento muito engraçado. Bryon imaginava como lorde Eddard ficara ao ouvir os argumentos de Bryon. Ele nem quis discutir. Para Bryon, tudo aquilo era no início apenas uma desculpa para se aproximar de lorde Stark, mas, a medida que crescia, tornou-se algo mais sério. Passou a sentir que sua fé no Deus Afogado, encarnado naquela pequena lagoa, o ajudava a enfrentar suas dúvidas e dificuldades. Assim, decidiu se firmar em tal fé. Voltou novamente sua atenção para a água, para as preces que fazia ao Deus Afogado. Sua concentração foi perturbada por um grito infantil.
-Vamos! Pega!
Virando o torso, Bryon vira a fonte do barulho, tendo novamente vontade de rir. Bran, desista. O menino parecia estar próximo do tédio enquanto tentava fazer seu lobo gigante pegar um pedaço de madeira, mas ainda havia persistência o suficiente para tentar de novo.
-Ei, Bran!- Bryon chamou.
-Bry!-o menino respondeu, correndo ao seu encontro.
Bryon detestava apelidos, mas abrira uma exceção para Bran. O menino começara a chamá-lo de Bry ainda enquanto aprendia a falar, mas nunca parara desde então.
-O que está fazendo aqui?-Bryon perguntou.
-Estou tentando ensinar truques para o meu lobo.- Bran ergueu o pedaço de madeira- Mas ele não obedece.
-Acho que lobos gigantes são mais espertos que cães, Bran. Provavelmente ele deve achar ridículo gastar energia para pegar um graveto inútil.
-É. Deve ser.- o garoto largou o graveto e olhou para o represeiro- Não acha essa árvore estranha?
-Antigamente sim, mas acho que me acostumei. Você também deveria, afinal é um Stark de Winterfell. Precisa honrar seus deuses.
-Parece o papai falando.-Bran comentou.
Então Bran foi até o represeiro. Bryon já passara por aquilo vezes demais para saber o que o menino pretendia.
-Para onde vai?-perguntou ao menino.
-Para a torre quebrada.
Bryon permaneceu sentado enquanto olhava o menino-lobo-esquilo começar a escalar a árvore. O medo de que Bran caísse era sempre presente, então decidiu se levantar e ir até a base da torre quebrada.
Ao chegar lá, Brandon já escalava a torre. Ele consegue ser mais rápido escalando que andando. Bryon olhava para o menino, que parecia pequeno daquela altura. Aquela era uma entre muitas vezes que Bryon vigiara Bran, o que o fazia se distrair com facilidade sem temer que o menor perdesse o equilíbrio. Havia uma beleza simples em Winterfell que Bryon aprendera a admirar, e aquela torre era um dos maiores exemplares. Imaginava como a estrutura era em seu tempo, quando os Reis do Inverno dominavam.
Pequenas pedras caindo tiraram Bryon de seus devaneios, quando notara que Bran estava pendurado de ponta cabeça na torre. Seu coração disparou, ficando pior ao ver o Stark escorregar mais uma vez, segurando-se por pouco em uma abertura. Pelo Deus Afogado, pelos deuses antigos e novos, Bran não pode cair.
Alguma coisa parecia ter ouvido suas preces, pois Bran foi puxado para dentro da abertura. O que quer que tenha feito aquilo, Bryon não identificou.
Bryon se afastou ligeiramente da torre, tentando ver algo. Porém, antes que pudesse olhar qualquer coisa, Bran fora jogado , caindo em queda livre.
Não
-Não!
Bryon se desesperou por completo. Ia de um lado para outro, tentando pegar Brandon antes que ele aterrissasse. Em um ato de desespero, jogou-se no chão no último instante da queda. Após ouvir um ruído no chão, Bryon se levantou e olhou para uma das cenas mais perturbadoras que já vira. A sua frente estava o corpo de Bran, quebrado e morto.
Lagrimas começaram a escorrer dos olhos de Bryon. Se eu o tivesse impedido, se eu não me distraisse...
Tantas possibilidades passavam pela sua mente. Como levaria aquela notícia para os Starks? Se eles soubessem de sua culpa, nada seria como antes. Poderia perder eles. Poderia perder sua família. Parte de si dizia que não, que Lorde Eddard era um homem bom e que diria que não fora sua culpa, que Robb, Jon e ele consolariam um ao outro, mas Bryon afugentava tais pensamentos. Lady Catelyn com certeza não seria tão compreensível. Ela era uma mãe e uma Tully,afinal de contas. Sua consciência dizia para que ele contasse a verdade, mas seu desespero já trabalhava para criar uma mentira para se safar. Poderia contar que achara Bran no chão, que nada teve haver com a queda. O que eu faço?Bryon.
Todas as suas dúvidas foram interrompidas por uma voz. Uma voz que parecia tocar em sua alma e chamá-lo. Bryon pegou o retorcido corpo de Bran com os dois braços e o levou pelo caminho da voz. Chegaram até a beira da lagoa. O nascido de ferro tocou a água com os pés e o aspecto dela mudou. Ondas surgiram, um cheiro de sal tomou conta do ar. Bryon sentiu uma profunda nostalgia com tudo aquilo. Mergulhou o pequeno corpo nas águas enquanto palavras vinham de sua boca.
-O que está morto não pode morrer- as velhas palavras de sua infância saíram de sua boca espontaneamente. -mas volta, mais duro e mais forte.
A lagoa se acalmou, voltando ao normal, com o corpo de Bran boiava próximo a margem. Bryon o pegou e o colocou sobre solo firme, depois pressionou seus pulmões,fazendo o garoto cuspir bastante água salgada. Mesmo assim, Bran ainda parecia inconsciente. Bryon decidiu levá-lo ao Meistre Luwin, pensando no que contar aos outros no caminho. Enquanto andava com Bran nos braços, percebeu que o garoto secava rapidamente.
"Obrigado"
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Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo
FantasyBryon, filho mais novo de Balon Greyjoy, é levado para longe de casa junto com seu irmão Theon após a fracassada Rebelião Greyjoy. Uma guerra obriga Bryon e Theon a voltarem para as Ilhas de Ferro com uma importante missão, da qual não podem falhar.