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Bryon não punha os pés em um barco a anos. A última vez que o fizera fora quando deixara as Ilhas de Ferro. Agora lá estava ele, viajando pelo mar do Poente em um barco de mercador, tendo apenas seu irmão como rosto conhecido. A tripulação do barco, especialmente o capitão, era amigável ao ponto da bajulação, o que irritava um pouco a Bryon, mas seu irmão resolvera aproveitar e pegar a cabine do capitão.
Existia algo de belo no barulho das ondas cinzentas, que calmamente balançavam o barco, inspirando Bryon a tocar sua harpa enquanto olhava o mar, próximo à proa do barco. Entretanto, rangidos e gemidos infernais o atrapalhavam.
Theon, se você continuar com isso, vai acabar sem pênis.
O barulho cessara, paços foram ouvidos pelo convés. Theon se pôs ao seu lado, parecendo contente.
-Então- disse Bryon- como foi?
-Melhor do que imaginei-Theon respondeu.
Antes que seu irmão pudesse entrar em detalhes, Bryon falou.
-Daqui a pouco tempo estaremos em Pyke.
-É.- Theon disse- Depois de tantos anos, finalmente voltaremos para casa e assumiremos nosso lugar como herdeiros e depois príncipes.
A palavra casa não era exatamente o que vinha à mente de Bryon quando ele pensava nas Ilhas de Ferro. A primeira coisa que pensava era em Winterfell. Pensava em Eddard Stark, o homem austero que aprendera a respeitar. Em Arya, a adorável pestinha que ele adorava. Era engraçado pensar em Robb, já que na infância Bryon não sentira muita simpatia inicial, ainda mais quando o Stark parecia mais próximo de seu irmão mais velho que ele próprio. Após um tempo os dois se acertaram, embora Bryon até hoje indague a si mesmo se Theon prefere Robb a ele como irmão.
Também pensava em Bran, que fora como um irmão mais novo para ele, e que nunca poderia ter realizar seus sonhos.
Talvez devesse tê-lo deixado morrer em paz, perto do represeiro. Pensou.
Olhando para o mar, repreendeu-se por ter pensado aquilo.
Idiota! A vida de Bran não ficou totalmente sem escolha. Ele pode não realizar seus sonhos, mas ainda poderá fazer alguma coisa. Além disso, coisas como aquilo não acontecem sem razão.
Evitava pensar sobre a cura milagrosa de Bran. O garoto morrera, Bryon sabia disso. Deve ter tido alguma razão para aquilo. De qualquer modo, devia à alguém, ou alguma coisa, o que quer que tenha sido a causa. Talvez tenha sido o Deus Afogado, talvez os Velhos Deuses, ou quem sabe algo completamente diferente.
-Imagino que esteja ansioso ansioso para ir para casa, meu lorde.
Perto de Theon estava a filha do capitão. Não era um esplendor de beleza, mais era doce e gentil, o tipo de garota que Bryon gostava. Era uma pena que ela estivesse gostando do Theon, pois seu irmão não costumava manter relações a longo prazo. Se Bryon fosse o escolhido, tentaria não encorajar a relação, por questões práticas.
Era sempre Theon quem atraía as moças, enquanto Bryon ficava em seu canto. Por um tempo pensara que sua aparência seria a causa, pois o rosto de Bryon era mais arredondado que o de seu irmão e seu nariz, menor. Fios castanhos mais claros se misturavam aos escuros típicos dos Greyjoy em seu cabelo. Theon dizia que Bryon se parecia com sua mãe, uma Harlaw.
  Além de tudo isso, Bryon nunca se atrevera a beijar uma mulher. Às vezes pensava que ser mulher seria mais fácil para ele nesse sentido, pois, se fosse uma, não teria que se dar o trabalho de cortejar seu futuro par. Poderia dedicar sua vida a ler, cantar, tocar harpa, quem sabe aprender a costurar. Lutar não faria falta, embora outras coisas fariam......
É melhor ser um homem, concluiu.
Das Ilhas de Ferro, poucas lembranças Bryon possuía. Lembrava-se de Balon Greyjoy, frio e distante. Em sua mente, quando pensava em seu pai, a imagem de Eddard Stark aparecia. Por outro lado, Catelyn Tully nunca substituíra Alannys Harlaw. Suas melhores lembranças das Ilhas eram relacionadas a sua mãe, e a alegria e o calor que ela transmitia eram quase palpáveis em suas lembranças. De seus irmãos, de pouco ou nada se recordava, mas se lembrava de Asha, que cuidava dele quando sua mãe estava ocupada. Em apenas um dia, iria vê-la novamente, já adulta. Durante sua divagação, outro pensamento veio a sua mente
-Sabe, Theon-Bryon começou- Quando chegarmos, vamos precisar convencer nosso pai a aceitar nosso plano. Acha que conseguimos.
-Claro que iremos conseguir!- Theon falara- Somos os filhos dele, além de propormos algo que ele sempre quis: a independência das Ilhas de Ferro e uma coroa.
-Mas ele mal nos conhece.- Bryon disse- Digo, você passou metade de sua vida no Norte e eu, dois terços. É quase certo que ele não confiará em nós de primeira.
-Deixe esse pessimismo, Bryon. Além de que, você é ótimo quando se trata de discursar. Lembra do que fez com aquele Frey?
De repente um vento frio passou pelo barco. Os marinheiros pareciam apreensivos. O capitão correra até eles, seus olhos denunciavam pânico.
-Senhores, tivemos um contra-tempo.
-O que é?- Theon perguntou.
-Uma tempestade está se formando.
Os membros da tripulação começaram a preparar o barco para o que estaria por vir. Bryon tentara ajudar um pouco, mas tinha zero de experiência como marinheiro, além de quase perder o equilíbrio enquanto remexia as cordas. Estava se sentindo tão inútil quanto no dia em que Bran caíra.
O céu escurecia, os ventos se fortaleciam, o mar do poente estava pronto para demonstrar uma fúria digna das Terras da Tempestade.  Homens começaram a rezar por seus deuses.
Não iremos acabar desse jeito, pensou, não é?
-Parem de rezar e façam algo de útil, suas baratas verdes! Temos que chegar à Pyke.
Theon parecia ter perdido boa parte de sua confiança, descontando sua raiva em insultos aos marinheiros. Bryon também estava nervoso. Tudo o que fizeram poderia ser em vão. O barco afundaria, ele e Theon iriam até os salões do Deus Afogado e nunca cumpririam seus objetivos. Uma onda surgira, passando por cima do barco e quebrando o mastro.
Estamos fodidos
Resistiu a falar o palavrão, mas não em pensá-lo. O mar se revoltada de vez e já não se poderia distinguir dia e noite com aquele céu. Certamente outras ondas como aquela viriam e terminariam o serviço.
Então,  inesperadamente, alguma coisa segurara o barco, os fazendo parar.
Batemos em alguma pedra?
Como se fosse uma resposta à sua pergunta, um imenso tentáculo amarelado cuja ponta deveria ser maior que aquela embarcação surgiu de dentro do mar. O tentáculo desceu sobre eles, esmagando o barco, que se quebrou em vários pedaços.
Bryon caíra no mar, vários pedaços do barco ao seu redor. Aprendera o básico da natação nos lagos próximos a Winterfell, mas nada era comparado com se manter flutuando em meio a uma tempestade.
-Theon!- Bryon gritara, procurando por seu irmão.
Uma melodia conhecida começara a tocar nos ouvidos de Bryon enquanto ele era puxado para dentro da água.

Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo Onde histórias criam vida. Descubra agora