Jim e o povo de sua vila vagaram pelo norte da Ilha Leal, para agora finalmente poderem ver Castelobelo. Era uma fortaleza modesta, mas forte, do tipo que poderia-se esperar da sede de uma casa antiga e orgulhosa como os Farman.
Fora difícil para o velho pescador andar por todo aquele caminho. Por trabalhar todos os dias, não perdera a forma, mas a idade já cobrava seu preço, na forma de fadiga. Mesmo assim precisava continuar, nem que fosse com uma bengala. Ouviram pelo caminho vários rumores de ataques de nascidos de ferro na costa da ilha, e muitos moradores desses lugares pareciam seguir o mesmo caminho deles. Um grupo deles, porém, já era conhecido por Jim.
- Ei, Jim?! - Gerry, um ferreiro que era amigo de Jim, disse - Conhece aqueles estranhos ali? Eles nos seguem à tempos.
- Sim. - ele respondeu. É claro, era melhor não contar que os conhecera na própria vila, nem que eram estrangeiros. Tempos difíceis como aqueles faziam as pessoas perderem a razão. Por hora, era melhor deixá-los se misturarem à multidão de moradores que ia até os portões de Castelobelo. Era à Casa Farman que os moradores da Ilha Leal sempre recorreram todas as vezes que os nascidos de ferro na história do lugar, e esta não seria uma exceção. Vários camponeses já se abrigavam próximos às muralhas do castelo, alguns já estando com barracas improvisadas.
"Mas por que não entraram?"
Após ficar à frente do portão da fortaleza, Jim decidiu ele mesmo fazer essa pergunta. Bateu com força na superfície de madeira. Uma portinhola se abrira, revelando a cabeça de um soldado, que usava um capacete que cobria quase toda a cabeça, exceto pelos olhos e pela boca.
- Ah, mais um grupo. - o guarda falou, entediado - Irei dizer, curto e simplesmente, o que dissemos a todos: não podem entrar em Castelobelo. Ordens de Lorde Farman.
"Como assim? Sem mais nem menos?". Lembrava-se de quando sua mãe lhe contava sobre a nobreza. Sobre o dever sagrado que os fidalgos tinham de defender aqueles que estavam sob sua proteção. Resolvera guardar sua raiva para si e avisar aos seus companheiros sobre aquela situação. Depois foi até Brandon e sua tripulação, que estavam à pouca distância.
- E ele disse apenas isso? - questionara o rapaz, que parecia nervoso ao ouvir aquilo, seus olhos ficando bastante arregalados. - I- Imagino o que pode levar um lorde a isso. Quem sabe eles não têm comida o suficiente, afinal às vezes a guerra prejudica o abastecimento.
- Talvez...- " Mesmo assim, ainda não faz sentido". Antes que Jim pudesse falar mais alguma coisa, ouviu-se uma algazarra. Ao virar-se, o pescador pôde ouvir uma voz sobressair-se. Jim precisou se embrenhar entre a multidão para ouvir com clareza, embora mal conseguisse ver a cena.
- Chega! - gritava uma mulher, provavelmente na faixa dos trinta anos - Tenho família e filhos, e meu marido foi lutar nas Terras Fluviais pelo merda do lorde de vocês! Se não me deixarem passar, eu mesma vou abrir um buraco, nem que seja pelo seu....
- Senhora, não nos obrigue a usar a for...ai! Meu olho! - um soldado, provavelmente o mesmo que recepcionava as pessoas, agora gritava em agonia - Tirem esse garfo do meu olho, seus imprestáveis!
- Vamos arrombar essa porta! Se lorde Farman não quer nos deixar entrar, nós entraremos pela força! - gritava a mulher, agora sendo carregada por vários, que a saudavam. "Gilda! Gilda!", o povo bradava, e agora quase todos os camponeses refugiados se juntavam para empurrar o portão. Jim, preso em meio a tanta gente, acabou tendo que seguir o fluxo da multidão que o cercava. Muitos acenderam tochas, enquanto outros pegavam seus martelos, e cada um se jogava para abrir aquela passagem de uma vez por todas. Podia-se ouvir o zunir de flechas sendo atiradas da muralha, mas havia camponeses demais para acertar. O pescador estava totalmemte desorientado, pois nunca imaginara que pudessem fazer isso a um castelo de um nobre. A situação continuou até que um grupo resolvera jogar óleo no portão, para depois jogar uma tocha. A madeira queimara, e bastara apenas mais um empurrão para que a estrutura cedesse. Os camponeses apressaram o passo, impulsionados pela ira e pelo desespero, mas Jim agora não conseguia acompanhar, e seu pé acabara tropeçando em uma pedra no caminho, fazendo-o cair para ser pisoteado pela multidão.O que ninguém notara, porém, é que um grupo não se juntara aos desesperados liderados por Gilda.
Que bom que entraram, pensou Bryon.
O jovem Greyjoy quase perdera as esperanças em seu plano quando ouvira que não deixariam os refugiadoa entrar no castelo, mas agora o problema estava resolvido, e não precisaram fazer nada para isso.
- Está na hora de atacarmos. - um dos homens disse.
- Não, não atacaremos.....Gunter. - Disse Bryon, ainda incerto se falara o nome de seu subordinado. Estava tentando aprender os nomes dos tripulantes do seu navio, mas ainda confundia os nomes de uns com outros.
- Então o que faremos? Ficaremos aqui esperando?- disse aquele que confirmava ser Gunter Harlaw. O sujeito possuía cabelos castanhos, a mesma altura de Bryon e uma pele de bebê comparável à dele. "Tal como eu, esse aí não saía muito para a ação". Porém Bryon duvidava que fosse pelo mesmo motivo, pois Gunter vivia a reclamar que nunca tivera uma oportunidade para batalhar.
- Fryda irá lá dentro enquanto o castelo está em confusão e sequestrará os herdeiros Farmen em segredo. Ela é bastante ágil e pequena, difícil para eles notarem.
Gunter não respondeu, e para Bryon aquilo soava como consentimento. Chegou perto de Fryda, que estava do lado esquerdo do grupo, deu-lhe uma adaga e disse-lhe:
- Vá em frente.
E a garota foi, correndo rapidamente até o portão desabado e desparecendo dentro das muralhas.
Parece que tudo está dando certo, Bryon pensara. Até mesmo seu sotaque nortenho se mostrara útil. Aquele plano não era seu preferido, e o escolhera por ser o melhor na ocasião. Perguntava-se a si mesmo se Ned Stark aprovaria aquilo. "Ele era um homem com experiência em guerra. Saberia que isso era necessário, por mais desonroso que pareça." Além disso, Bryon tomara cuidado para que nenhum camponês fosse ferido no processo, sendo que as casas desabitadas eram sempre as primeiras a serem queimadas quando eles invadiram as vilas da ilha à noite. Ele pessoalmente garantira aquilo."Mas não estão os camponeses sendo feridos e mortos agora, enfrentando os guardas de Castelobelo?"
"Não é culpa minha", tentava se advogar. "Foi uma camponesa quem começou a insurreição".
Mesmo assim, não conseguia deixar de sentir alguma culpa.
- Irei verificar umas coisas no portão. - disse aos seus subordinados.- Não se mexam!
Então Bryon caminhara até a entrada do Castelobelo, agora uma ruína por si só. Queimada e arrombada, até algumas pedras se soltaram da fachada. As partes de ferro estavam um tanto deformadas, em parte pelo fogo, em parte por terem sido forçadas. Havia sangue no gramado próximo, e flechas e tochas apagadas também. Porém, enquanto via aquilo, Bryon notara uma coisa.
Era um corpo morto, que fora um tanto esmagado pelos passos de camponeses desesperados. Mesmo assim, ainda podia reconhecer as feições do idoso.
Lágrimas queriam escorrer de seus olhos, mas ele não deixara.
"Por que eu sempre falho em algo?"
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Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo
FantasyBryon, filho mais novo de Balon Greyjoy, é levado para longe de casa junto com seu irmão Theon após a fracassada Rebelião Greyjoy. Uma guerra obriga Bryon e Theon a voltarem para as Ilhas de Ferro com uma importante missão, da qual não podem falhar.