A Fortaleza vermelha mais uma vez amanhecia tensa. Eddard Stark podia ouvir os murmúrios das pessoas que passavam pelo corredor. As pessoas ainda pensam em quem culpar. Enquanto isso, Ned pensava em Bran, seu filho, que nunca mais poderia ver a luz do dia. Suas mãos tremeram quando se lembrou da cena.
Poucas horas depois de chegar a Porto Real, Ned notou uma grande movimentação de pessoas, tanto servos quanto nobres, até os aposentos de Robert. Ao chegar lá, viu o rei usando um roupão de pele, seu rosto exibindo a mesma expressão que Ned vira anos atrás, quando a notícia do rapto de Lyanna chegara a seus ouvidos. Havia muito sangue, tanto no chão como nas cobertas da cama.
-O que aconteceu aqui?-Eddard falou com austeridade.
-Ned!-Sua Graça disse, seu rosto vermelho de fúria -Que bom que está aqui! Aquela puta desgraçada!....
-Vossa Graça precisa se acalmar..-um dos criados falou,puxando o braço do rei.
-Não! Eu não preciso me acalmar! O que eu preciso é encontrar quem foi o responsável e esmagar seu crânio!
-Robert- Eddard disse, tentando acalmar seu amigo- quero que me diga o que aconteceu.
O rei respirava profundamente, segurando a raiva.
-Eu estava tentando me divertir com algumas prostitutas- Robert falava- quando uma delas me seduziu. Ela lembrava Lyanna, Ned.-o rei pareceu triste por um momento, antes de dar um brado- Ai... Ela tentou me esfaquear! Me esfaquear, Ned! Se eu não estivesse bêbado, teria esmagado o crânio dela naquele momento!
Robert balançava os braços de raiva, quase socando Lancel, que trazia duas taças, uma em cada mão.
-V-Vinho da Árvore e leite de papoula..-o Lannister dizia cada palavra com um nervosismo quase palpável- ...p-para Sua Graça.
-Pela trigésima vez, eu não preciso ficar calmo!
Dessa vez Robert socara a bandeja. Vinho e leite de papoula se misturavam derramados no chão. Ned nunca imaginara ver seu amigo derramar propositadamente vinho.
-Como pude não notar! O menino notou! Nunca fui tão humilhado em minha vida! Eu, morrer pela faca de uma mulher! Ainda bem que pude dar o troco...
-Espere-Eddard interrompeu-Que menino?
-Sim, um menino- disse o rei.
De repente, os olhos de Robert se arregalaram.
- Ah, deuses, esqueci de avisar-sua voz se enchera de culpa-Ned, eu sinto muito por isso...
-O que ouve, Robert?- Ned perguntou. O rei nada falou. O coração de Ned começara a acelerar.
-O que ouve?!Eddard apressava-se ao andar até a sala do Grande Meistre Pycelle. O meistre segurava bandagens sujas de sangue. Sangue de Bran, presumiu. Ned correu até o Pycelle e impulsivamente pressionou o velho contra a parede e o ergueu.
-Onde está Bran? -disse Eddard enquanto segurava o Meistre. -Me responda!
Os olhos do meistre se arregalaram de espanto. Antes que ele pudesse responder, Ned ouviu um gemido.
-Pai...
Ned olhou para o lado e viu uma imagem digna de pesadelos. Onde antes estavam os olhos, agora as pálpebras afundavam nas órbitas. Haviam cortes acima do nariz e perto das pálpebras, além de sangue seco sobre as bochechas, se assemelhando a lágrimas.
-Pai? Você esta ai?-seu filho perguntou. Ned largou o Grande Meistre e foi para perto de Bran.
-Sim, filho. Eu estou.Agora o Lorde de Winterfell estava diposto a enfrentar aquele lugar. Bran nunca poderia ser cavaleiro, nunca mais poderia ler qualquer livro ou carta que mandassem para ele, não poderia olhar para sua esposa e filhos. Ned olhou para a arma do crime, que resolvera levar consigo e que estava em sua mão direita. Era fina demais para ter sido feita por um artesão qualquer. Ptrecisava de respostas.
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Sansa às vezes pensava estar louca.
Eu não sou um monstro. Sou uma lady e uma futura rainha. Pensava para si mesma enquanto penteavam seu cabelo.
Repetia essas palavras quase todas as manhãs desde que começara a ter os sonhos estranhos, onde não era ela mesma, onde, mesmo sendo bem alimentada, queria algo mais. Bran lhe contava que tais sonhos não eram só sonhos, mas tudo parecia mais uma das histórias assustadoras que a Velha Ama contava para ele. Era surreal demais para se acreditar. Ela nem gostava de tais histórias, e sim daquelas que falavam sobre nobres cavaleiros, belas princesas e amor cortês. Porém, dentro dela, uma estranha vontade se expandia. As caçadas que ela, que Lady, experimentara com os outros lobos pareciam muito reais.
Após se arrumar, Sansa resolveu procurar algum local quieto na Torre da Mão onde pudesse praticar costura em paz, Lady a seguindo. Era difícil se acostumar com os soldados posicionados em cada canto do castelo, uma das medidas de segurança tomadas após a tentativa de assassinato ao rei. E pelo cegamento de Bran.
Ela ficara abalada pelo que tinha acontecido ao irmão. Bran teria sido um grande cavaleiro. Uma raiva que lutava para reprimir aparecia. Lady rosnara por um instante, como se lesse sua mente.
Quem sabe ele ainda pudesse realizar o sonho, como na lenda de Symeon olhos-de-estrela. Não. É só uma história, como os wargs, troca-peles, gramequins e snarks.
Sentou-se em um banco próximo à uma janela e a um dos guardas e começou a mexer a agulha. Enquanto tecia, um corvo apareceu na janela, junto com a brisa que vinha de fora. Lembrou-se da noite anterior, quando sonhara acompanhar seus irmãos a uma caçada. Acabaram enfrentando um urso. Quase conseguia sentir o gosto forte da carne do animal.
-Bordado estranho.
Sansa olhou para a direção de onde a voz viera.
-Arya. O que faz aqui?
Sua irmã estava atrás do banco olhando para Sansa com um olhar zombeteiro.
-Só queria ver onde você estava. Foi legal ontem à noite, não foi?
-Eu não sei do que está falando, Arya.
-Não? Olhe para seu bordado.
Sansa olhou, espantando-se logo depois. No pano branco que usara para tecer, havia um bordado de um urso enfrentando três lobos. Era terrivelmente realista, exceto por tudo ser rosa.
-Pena que aquele urso havia comido a carcaça que procurávamos. -Arya comentou- teríamos comido ainda mais carne. Não é, Bran?
O corvo gasnou, como se respondesse às palavras de Arya.
-Fala com corvos agora?-Sansa perguntou com uma pequena dose de ironia.
De repente o corvo pulou na cabeça de Sansa, bicando seus cabelos. Ela saltou do banco, tentando afugentá-lo. Logo depois ele pousou na de Arya, para então voar para dentro do corredor.
-Ele quer que o sigamos!-Arya disse.
A irmã mais nova começou a correr atrás do pássaro, enquanto Sansa levantava as saias e a seguia com Lady ao lado.
Tenho que livrar minha irmã de uma encrenca, Sansa mentiu para si mesma parte dela sentia que o corvo não era comum.
Chegaram aos aposentos de Bran. O corvo pousara no criado mudo próximo à cama. Seu irmão estava deitado, com uma bandagem sobre as pálpebras. Verão deitava-se próximo a cama, sua cabeça levantou assim que viu Lady.
-Sansa, Arya.-Bran disse sorrindo- Que bom que me seguiram.
-Como assim te seguimos?-Sansa perguntou,meio confusa. Então olhar dela se voltara para o corvo.
-A propósito, belo bordado, Sansa. Devia refazê-lo com as cores originais, mas acho que exigiria muito vermelho.
Sansa ficara de boca aberta. Era inacreditável.
-Então, acredita?-seus irmãos perguntaram em uníssono.
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Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo
FantasyBryon, filho mais novo de Balon Greyjoy, é levado para longe de casa junto com seu irmão Theon após a fracassada Rebelião Greyjoy. Uma guerra obriga Bryon e Theon a voltarem para as Ilhas de Ferro com uma importante missão, da qual não podem falhar.