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O trajeto que seguiram para a Ilha Leal fora calmo, embora a mente de Bryon não tenha ficado exatamente em paz com a atual conjuntura. Além de seu dracar, que ainda não possuía nome (já estava pensando em chama-lo "Sem-nome" por sua indecisão) , apenas dois outros compunham sua "esquadra".
"Nós vamos morrer", pensava em seus momentos mais pessimistas. "Meu pai vai morrer", em suas horas de revolta. Às vezes podia ouvir os marujos de seu próprio navio cochichando, possivelmente sobre se o príncipe que os comandava teria o juízo para recuar. Os únicos motivos pelo qual eles provavelmente o seguiam eram por Asha os ter ordenado e por quê o barco à direita era o Bebedor de Espuma , comandado por ninguém menos que Dagmer Boca-Rachada. Fazia tempo que Bryon não via o antigo mestre-de-armas de Pyke, que também tentara treina-lo diversas vezes. Também era um guerreiro formidável e respeitado o suficiente para manter os homens do grupo coesos. Ou ao menos era o que Bryon desesperadamente esperava.
    Não devo ficar tão nervoso. Lembrava-se de Eddard Stark, o homem que, desde que Bryon chegara a Winterfell, fora sempre inflexível como gelo. Ferro e gelo, ambos não se dobram. Se quisesse o mínimo de lealdade daqueles homens, precisava manter dignidade.
Com certeza Lorde Eddard não iria mandar seus comandados em uma missão suicída dessas.
Começara a se perguntar como estava seu irmão. Depois de tirarem-no da rede, Theon parecia completamente mudado. Seu olhar transmitia uma melancólica auto-piedade, e sua boca não mais se convertera em um sorriso. Por vezes duvidava que aquele ser pálido fosse seu irmão.
    - Estamos próximos da Ilha Leal,  príncipe! - um dos seus marinheiros disse.
Era possível avistar a faixa de terra que se estendia ao horizonte. Ilha Leal já pertencera aos nascidos de ferro várias vezes no passado, sendo a última justamente quando seu avô Quellon a ocupara enquanto Tytos Lannister mal mantinha o Oeste unido. Também era onde uma parte considerável da marinha das Terras Ocidentais ficava. E era o lugar onde iria atacar agora.
    "E então...o que faço?". Já ajudara Robb a vençer batalhas em terra e lutara na maioria, mas nunca tivera tão poucos recursos. Conquistar Castelobelo não era uma opção. Por isso escolhera aportar em uma pequena ilha ao extremo norte da Ilha Leal, tomando cuidado para que outros navios não vissem seu pequeno grupo.
    - Não parece um lugar ruim. - Fryda disse após desembarcarem na praia ao pôr do sol.
Dagmer Boca-Rachada se aproximara deles,  junto com um outro capitão, o William Pyke.
    - Então, qual é o próximo passo, Príncipe?  - Dagmer perguntara respeitosamente.
    - Vamos aportar por aqui esta noite. Precisamos planejar nossa estratégia.  - Bryon disse a eles, que se retiraram e foram para seus próprios navios para comunicar às tripulações.
Comparado às Ilhas de Ferro, a Ilha Leal e adjacentes eram quase paradisíacas. O terreno era um tanto rochoso, mas também haviam praias e colinas verdes, além de, pelo que Bryon estudara, haverem algumas minas de ouro no interior. Era um lugar interessante para um assalto.  A questão era: como? Muitas maneiras diferentes surgiam em sua cabeça enquanto esperava a presença dos capitães. Muitas pareciam certeiras até um detalhe ser considerado, outras eram tolas e facilmente descartáveis. Havia outras, também, que poderiam funcionar, mas que Bryon nunca iria querer usar. Porquê? O Greyjoy nunca fora do tipo que pensava em honra o tempo todo, mas certas opções pareciam simplesmente erradas.
   - Parece tenso, Bryon. - Fryda, que ainda estava ao seu lado, dissera. - Não devia se extressar tanto.
    - Fryda, -Bryon falou - se eu não tiver um desempenho minimamente bom nesta misso, meu pai terá todos os argumentos para cancelar a invasão às Terras Ocidentais, com a desculpa de ser "inviável".
    - Se é tão importante, então escolha o que for mais perto de uma vitória. - ela disse - Não importa o que seja.
    - Não acho isso tão simples. Agora acho melhor você ir. Os capitães já irão chegar.

Para saqueadores à dias de distância de casa, eles demoraram demais.
Reuniram-se no Sem-nome Bryon e os capitães de cada dracar. De um lado estava o Boca-Rachado, com seu  semblante confiante de sempre, enquanto o outro, Willian Pyke, representava melhor o pessimismo das três tripulações. Botley era um homem de estatura e portes medianos, com cabelo castanho e pequenas cicatrizes no rosto.
Acho que tenho que iniciar essa reunião. Bryon por vezes vira lorde Stark iniciar conselhos com lordes em tempos de paz, e vira Robb fazer isso em prática na guerra, mas mesmo assim não tinha ideia de onde começar. Ninguém falava, o barulho do mar próximo e do casco do dracar rangendo eram as únicas coisas a serem ouvidas.
Decidiu dizer algo.
   - Então, - Bryon declarou - Alguma sugestão sobre qual será nosso próximo passo?
O capitão Dagmer foi o primeiro a falar.
   - Príncipe Bryon, não vou mentir. Sua Graça nos deixou numa situação complicada. Porém, se formos atacar, melhor atacarmos à noite, quando não esperam.
   - Fale por você, Dagmer. - Willian Pyke disse - O máximo que deveríamos fazer seria dar um susto em uma vila de pescadores e voltar p'ras ilhas. Sejamos sinceros, o garoto não tem nenhuma experiência naval. Foi criado longe demais do mar.
   - Está insinuando em desertar, Pyke? -Dagmer disse, se irritando.
   - Estou apenas dizendo o que é óbvio. - Willian se levantou - o garoto não saberia nos liderar.
Os dois nascidos de ferro começaram uma discussão barulhenta e
    O que faço? Várias alternativas apareciam e desapareciam da mente do rapaz. Bryon geralmente não tinha dificuldade em fazer planos como esse, mas a situação de desespero atrapalhava seus pensamentos.
Então lembrou-se do sonho que tivera. Quando vira os caranguejos prateados a andar sobre as rochas.
   Será que....
   - Capitães. - disse Bryon, tentando chamar a atenção de seus capitães, sem sucesso - SENHORES CAPITÃES!!! - gritou.
Dessa vez Dagmer e William finalmente sentaram-se e pararam de falar.
   - O que há? - Pyke perguntou.
   - Enquanto discutiam, pensei em um plano.
Bryon pausou por um instante, enquanto via Dagmer olhar orgulhoso e William apenas mantinha-se cético.
   - Que ótimo! Não disse que o garoto era bom?! - Boca-Rachada exclamara - Agora conte-nos, príncipe!
   - Apenas fale. - Pyke disse.
   - A questão é...- Bryon disse, ainda exitando -acho que não será do agrado de vocês.
    O bom humor de Dagmer Boca-Rachada baixara no instante que Bryon falara aquela frase.
     - Não estou surpreso. - disse o Pyke.
     - Mas como assim? - Dagmer questionou. - Se há uma chance, nós o seguiremos!
     - Se assim fala...- Bryon falou - o plano é esse...

Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo Onde histórias criam vida. Descubra agora