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Bryon acabara de fechar os olhos para adormecer,depois de mais um dia brincando com os dois lobos selvagens Rickon e Cão Felpudo. Aparentemente a ausência da mãe tornava o menino mais rebelde que o normal e a presença de Cão Felpudo não ajudara muito.
Será que eu deveria ter ido com ela? , Bryon se perguntava. Fazia tempo que a notícia do atentado contra o rei chegara a Winterfell, mas o que realmente impactara os moradores de Winterfell fora o ferimento de Bran. Segundo a carta, Bran tivera seus globos oculares cortados pela adaga de uma assassina enviada para matar o rei. O que restara dos olhos do garoto fora removido pelo Grande Meistre Pycelle, pois já não teria mais uso. Lady Catelyn partira quase que imediatamente, deixando Robb no comando do castelo. E Rickon sem comando algum.
Espantando os pensamentos, Bryon pos-se a relaxar. Nunca tivera um sono fácil, sempre tendo que esperar o sono chegar.

Estava agora em um lugar escuro, mais escuro que qualquer outro que tenha visto, tornando impossível para Bryon ver qualquer coisa. Também era frio,não como o frio de gelo do Norte, onde parecia que tudo iria congelar, mas como se o sol nunca tivesse tocado aquele lugar. Sentiu a respiração densa. Abriu a boca e, para sua surpresa, um gosto familiar veio à sua boca.
Estou no mar, pensou.

"É sempre verão debaixo do mar"
"Eu sei, Eu sei. Ei,ei,ei"
"O rei se afoga em carmesim"
"Eu sei, eu sei, ei, ei, ei!"
"Ali em cima, sopram uma vez"
"No mar os monstros vêm, os meus."

Ao ouvir aquela estranha canção, Bryon começou a nadar, seguindo a melodia. Enquanto nadava, notou uma luz mais a frente indo em sua direção. A medida que se aproximava dela, Bryon via que não era apenas uma luz, mas o peixe mais assustador que já vira.

"Embaixo do mar peixes dourados fingem ser pretos. Eu sei, eu sei, ei, ei,ei!"

Não era o maior que ele já olhara na vida, mas o animal compensava o tamanho com uma aparência assustadora. Seus dentes afiados mal cabiam em sua grande boca e a luz que Bryon vira estava pendurada por uma longa antena na cabeça do peixe, revelando seus escuros e vazios olhos. Outras criaturas surgiam brilhando, algumas pareciam ser peixes, outras assemelhavam-se mais a águas vivas, outros ele não conseguia identificar. A canção, que continuava em seus ouvidos, tornava o lugar ainda mais assustador.
Mergulhara mas fundo, seguindo a voz que cantava. A água parecia ficar mais quente, e o lugar mais escuro, até que uma nova luz surgiu, porém esta era diferente, mais parecida com fogo. Seus pés tocaram em um leito arenoso ao mesmo tempo que ele se aproximava da fagulha.
A luz que vira era uma pequena tocha, cuja chama continuamente mudava de cor. Como se isso já não fosse bizarro, aquele que a portava vestia roupas estranhas, em uma combinação de preto e dourado cheia de adereços exagerados, além de um capacete com chifres de veado, estes tendo guizos pendurados nas pontas, que flutuavam na água.

Debaixo do mar o bobo e o príncipe apertam as mãos. Eu sei, eu sei, ei, ei, ei!

O bobo estendera a mão para Bryon, que a segurou. Mais próximo do estranho, Bryon pode ver mais detalhadamente o estranho. A face do bobo era por completo tatuada em  verde e vermelho. Lembrava-se de ter lido livros sobre as Cidades Livres, onde havia uma tradição de tatuar os escravos, mostrando seu lugar. Havia algo de sinistro no olhar daquele ente, como se ele conspirasse algo contra todos. Bryon tentou falar, mas apenas bolhas saíram de sua boca.

"Lá encima os lordes mandam"
"Aqui no mar os bobos cantam"

O bobo cantara com o mesmo tom quase infantil de sempre. Tendo ouvido isso, Bryon decidiu tentar de novo.

"E quem és tu, ó bobo do mar, que, como baleia, fica a cantar?"

O bobo, então, respondeu:

"A cara escrava, Cara-Malhada."

Bryon deu uma olhada no lugar ao seu redor. Sob a luz ds tocha , era possível ver bem as grandes colunas de pedra, que se erguiam altas como a torre quebrada de Winterfell, e das quais parecia sair fumaça. No chão,  muitas plantas estranhas brancas e vermelhas se espalhavam. Novamente o bobo começara a cantar.

"Seu tio vem atrás, meu lorde. Atrás, meu lorde! Pra te pegar"
"Cara-Malhada virá atrás, meu lorde. Atrás, meu lorde! Pra afundar"

Com essa última canção, Bryon sentiu seu corpo ser puxado para cima, como um peixe fisgado por uma vara. Fechou os olhos ao ver a claridade da superfície. 
Abrindo os olho, Bryon se viu novamente em seus aposentos. A cama de seu irmão estava vazia e arrumada. Olhou pela janela e notou que dormira demais, pois o Sol já subira muito além do horizonte. Também notara um estranho agito no castelo, do tipo que não via desde que a chegada do rei se aproximava. Vestiu-se rapidamente e correu pelos corredores, procurando por Robb.
-Olha quem finalmente acordou.-disse Theon, que aparecera ao seu lado- já estava começando a pensar que tinha me tornado o único Greyjoy daqui. Quis te obrigar a acordar, Robb me impediu.
-O que ouve?-Bryon perguntou.
-Robb recebeu uma carta- Theon explicara- Lorde Stark está preso em Porto Real, acusado de traição.
-O que?-Bryon disse, incrédulo- Por que o rei Robert faria isso? Lorde Stark nunca o trairia.
-O rei Robert morreu. Joffrey agora é rei.
-Joffrey? Eu me lembro dele ser irritante, mas não imaginava que ele pudesse fazer isso.
-Pois é, irmão.-Theon falou e logo depois sorriu- Parece que as coisas vão ficar bastante interessantes.
Bryon começou a seguir seu irmão. Aquelas notícias, uma em especial, fizeram-no se lembrar de uma parte do sonho.
-O rei se afoga em carmesim. Eu sei, eu sei.-Bryon sussurrou, imitando Cara-Malhada.

Nascido de Ferro: uma história de gelo e fogo Onde histórias criam vida. Descubra agora