Celestine, Arcania.
Aproveitei que não havia mais ninguém colhendo flores para tocar a minha flauta. Fiquei em pé e dancei com o som da minha música sob a vegetação que fazia cócegas na minha canela. Logo Pan se libertou do instrumento, mas em vez de correr pelo campo deserto, ele permaneceu no mesmo lugar. Sentei-me, por fim, e fiquei admirando seu pelo fofo e branco a contrastar com a mistura de verde e azul das plantas e quase não prestei atenção no que dizia. Ele precisou me cutucar com seu chifre para que lhe desse atenção.
– O quê? – Perguntei.
– Eu estou com medo... – Pan dizia.
– Medo do quê?
– Do que pode acontecer...
– Do que você está falando, tem alguma coisa a ver com o Hélio?
Ele sacudiu a cabeça com vigor e começou a soltar um grunhido baixinho, indicando que alguém estava vindo. Era a minha mãe.
– Celene, com quem estava falando? – Ela parecia brava.
– Com ninguém!
– Não vai me dizer que era aquele seu amigo imaginário de novo? – Ela começou a tomar as flores da minha mão com veemência e enfiar no seu cesto. – Você pode tratar de parar com isso! É maluquice da sua cabeça! Se continuar assim, não vou deixar você seguir os passos do seu irmão!
– Não, mãe! – Eu reclamei. – Eu estava falando sozinha!
– E você acha que a Academia para Jovens Feiticeiros de Néfato aceita gente que fala sozinha? O Hélio teve que estudar muito e mostrar que estava apto para seguir os estudos da magia. Para se tornar uma feiticeira, você precisa mostrar que tem capacidade. Imagina como seria se eles deixassem gente que vê coisas e conversa sozinho praticar magia? Arcania seria um caos!
– O Hélio também via o Pan... – eu tentei enfrentá-la, mas rapidamente me arrependi.
– Escuta, mocinha. Quando eu peguei vocês para criar, me prometeram que parariam com essa palhaçada! – Ela puxou a gola do meu vestido, apertando a minha garganta. – Então, você nunca mais diga isso! O seu irmão passou nos testes e está muito bem em Néfato, você não ouse complicar as coisas para ele!
Ela me lançou um último olhar de ameaça e soltou meu vestido, fazendo-me tossir ao voltar a respirar.
– Agora anda, que o ritual já vai começar e não quero chegar atrasada para que fiquem olhando para a gente mais do que o normal! E esconda essas suas orelhas enormes!
Soltei algumas mechas do meu cabelo para cobri-la, recolhi as últimas flores rapidamente e corri para alcançá-la no caminho até a Alta Torre de Celestine. Era o dia de saudar o rei e a rainha de Arcania, por isso escolhíamos as flores mais bonitas do campo e oferecíamos aos deuses, pela saúde dos nossos monarcas. Apesar de termos que subir toda aquela escadaria sem fim, no final, tínhamos uma apresentação dos Celestiais. Não que eu realmente os considerasse ter algum poder divino, como alegavam, mas eles usavam uns truques legais que provavelmente aprenderam na Academia para nos impressionar.
Ao longo das escadas, fui passando as flores para as pessoas atrás de mim e percebia que alguns deles realmente cochichavam entre si, provavelmente por causa da minha aparência. Puxei mais mexas do meu cabelo para tampar mais as orelhas, mas eu sabia que não era só disso que eles falavam. Era por causa do meu cabelo extremamente branco contrastando com a minha pele negra. Eu chamava muita atenção no meio deles. Antes do meu irmão ir embora, eu não ligava tanto, porque ele sempre dizia que nós éramos especiais, apesar de ele ser totalmente diferente de mim. Mas agora, aqui sozinha, eu me sentia mal... Logo meus pensamentos foram dispersos, pois todos começaram a entoar:
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Jornada Em Contos
Ficción GeneralOlá leitor, Esse é livro do projeto Jornada Em Contos. Serão histórias que se passaram dentro de uma das cidades dos reinos de Arcania e Galtero, contos independentes e sem ligação direta com a organização da maratona. #JornadaMLV (para saber sobre...