Coração do Povo

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Sombra-do-Corvo, Galtero.


Parte 1

Em algum lugar do reino...

O queridinho do castelo perambulava pelos jardins quando Grifim, conselheiro real, corria aos berros em sua direção, um sorriso lhe brotou no rosto e por um minuto lembrou-se de que quando mais novo, essa cena era cotidiana e sempre se seguia a sua última travessura.

– Leon, onde se metestes? Tenho o procurado há horas.

– Se tivesses mandado alguém à ala das criadas, teria poupado todo esse trabalho.

Grifim, em sua melhor cara de desdém, assinalou que deixasse para depois.

– Particularmente, nunca entendi o que minha senhora viu em vocês, pestes. Mas isso não importa, o rei o espera na sala do trono. E eu nem quero saber o que você fez dessa vez.

– Temo decepcioná-lo, Grifim, mas nos últimos meses fui um santo, meus amigos, inclusive, cogitam me comprar uma capela.

– Deixe de enrolar e ande logo.

Grifim era um velhinho ranzinza de cinquenta e oito anos que aparentava ter uns cem, em parte culpa nossa, que o infernizamos por anos. Caminhei em direção ao meu destino, enquanto o mesmo me seguia nos calcanhares a murmurar.

– Meu Lorde...

– Leon, meu filho, chegue mais perto.

Continuei caminhando até parar frente ao trono. Abri meu melhor sorriso.

– Ouvi boatos que mandou me chamar.

– Sim. Tenho uma missão para você, rapaz. Bem há alguns anos estive em Sombra-do-Corvo e deixei algo lá que preciso de volta com urgência. E todos conhecemos seu talento.

Quando criança, era reconhecido por sempre encontrar coisas, desde os doces que a cozinheira escondia, ao broche preferido da rainha. Leo, como o chamavam, era pura simpatia, curiosidade e astúcia... Já como soldado, era mestre em encontrar falhas no inimigo, além de ter uma rota de fuga pronta. Mas seu maior talento era encontrar coisas.

– E o senhor quer que eu vá buscar.

– Bem você precisará procurar primeiro, veja bem, faz mais de vinte anos e não sei se a mulher que estava em posse do que quero ainda esta viva.

– Vinte anos atrás? Mamãe sabe que o senhor teve um caso?

– Sim, filho. Ela sabe.

– E o que essa mulher tem que o senhor queira agora, tantos anos depois?

– Se os boatos forem verídicos, ela ficou com algo indispensável à coroa.

– Não vai me contar?

– Prefiro que seja surpresa. E, além disso, quanto menos souber sobre o assunto, mais seguro estará.

– Devo levar quantos guardas comigo? E quando devo partir? Nunca liderei um missão, pai.

– Você irá partir amanhã de madrugada e de preferência sozinho. E quanto a missão, não há ninguém a quem eu confiaria o futuro do meu reino além de você.

– Me sinto honrado pela sua confiança. Mas não espere muito de mim não.

O rei levantou-se, caminhou em minha direção e me abraçou.

– Boa sorte, filho. 


Dispensar o encontro da noite foi fácil, preparar o cavalo só lhe custou uma ordem, suprimentos foram selecionados por um Grifim saltitante, o que pareceu mais estranho do que ridículo. Ficar longe da rota de Leah foi quase milagroso. Mas em algum momento teria que me despedir da minha mãe.

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