Capítulo 2

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Lauren

São Francisco

Acordei com o som de passos do outro lado da porta, muitos passos, pelo menos seis pessoas estavam caminhando pela casa, um mau pressentimento me invadiu, o que será que o meu pai aprontou dessa vez? Algo me dizia que era diferente do normal, pior, de alguma forma.

Levantei e fui abrir a porta, pronta para enfrentar o problema, mas era pior do que eu imaginava, infinitamente pior.

Quando abri a porta dei de cara com homens gigantescos que mais pareciam dinossauros que sobreviveram ao meteoro, eles não notaram a minha presença de inicio já que estavam ocupados jogando os móveis pela porta da frente.

Se Deus estiver me ouvindo eu só peço que não seja o que parece.

- O que vocês estão fazendo na minha casa?

Um deles parou e eu o reconheci vagamente de um dos bares onde eu já tinha ido juntar meu pai depois de uma noite de bebedeira e jogos. Ele me olhou e inclinou a cabeça, me reconhecendo também, mas parecendo surpreso por eu estar ali, engraçado já que ele estava na minha casa. Com um sorriso debochado no rosto ele me respondeu.

- Essa casa não é mais sua, docinho.

Tudo veio na minha cabeça instantaneamente, os brutamontes do bar, do bar com jogos e apostas, os moveis sendo jogados pela porta, como num despejo, em uma manhã de sexta-feira, logo após meu pai ter passado a noite fora, quinta-feira tinha a noite com as apostas mais absurdas, mais altas, perigosas pra quem não sabe o que está fazendo e lucrativas pra quem sabe se aproveitar do primeiro tipo.

Meu pai tinha apostado a casa, e ele tinha perdido.

Eu sempre fui uma pessoa calma, é assim que eu resolvo todas as merdas que o meu pai faz, foram tantas nos últimos nove anos, eu me lembro de todas, todas as vezes que ele desapareceu e eu tive que ir atrás e encontra-lo jogado em uma vala, tão bêbado que não conseguia lembrar o próprio nome, todas as vezes que eu tive que confrontar homens com o dobro do meu tamanho e cara de presidiário, todas as vezes que eu acordei e descobri que outra coisa tinha sido perdida em algum jogo de dados. Foi com calma que eu sempre resolvi tudo, mas hoje, a fúria tomou o lugar da calma, hoje eu não poderia resolver o problema, pela primeira vez não tinha solução para o problema que o meu pai criou, e também seria a última.

Me virei e corri para dentro do quarto, fechei a porta e as sete trancas que havia nela, peguei a mala com as minhas roupas que eu deixava sempre pronta no armário caso algo assim acontecesse e joguei pela janela, peguei o celular e liguei para o Chad enquanto jogava coisas importantes em cima da cama, ele atendeu no segundo toque, como sempre.

- Lau, o que aconteceu?

De alguma forma ele sempre sabia, eu nunca podia esconder nada dele, uma simples respiração ou uma palavra e ele sabia que tinha alguma coisa acontecendo, as vezes apenas sabia, e aparecia do nada, ele era meu melhor amigo, e a única coisa de que eu tinha certeza na vida.

- Chad, vem pra cá, agora. Estaciona nos fundos.

Ele desligou, e eu sabia que estava vindo, provavelmente mais rápido do que podia.

Joguei o telefone na cama junto com o resto, ao julgar pelos estalos da porta logo ela estaria quebrada, amarrei a coberta em volta dos meus pertences e joguei pela janela junto com a mala.

Os estalos da porta aumentaram conforme o dinossauro sobrevivente se jogava contra ela, olhei para o mural na parede, com algumas fotos de antes da minha mãe ir embora pra Nova York, quando eu tinha uma família, eu ela e o meu pai sorriamos nas fotos, lembranças de uma época que nunca voltaria, tinha uma foto minha com o Chad, de quando éramos crianças, e uma recriação dela atual que tiramos, as arranquei do mural, deixando as memórias de família ali, então a porta se escancarou e eu fui carregada.

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