Sifiel
Ele nunca se preocupou em saber exatamente que lugar era esse
Sentado naquele mesmo lugar onde eu encontrei Elize assim que ela caiu, eu observo, tudo à minha volta, e a ela, que está sentada em um café o qual abriu onde antes era apenas um espaço vazio para além da rua, as vezes vem aqui e faz o mesmo que eu, apenas pensa, e se permite lembrar do quão mais ela já foi. Mas eu sempre vou para o alto, para a grama entre árvores onde sou invisível e ela sempre vai exatamente para onde tocou pela primeira vez a terra, e onde eu sempre a vejo e ela não me vê. Às vezes penso em descer e ir me sentar junto dela, mas sei que isso estragaria tudo, claro que tudo já é estragado entre nós, e mesmo assim uma ligação irreversível além da amizade improvável criada entre nós nos mantem sempre juntos, pelos últimos milênios mais até do que eu e Luci.
De óculos escuros, o mesmo vestido branco esvoaçante de sempre e a jaqueta curta de couro vejo ela julgar os mortais, pensar o que deveria ser concertado neles, o que ela poderia, mas não vai, fazer para melhorar tudo, somos iguais, a única diferença é que eu espero e quero o mal deles, malditos sejam os reis do livre arbítrio, se eu fosse Deus o tiraria deles, exatamente por isso que eu sou um demônio devo concluir.
Mas falando em demônio, parece que o próprio diabo me chama enquanto vejo Elize realmente interferir na desgraça de uma mortal, um homem de picape, inocente e angelical (claro, sem ironias aqui), homem também sem predileção alguma por crianças, tenta dar carona a uma menina de 11 anos, que infelizmente ia aceitar se o seu anjo da guarda não estivesse esperando esse homem aparecer, ela levanta calmamente e puxa a menina pelo braço e caminha ao lado dela, conversando, provavelmente dizendo como a suavidade de um anjo todos os horrores que ela teria passado ao entrar no carro, esse não é o método mais angelical possível de fazer a menina entender, mas afinal ela não é mais um anjo.
Agora que o show acabou, desço para ver o meu melhor amigo, que aparentemente me chama para conversar, ultimamente ele não tem subido muito ao mundo mortal, com ultimamente eu quero dizer que há uns 500 anos ele não sobe, isso não quer dizer que ele não saiba como tudo está acontecendo, afinal, ele está bem por dentro da moda, todo de preto como sempre, as vezes quero perguntar se ele não acha isso muito manjado, mas provavelmente passaríamos muito tempo discutindo por conta disso então eu simplesmente...
- Luci, será que o rosa não cairia bem as vezes? Satanás deveria se vestir com mais cores!
...Falo o que me vem a cabeça, porque adoro passar muito tempo discutindo com ele, mas surpreendentemente e infelizmente ele me ignora.
- Sinto sua falta Sifiel, anda muito ocupado? – a sua voz é acida, solto uma risada.
- Ah meu querido, o ciúme realmente provém do diabo não é mesmo. – Ele me olha e então começa a caminhar, até chegarmos no confessionário, é também tem um no inferno, só que não é para o padre que eles falam. – Foi para a diversão que me chamou então?
- A não ser que não seja mais do seu agrado Sif...
- Ah não, como não amar a auto piedade dos humanos? Todos esses religiosos falsos moralistas condenados a eternidade pedindo perdão ao diabo...
Alguns dias depois
Observo a loja de Sabazio e penso sobre entrar ou não, claro que o velho bruxo pôs uma barreira mágica para impedir quem ele não quer que entre no seu refugio disfarçado, mas eu não sei de que tipo e nem se ela seria capaz de realmente me impedir, não seria a primeira vez que eu frustraria um velho que enfeitiça portas. A garota que trabalha com ele saiu há algum tempo, se eu quisesse entrar e descobrir o que ele quer comigo seria agora o momento, mas sinto que não devo ainda, vejo um homem que mais parece... é, o Kurt Cobain? De bandana e jaqueta de couro vermelha, é bem old school garotão, para quem deve ter seus 40 anos e um filho de 18 ele estava bem, mas parecia ser um usuário, provavelmente era, que decepção o papai hein, e para fechar com chave de ouro, ele entra na loja, minha risada ecoa pela rua, Sabazio até onde você vai com o seu público? Será que ele faz reabilitação para demônios que matam criancinhas também, vou ter que ir perguntar.
*** gente, me desculpem por ter sumido, to me recuperando do hiato criativo e espero que não tenham me (chama negra na vdd) esquecido e abandonado***

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Chama Negra
General Fiction- Ganhador do 2º lugar na categoria LGBT do concurso Escritores Fantásticos - Um demônio, que não é qualquer um. Uma garotinha inocente, que cresceu sendo possuída por um "ser maligno". Uma garota com o pai alcoólatra. Todos sabem que a vida não é f...