Vinte e quatro

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Não shippem mais, pessoal. É serio. Eu também cheguei a shippar um pouco, mas não vai rolar. 😅😅



Bia

Estou cansada de todos se metendo em minha vida como se fossem donos absolutos da razão. Será que ninguém compreende que não é isso o que quero agora para a minha vida? O corpo é meu, então, eu deveria ter o livre arbítrio para fazer o que quisesse com ele.

Amanhã será dia de minha primeira consulta com um obstetra. Tentei adiar o máximo possível, mas hoje de manhã, papai comunicou que tinha marcado com o médico, não dando nenhuma brecha para negativas. Seu olhar mostrou que será capaz de me levar arrastada se eu ousar recusar ir. Mamãe não mudou seus cuidados, no entanto, seus olhares são de decepções, não por causa da gravidez, e sim por minha negativa em querer um bebê que não deveria existir.

Não nego que já pensei em procurar uma clínica clandestina para dar fim a tudo isso, mas não tenho coragem por saber dos riscos. Centenas de mulheres morrem todos os anos por causa desses procedimentos violentos. Posso não querer essa gravidez, todavia, não sou uma assassina para tirar a vida de um ser inocente.

Será que sou um monstro por renegar esse bebê?

A confusão na minha cabeça é tanta que nem eu sei de mais nada. Só sei que não quero carregar nas costas um crime, assim como não quero ser responsável por um filho que terei de me preocupar até o último minuto de minha vida.

Sebastian disse que ficará com a criança e a levará para ser criada na Grécia com sua família, que não terei de me preocupar com nada se esse for realmente o meu desejo. Ele só me pediu para não interromper a gravidez, para que eu reflita bem antes de fazer algo que venha me arrepender. Tive tanta raiva quando o encontrei em minha casa. Ele foi homem o bastante para assumir sua responsabilidade e ainda por cima ganhar a confiança de meus pais, enquanto eu a perdi por conta de mentiras e omissões.

Ao passar em frente de uma confeitaria, decido entrar ao sentir o cheiro de pão recém-saído do forno. O recinto bem iluminado tem poucas mesas quadradas cobertas por um plástico rosa, o piso branco fazendo um contraste harmonioso com as paredes lilases. Aproximo-me do balcão e minha boca saliva ao ver uma variedade de pães recheados de diferentes tipos de doces e com coberturas apetitosas. Peço dez unidades de diferentes guloseimas e uma xícara de chocolate quente.

Sento em uma mesa vazia e coloco a mochila na cadeira ao lado. Foi uma boa ideia fugir das duas últimas aulas da universidade para esfriar um pouco a mente. Até porque, hoje, não consegui entender nada do que os professores falaram. Então, ficar na sala de aula não me ajudaria em nada.

"Que bela surpresa!" Respiro fundo ao ver o moreno sentar na cadeira de frente a minha. Ele ostenta o sorriso idiota de sempre e os olhos negros brilham. "Está linda como sempre. Um pouco abatida, mas linda."

"Essa mesa está ocupada. Tem outras vazias por aí." Digo curta e grossa, nenhum pouco interessada em ter uma companhia insuportável para torrar o resto de minha pouca paciência.

"Odeio comer sozinho e não seja rabugenta, Bia. O que custa dividir a mesa comigo?"

"Só me deixe em paz!" Resmungo e agradeço quando a atendente traz meu pedido e mais uma vez minha boca enche d'água.

"Aqui está sua torta de limão e o café amargo de sempre." A moça flerta com Simon, que sorri e pisca os olhos, fazendo-a suspirar como uma idiota encantada.

Homens não valem nada mesmo.

O doce derrete em minha boca e não consigo segurar o gemido, que escapa de meus lábios. Ouço o riso idiota de Simon, mas o ignoro, concentrando-me em meu lanche super calórico e capaz de causar diabetes se consumido com muita frequência, o que não é o meu caso, já que cuido muito bem da minha dieta e de tudo o que consumo.

Estou no sexto doce, um com recheio de amendoim, quando sinto um gosto horrível e meu estômago embrulha. Cubro a boca com a mão ao me levantar e corro para um corredor que contém uma placa indicando ter um banheiro. Entro no feminino e me curvo sobre a pia. Tudo o que comi é despejado de uma vez e o líquido amargo me deixa ainda mais enjoada. Abro a torneira e deixo a água levar tudo a sujeira, enquanto encosto a testa no mármore frio. Respiro fundo várias vezes até me sentir um pouco melhor. Lavo a boca e o rosto e ao me observar no espelho, deparo-me com uma palidez e olheiras conhecidas.

Malditos enjoos!

Quando volto para a mesa, encontro-a sem nenhuma comida. Simon me olha especulativo quando me sento e empurra uma garrafinha de água mineral. Bebo metade do líquido e uma súbita vontade de chorar me atinge em cheio. Abaixo a cabeça, escondendo meu rosto com os cabelos enquanto esfrego os olhos, impedindo as lágrimas de caírem.

"Está tudo bem, Bia. Uma gravidez não é o fim do mundo." Simon sussurra abaixado ao meu lado e segura uma de minhas mãos.

"Eu não quero esse bebê." Soluço finalmente deixando as lágrimas molharem minha face. "Eu me apaixonei por um homem que nunca corresponderá aos meus sentimentos e seu único interesse é na saúde desse bebê que eu não desejo."

"Precisa se acalmar. Esse nervosismo pode fazer mal a você e ao bebê." Olho para Simon e o encontro com um sorriso gentil e os olhos sérios. "Tem todo o direito de estar confusa. São muitas mudanças em pouco tempo e seus hormônios estão entrando em guerra. Porém, o bebê não tem culpa e tenho certeza que bem aí no fundo do seu coração, você já o ama. Só falta descobrir isso."

"Eu não amo esse bebê." Afirmo sem muita convicção quando a mão de Simon toca minha barriga plana sobre a blusa. Ele é a primeira pessoa a fazer isso.

"Já iniciou o pré-natal?" Ele pergunta se pondo de pé e dessa vez senta na cadeira ao meu lado.

Pego uns guardanapos de papel e passo em meu rosto para enxugar os rastros de lágrimas.

"Amanhã é minha primeira consulta." Suspiro desanimada.

"Quando escutar o coração dele ou dela batendo forte..." Simon abre um grande sorriso. "Ficará derretida e reconhecerá o amor que sente por seu bebê. Foi assim com a minha irmã. Ela não queria de forma alguma ser mãe e foi até uma clínica clandestina para fazer um aborto. Foi quando ela fez a primeira ultrassom, viu um borrão na tela e escutou o som de um coração batendo forte. Naquela hora, ela desistiu do aborto e hoje é completamente apaixonada por minha sobrinha. Vivian é a alegria de nossa família, a razão da existência da minha irmã."

Abaixo a cabeça envergonhada porque eu realmente pensei várias vezes em fazer um aborto. Só não o fiz por falta de coragem. Talvez o melhor seja ter essa criança e entregá-la para Sebastian. Sei que a criará muito bem porque ele já ama esse bebê que ainda nem nasceu. Mas e meus pais? Se eu afastá-los do neto, eles não me perdoarão.

"Relaxe, Bia. Ainda terá alguns meses para por essa cabecinha no lugar. Sei que fará a melhor escolha." Simon cobre minha mão com a sua e tento retribuir seu sorriso. "Seremos bons amigos, Bia e tenho certeza que vai implorar para que eu seja padrinho do seu bebê."

Dessa vez sorrio verdadeira porque algo me diz que ganhei um novo bom amigo.

☆☆

Para quem tem curiosidade, esse é o Simon.

Para quem tem curiosidade, esse é o Simon

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