Vinte e seis

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Valentina

Ser voluntária no hospital é uma experiência que tem me ajudado muito a ter uma nova visão de mundo. Eu desenvolvi um forte sentimento de apego por todas aquelas crianças. Elas são absurdamente adoráveis e guerreiras. Quando nos deparamos com situações assim, em que a principal força de motivação, que mantém de pé uma pessoa diagnosticada com câncer e seus familiares, é a fé em Deus, percebemos a fragilidade da vida e como ela pode mudar em um simples piscar de olhos, alterando rotas e traçando novos destinos. Muitas vezes reclamamos de coisas supérfluas, blasfemando contra Deus e o mundo, mas devemos agradecer ao Pai todos os dias por nossa saúde e de nossas famílias.

No final da tarde, despeço-me das crianças e das enfermeiras. Mesmo com um pequeno aperto no peito, sinto-me bem em poder trazer um pouquinho de felicidade para aqueles pequenos grandes guerreiros de sorrisos doces e olhares gentis.

Estou esperando aqui na entrada do hospital. Não demore.》 Isaac me avisa por mensagem e suspiro frustrada porque não dará tempo de ver Jeremy, mesmo que rapidamente. Não nos vemos há três dias por causa dos plantões e seminários que vem participando. Pensei que ele passaria na sala de recreação como normalmente faz quando está trabalhando, mas isso não aconteceu.

"Desculpe." Falo quase batendo no médico ao dobrar o corredor.

"Senhorita Parker." Reconheço-o imediatamente como um dos médicos, que me atendeu na época do acidente. Em seu jaleco branco, vejo o sobrenome Dr. Fernández bordado em um verde claro. "Como tem estado?"

"Muito bem, doutor. Aos poucos, estou voltando com a minha rotina." Apoio a maior parte do peso na única muleta, que agora uso.

Ele sorri e olha para o relógio de ouro e a prancheta que carrega, então, seus olhos negros se voltam para mim. Não sei porque, porém, um frio percorre minha espinha e não me sinto mais confortável em sua presença. Algo nele me diz para ter cautela.

"A senhorita é amiga do doutor Gilbert, não é mesmo?" Ele abre um sorriso de dentes brancos perfeitos. "Jeremy é um dos melhores médicos que conheço e muito querido por todos no hospital." É a minha vez de sorrir e concordar, fazendo o doutor continuar a falar. "Ele tem formado uma ótima parceria com a doutora Julie. Ela é uma jovem cardiologista recém-transferida de Washington."

"Ah, isso é bom." Dou de ombros sem me preocupar com isso. "É bom trabalhar com pessoas competentes."

"Todos estão apostando alto..." O doutor olha para os lados e abaixa o tom de voz quando uma enfermeira passo por nós. "Ainda mais depois de ontem... teve um jantar informal com poucos amigos daqui do trabalho e Jeremy levou a doutora em casa."

Então foi por isso que ele demorou a me ligar ontem? Afasto as dúvidas antes que minha mente fantasiosa invente mil e uma paranoias.

"O senhor gosta de uma fofoca não é?" Digo em tom de brincadeira e o doutor Fernández, me lança um olhar envergonhado.

"Estou parecendo uma velha fofoqueira, desculpe." Ele pede e volta a olhar para a prancheta que segura. "Preciso voltar ao trabalho. Tenha um bom fim de tarde senhorita Parker."

Sigo o meu caminho quando o médico se vai, tentando não pensar muito em suas palavras. Será que ele disse a verdade? E se Jeremy tiver levado uma colega de trabalho em casa, o que tem de ruim nisso?

Passo em frente a lanchonete do hospital e ao olhar rapidamente para dentro, aperto a muleta com força e engulo seco ao ver Jeremy sentado em uma mesa, conversando alegremente com uma loira daquelas dignas de capa de revista. Ela usa um uniforme azul parecido com o dele e gargalha ao mostrar algo no celular.

Série Corações Feridos: O seu lugar é ao meu lado (Vol. 3) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora