Vinte e um

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Bia

Não deveria ter me surpreendido quando o segurança permitiu a minha entrada. Ele já me viu tantas vezes aqui, que deve achar que sou apenas mais uma das inúmeras mulheres que frequentam o apartamento daquele bastardo.

Como se fosse mentira. A minha consciência insiste em me lembrar como uma maldita inimiga a rir da minha desgraça.

Quando as portas do elevador abrem diretamente na cobertura, respiro fundo e aperto a alça da minha bolsa enquanto entro no triplex. Tudo continua igual e em perfeita ordem. As paredes de vidros sem uma única mancha, os sofás brancos imaculados, o piso encerado e a enorme TV - no meio da sala - desligada.

"Olá, menina." Ângela, uma senhora de cabelos brancos e sorriso doce, vem da cozinha enxugando as mãos em um pano de prato. "Que surpresa agradável vê-la outra vez." Seus braços me envolvem em um abraço acolhedor e prendo a respiração quando seu perfume de canela me embrulha o estômago. "Está tão abatida."

"Só um resfriado, mas já estou melhorando." Ela me analisa e forço um sorriso. "Sebastian está?"

"Acabou de subir para o quarto." Angela cruza os braços, ainda me analisando e tenho medo que descubra algo. "Pode subir. Vou terminar de fazer o almoço."

Subo as escadas vagarosamente na tentativa de não deixar o medo me controlar. As palavras duras de Ravena me deram coragem para contar à Sebastian sobre essa criança, que infelizmente carrego.

Bato na porta do quarto e ouço a voz abafada dando permissão para que eu entre. Respiro fundo, solto o ar bem devagar e escondo todo o medo que sinto. Sebastian Petrakos nunca mais verá a garotinha apaixonada e fraca de antes, que fora tão humilhada por causa de sentimentos patéticos e unilaterais.

"Eu já entendi, vó. Juro que vou visitá-la no próximo final de semana." Sebastian franze o cenho ao me ver e se desencosta do parapeito da sacada. "Depois nos falamos, vó. Preciso desligar agora. Também amo a senhora."

Sebastian Petrakos amando alguém além dele mesmo? Duvido. Um ser egoísta como ele é incapaz um sentimento tão nobre.

"O que faz aqui Anna Beatriz?" Os olhos verdes me miram com cinismo e desconfiança. Sebastian guarda o celular no bolso da calça slim fit azul-escuro, que se molda as suas pernas longas e firmes. A blusa social branca com as mangas recolhidas até os cotovelos e os três primeiros botões abertos deixam mais em evidência o corpo forte e cheio de músculos nos lugares certos, assim como a pele levemente bronzeada. Os cabelos claros e cheios na eterna bagunça de sempre, como se ele houvesse passado os dedos inúmeras vezes. "Se veio para me admirar, eu posso lhe dar algumas fotos."

"Você é patético, Sebastian!" Pego de dentro da bolsa o teste de farmácia e estendo a ele, que o pega ainda mais desconfiado.

Seu rosto é como uma tela em branco enquanto ele analisa a comprovação de nossa irresponsabilidade. Aperto com mais firmeza a alça da bolsa e me seguro para não bater o pé no chão, mania insuportável que tenho quando estou nervosa ou ansiosa.

"Você me disse que tomava anticoncepcional." Sua voz é dura e cheia de acusação.

"Eu tomo para controlar as crises de cólicas. Não pense que engravidei pensando em dar o golpe da barriga, pois minha família é tão rica quanto a sua e tenho dinheiro para umas dez vidas." Cruzo os braços e levanto minha cabeça. "Só vim lhe contar porque infelizmente você é o pai dessa co... desse bebê."

"Você ia chamar o bebê de coisa." Sebastian joga o teste no chão e passa a mão nos cabelos. Sua feição é dura e os olhos cheios de raiva, como se ele tivesse o direito de me acusar de algo quando não vale nem o chão de porcelanato em que pisa. "Não pense em fazer mal para esse bebê Anna Beatriz, ou..."

"Você não é ninguém para querer me dar lição de moral! O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta." Sebastian gargalha cruelmente e sinto medo quando seu olhar se torna ainda mais frio e perigoso.

"Nos casaremos neste final de semana." É a minha vez de gargalhar de sua prepotência. Claro, o instinto grego de macho dominador acha que tudo se resolve em casamento exatamente como nos livros de romance. "Estou falando sério Anna Beatriz."

"Meus pais nunca permitirão que eu me case com um sujeito sem caráter como você." Aponto o óbvio e afasto a franja para atrás da minha orelha.

"Você é maior de idade para fazer o que quiser da sua vida sem pedir a permissão dos seus pais." Engulo em seco e abaixo a cabeça quando mais uma de minhas mentiras é jogada em minha cara. "Eu não acredito que você mentiu sobre algo tão importante, Anna Beatriz!"

"Você nunca pediu para ver meus documentos." Rebato na defensiva. Meu corpo sempre foi mais desenvolvido que da grande maioria das garotas da minha idade. Passo facilmente por uma garota de vinte anos, principalmente porque adoro maquiagens e saltos altos. Quando conheci Sebastian em uma boate em que fui com umas colegas de escola, me apaixonei a primeira vista e não medi as consequências quando disse que tinha 20 e não 17 anos.

"Qual a sua idade?" Sebastian se aproxima e segura meu queixo, fazendo-me levantar a cabeça. "Responda-me!"

"17." Sussurro e se não estivéssemos tão perto, era provável que ele não escutasse.

"Você tem ideia que seus pais podem me processar por me envolver com uma menor de idade? Eu tenho 26 anos. Já pensou no escândalo sua inconsequente?" Afasto-me de Sebastian quando percebo que ele está a beira de perder o controle.

"Eu já vou indo. Só vim avisá-lo porque não fiz esse bebê sozinha e para que algum dia não venha me acusar de nunca ter lhe contado sobre ele."

"Não pense que se livrará de mim tão facilmente sua mentirosa." Seu aviso é claramente uma ameaça. Mas não tenho medo de Sebastian, se eu não tenho mais direito a ter paz, então, ele também não terá.

Por sorte, não encontro com Ângela e saio daquele triplex rapidamente. Ao contrário do que pensei, sinto-me até mais leve porque agora, Sebastian também carrega esse grande peso nas costas.





 Ao contrário do que pensei, sinto-me até mais leve porque agora, Sebastian também carrega esse grande peso nas costas

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