Vinte e cinco

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BIA

Será que Sebastian não tinha uma viagem ou reunião inadiável para ir ao invés de estar aqui, sendo alvo de olhares nada discretos dessa médica loira e siliconada? Ao menos, ele parece completamente indiferente ao desejo lascivo dessa vaca sobre saltos. Não é porque ele não é meu, que eu não tenha ciúmes. Tenho de sobras para dar, vender e alugar. Não é daqueles ciúmes doentios, mas corrói por dentro e me faz imaginar mil e uma maneiras de arrancar todos os fios daquele cabelo brilhoso de sebo, que ela carrega naquela cabeça de piranha de esquina.

Ela mede minha pressão, o peso, faz inúmeras perguntas as quais respondo de mau-gosto após receber um olhar de advertência de minha mãe. Depois tenho que vestir uma roupa azul horrível, que não combina em nada com meu tom de pele e me deixa com um aspecto horrendo de doente. Olho-me no espelho do banheiro e me recrimino por não ter ao menos passado uma base para esconder as olheiras e um batom para dar mais cor aos meus lábios. Minhas pobres unhas estão um caos sem esmalte e até consigo enxergar cravos em meu queixo. Estou muito desleixada para quem sempre foi tão vaidosa quanto Elle Woods. Preciso ir urgentemente a um spa para fazer um tratamento completo e me desestressar. Valentina poderia ir comigo, caso não corresse o risco de pegar uma infecção na perna recém-operada. Ravena não suporta essas coisas de patricinhas como ela gosta de chamar. Vou convidar a mamãe para ir comigo. Isso! Vai servir para nos aproximarmos novamente.

Com as energias renovadas, saio do banheiro e deito na maca, cubro com o lençol do quadril para baixo e levanto a bata até abaixo dos meus seios. Meus pais e Sebastian ficam ao meu lado, enquanto a médica - cara de égua - passa um gel frio na minha barriga. Fecho os olhos e tento pensar em qualquer outra coisa para que esse tormento passe logo.

Preciso ler um livro de história que o professor passou e fazer uma resenha para entregar semana que vem. Tenho as 30 questões de Sociologia para responder e entregar depois de amanhã. Ainda necessito escolher o presente de aniversário de minha prima também. Acho que vou comprar um...

TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM...

Parecem os galopes dos cavalos, que o pai de uma colega tem na sua fazenda.

Abro imediatamente os olhos em direção ao monitor e graças ao utrassom em 3D, vejo com nitidez, o pequeno ser dentro de minha barriga. Arfo surpresa ao perceber que ele já está praticamente formado. Ele já tem pernas, braços, cabeça! Oh, Deus! Aquela leve penugem na cabecinha são cabelos? Ele está... chupando um dedo?

TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM... TUM...

O coração dele bate tão forte e as minhas lágrimas descem sem permissão. Não consigo desgrudar os olhos daquela imagem. Agora tudo se torna assustadoramente real e percebo, que se tivesse feito aquilo, ele estaria morto.

Ele é apenas um bebê inocente.

O meu bebê. O meu filho.

"Quando escutar o coração dele ou dela batendo forte, ficará derretida e reconhecerá o amor que sente por seu bebê." Simon tinha razão no final das contas.

Eu amo o meu bebê.

Sinto um aperto em minha mão e desvio os olhos para encontrar Sebastian, que não esconde o deslumbramento ao fitar o nosso bebê. Os olhos verdes brilham e um sorriso de orgulho está em seus lábios naturalmente vermelhos. Nunca o vi assim antes. Tão... naturalmente... feliz e leve.

"O nosso bebê... eu o amo." Sussurro e Sebastian desvia os olhos para mim e passa uma mão em meu rosto. Ele me fita profundamente e por um momento, esqueço tudo ao meu redor e só consigo enxergar o homem, que amo e nunca corresponderá aos meus sentimentos.

Série Corações Feridos: O seu lugar é ao meu lado (Vol. 3) ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora