Harry POV
Eu fitava o teto do meu banheiro me perguntando qual o sentido de tudo aquilo. Eu não via um sentindo justo para que eu continuasse ali, vivo. Minha mente permanecia em uma nevoa, nos últimos tempos era praticamente esse o estado dela, acho que pela quantidade de bebida que eu estava consumindo.
Eu fitava aquele teto branco tentando encontrar um motivo para a minha existência. Não existia razão para ela, mas mesmo assim sempre alguém me impedia de terminar com essa existência patética que eu representava.
No dia em que cheguei próximo a isso fui impedido e obrigado a prometer que não fazia aquilo novamente. Eu não me mataria diretamente, mas faria de tudo para acelerar esse processo. Só não me mataria para não fazer meus pais sentirem a decepção de ter um filho que se suicidou, apenas para não deixa-los mais uma vez tristes por algo que eu fiz, nunca fui o melhor filho, mas não queria ver aqueles que me deram amor sofrer por algo que eu fiz.
Eu havia desistido. De tudo, não apenas de Louis, mas da vida. Tudo desde que eu nasci tinha sido errado, doloroso sofrido. E isso se agravou ao longo dos anos. Agora que aprendi a amar alguém que eu só tive a capacidade de afasta-la. Mas para mim isso fazia sentido.
Minha mãe biológica não conseguiu me amar, meu pai não conseguiu me amar, então quem conseguiria? Eu não me importava mais com isso também. Eu sentia que não teria mais tempo para ficar assim. Eu estava a dois meses vivendo apenas de bebidas, cigarros e cortes. A perda de sangue me faria ficar fraco, junto com a bebida me faria entrar em um estado vegetativo, já o cigarro não tinha um motivo era apenas nos momentos de solidão em que o frio da mansão me atingia.
Solidão, eu deveria ser acostumado a isso, mas não conseguia. Acho que as lembranças de ter alguém me fazia querer voltar a fazer o que fazia desde que assumir essa vida, chorar. Quando eu me sentia só, antigamente, sempre tinha uma mão pequena que segurava a minha, sempre tinha um sorriso reconfortante para tentar me tirar do poço onde eu mesmo queria me jogar. Durante longos anos isso funcionou, mas dessa vez ate essa pessoa eu consegui afastar. Eu entrei em um estado que ate eu queria distancia de mim, eu me prendi na minha dor e queria que ela me consumisse.
Durante algumas semanas experimentei uma sensação diferente, a sensação de ser confortado por outra pessoa, que não fosse da minha família, mesmo que tenha sido apenas uma vez, mas foi perfeito. Ele conseguiu me tocar, me fazer sentir algo que me deixou nas nuvens, eu me senti amado, vivo, foi algo que me fez ver como era ter alguém, como era bom ser amado, mas acabou. Agora não teria jamais esse conforto ou esse carinho, agora eu teria a dor da solidão e o alivio da morte.
Eu merecia. Por tudo o que fiz, por todos que já passaram pelas minhas mãos, por todos aqueles submissos que saíram daqui marcados, machucados e ate deprimidos. Essa era a minha sina meu legado por ser um monstro.
Logo depois de ser salvo por Karina deixei a depressão me atingir e me deixei levar por ela. Quando tentaram me ajudar fiz aquilo que faço de melhor, xinguei, gritei e humilhei ate que essa pessoa desistisse. Ela desistiu assim como todas as outras pessoas.
Eu não me importava com empresa, dinheiro, casa, funcionários, com nada. A única coisa que me fazia querer qualquer uma dessas coisas foi embora, por isso resolvi me entregar de vez ao nada e me deixar morrer.
Eu estava completa e arrasadoramente só.
Sorri para o nada acendendo outro cigarro e o levando a boca. Traguei ele sentindo meus pulmões se encherem daquela fumaça, soltei tentando criar coragem para descer e pegar minha próxima bebida do dia. Resolvi enrolar mais um pouco na banheira, não queria descer agora, a verdade e que nem me mexer eu queria. Queria que a morte me encontrasse e me levasse de vez, talvez assim eu tivesse um final melhor.
Terminei meu cigarro pegando a minha lamina ainda suja de sangue e tentei encontrar uma parte do corpo menos dilacerada, era uma missão difícil, ultimamente eu fazia isso com tanta frequência que algumas partes do meu corpo sagravam com movimentos bruscos eu nem me importava, gostava da sensação de paz que a dor me proporcionava.
Revirei os olhos ao pressionar a lamina no alto do meu abdômen próximo ao m que Max tinha feito. Vi a agua da banheira ficar meio avermelhada e sorri. Era bom saber que essa agonia acabaria logo. Alguns cortes depois me senti satisfeito com a dor causada. Era um alivio ainda ter isso para sentir.
Sai do banho, me olhando no espelho surpreso com a imagem que eu vi. Nossa eu estava um caos. Tive que rir da minha desgraça. A barba estava grande, as olheiras profundas, o corpo mais magro e mais marcado, os olhos foscos e os cabelos cumpridos e mal arrumados me deixavam próximos de um mendigo. Apenas dei de ombros e peguei uma box que estava sobre a minha cama a vesti logo depois coloquei uma camisa qualquer apenas para cobrir aquele m maldito. Desci as escadas correndo passando na frente do meu antigo quarto apenas o olhando por fora, aquele lugar tinha tantas lembranças que me fizeram deixa-lo e ir para o quarto de hospedes, apesar que eu mal dormia, gostava de ficar bebendo a noite.
Larguei meu momento deprimido e corri em direção a adega da minha sala. Olhei as opções escolhendo a primeira que eu vi. O estoque estava acabando o que significava que teria que encomendar mais, merda falar com alguém não estava na lista de coisas que queria fazer.
Subi sentando na varanda e abrindo a garrafa de Vodka e tomando o primeiro gole observando o tempo e a entrada da minha casa, vendo como eles absolveram meu estado.
Lembrei que hoje era aniversario do meu irmão, apenas ignorei esse fato e voltei a beber.
Isso não mudaria nada apenas era mais uma data. Que passaria sem a minha intervenção, Josh não se importaria, ninguém se importaria na verdade.
Afinal quem precisa de um monstro sem coração ao seu lado?
Pov. Louis
Olhei a entrada daquela casa me surpreendendo com o que eu via. A mansão antes muito iluminada e sempre bonita, agora parecia uma casa mal assombrada. Parece que dois meses sem cuidado algum deixou ela acabada. A pintura parecia envelhecida e suja, além de ter algumas pichações por ali, a grama alta, a fonte cheia de lodo e as luzes completamente apagadas. O portão estava aberto, sem ser trancado. O que me surpreendeu também. Aquela casa parecia ter herdado a agonia do dono, parecia ter absorvido a dor e o desespero dele.
Olhei em volta vendo os carros cobertos na garagem, a piscina também estava suja e por um momento pensei que Karina poderia estar errada, não parecia ter alguém morando ali há algum tempo.
Parei diante da porta ouvindo o silencio incomodo do lugar. Eu não conseguia pensar no que diria ou no que faria, eu não estava pronto para a cena que assistiria, mas sabia que era o necessário. Talvez fosse melhor esperar, mas eu não conseguia, meu coração gritava para que eu entrasse lá e fizesse o possível para vê-lo feliz e bem.
E é o que eu faria, não importando o que ele faria comigo.