2. Permissão

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A verdade é que...

A cabeça planeja, projeta e desenvolve todo um caminho adiante, mas o tempo e o universo entregam o que tem que ser vivido, não é mesmo?

Já ouviu falar que o tempo é traiçoeiro? Ele não falha, não espera e muito menos perdoa. Nunca sabemos o que nós aguarda  ao virar à esquina, e muito menos de antemão, a favor ou contra quem ele conspira. Somente o hoje, ou melhor. Somente o agora nos pertence! Amanhã pode ser tarde demais, e teremos apenas arrependimentos para guardar em nossas lembranças! E foi pensando nesse tempo talvez perdido e sem volta, que o envolvimento tomou forma, chegou meio sem intenção, entre um olhar e outro, em algumas conversas aleatórias no barzinho repleto por amigos, assim de mansinho como quem não quer nada, se fez sonho. Se fez presente. Se fez vida.

Não é possível prever ou controlar o seu querer, não existe uma máquina industrializada que transforme o sentir em recusa. Se deixar guiar pelo coração é algo incontrolável, inevitável e imprevisível. Pode parecer clichê, e talvez seja mesmo, mas quem pode moldar isso? Maicon, ou Mike, como ele gosta de ser chamado, fez morada onde ninguém nunca havia feito. Nós tornamos o "casal modelo" da Universidade. Todos queriam ou almejavam um relacionamento como o nosso.

- Mana, o Mike não tem nenhum irmão solteiro não? Meu sonho de princesa seria.  - Bárbara Firmino! Amiga da faculdade, completamente o meu oposto, mas se fez amiga e não contente com esse incrível título, ela mesma se auto nomeou, melhor amiga. E assim permanece! 

Dois jovens estudantes com carreiras promissoras, um cursando direito, com uma base familiar já reconhecida nesse mercado. A família Dantas possuí um dos maiores e mais renomados consultório de advocacia da cidade e claro que Mike era mais uma peça fundamental e repleta de expectativas. O jovem advogado, com grandes sonhos e ânsia de vitória, seria a cereja do bolo nos negócios da família. A outra parte desse relacionamento, no caso eu. Uma jovem com mais sonhos, que uma adolescente romântica em séries melodramaticas, mas com algumas conquistas reias. São Paulo trouxe a autonomia e independência que eu tanto queria e faltando alguns meses para a tão sonhada formatura eu já trabalhava em uma grande empresa de arquitetura e urbanismo, e com muito pesar e uma forçada insistência em aceitar a ajuda do meus pais, eu havia comprado o meu apartamento.

O meu relacionamento com Mike não era só aos olhos, era real. Até mais real do que eu pensei que pudesse existir. Já sentiu frio na barriga ao perceber a aproximação? Já desejou a companhia mesmo que ela vinhesse acompanhada da piada sem graça, e que mesmo sem graça te fazia sorrir? Já pensou, ou melhor nem se quer se permitiu pensar, em trocar a balada bem frequentada na sexta a noite, por uma noite acompanhado uma série em espanhol com pipoca, refrigerante e chocolate? Já imaginou um futuro próximo com aquela pessoa? Já sentiu o arrepiar da pele, só com a eminete aproximação?  O coração acelar e todo o resto do mundo simplesmente desaparecer, enquanto teu olhar está preso ao dele? A junção de todas essas sensações, se fez viva em minha realidade e todos os clichês dos filmes saltaram em meu colo, se misturando e tornando o meu próprio clichê.

(...)

- Ana, eu sei que aqui talvez não seja o melhor lugar pra isso, mas eu quero te perguntar uma coisa... - Chovia forte, na noite paulistana, e estávamos em um restaurante fino e frequentando pela alta sociedade Paulista, eu normalmente não ligo muito pra essas coisas, e não me importaria de está largada, comendo pizza e brigadeiro no sofá de casa, mas Mike insistiu que eu precisa conhecer esse lugar, e então fomos. No exato momento em que ele se levantou segurando a minha mão, sem que nem por um segundo se quer desviasse o olhar do meu, eu sentir que ali o mundo havia parado.

- Ana... Ana Clara Caetano... Você quer partilhar comigo das alegrias e tristezas? Quer compartilhar um lar, uma família e  uma vida ao meu lado? Você quer se casar comigo?

Eu e Mike tínhamos um encontro nessa vida e nos permitimos viver isso!  Quando ele fez o pedido eu sabia que era isso que eu queria, mesmo não sabendo! Eu sentia que todos os passos dados até ali se fizeram e o meu coração acelerava de tal forma que achava que poderia sair pela boca a qualquer momento.

- Sim... Claro, que eu aceito! Mil vezes sim! - Mesmo o amando, como tudo o há em mim, eu estava pronta? Talvez não! Mas o amor, há o amor! Ele é tão lindo em sua plenitude.

(...)

Você se permite ser, aquilo que faz o seu coração pulsar. As pessoas nutrem a falsa ideia de que o coração controla todo o seu ser, mas na verdade o coração é a representação da Rainha no xadrez, uma peça muito poderosa, que pode ir para frente ou para trás, para direita ou para a esquerda, ou na diagonal, quantas casas quiser, mas não pode pular nenhuma peça. Já o nosso cérebro, a nossa máquina precursoura, é o nosso Rei. A peça mais importante de todo o jogo, e mesmo que seu movimento seja apenas o de uma casa em qualquer direção, todas as outras peças devem o proteger, seu valor é inestimável,  mesmo que algumas pessoas lhe rotulem valores, o Rei é a peça fundamental. E porque, assim como em um jogo de xadrez, não usamos e nem nos importamos com o que nosso cérebro diz? Por que sempre nós deixamos guiar pela comoção gerada e produzida pelo coração? Por que a emoção sempre fala mais alto que a razão?

Sentimentos são pássaros voando livremente pela imensidão azul, sem gaiolas, sem amarras e sem limites.  É mútuo e crescente. O amor gera, ensina, refaz e se adapta, são combinações perfeitas, e incrivelmente atraentes. Todos querem amar, todos querem sentir a sensação de ser amado, é tão gratificante e prazeroso saber que, alguém dentre todos esses bilhões que estão aí fora, te ama verdadeiramente, que é praticamente impossível não querer viver esse amor. E assim se cometeu um amor leve, um amor que se fez em um encontro único de almas, durante todos esses cincos anos.




"Mas na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra crescer."

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