31. Desprender

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Frases pensadas não serão ditas, explicações fundamentais facilmente vão ser esquecidas, olhares amigáveis são evitados e qualquer indício de apoio, compreensão ou entendimento da parte favorável à você, vira apenas falatório e desculpa desnecessária. Está diante de uma situação de enfrentamento é muito mais do que defender o que você acredita, pensa ou vive, vai além de qualquer formalidade e está acima do bem e do mal, até porque um dos lados sempre sai ferido não importa o tamanho do esforço feito para evitar isso. 

- Que bom que você chegou. Tive medo que desistisse

- Não costumo mais desistir

- E por acaso era acostumada a desistir antes?

- Tanto que acabei desistindo até de mim por você. - Existe momentos na minha vida que eu gostaria de ter a 'sorte' do Aladdin, e que assim de repente me aparecesse um gênio da lâmpada ofertando três desejos, o primeiro certamente usaria agora e pediria para ser uma mera espectadora de tudo o que está prestes a acontecer nessa apartamento, porque com medo ou sem medo, tem horas que deixar de ser protagonista da própria vida é mais tentador do que qualquer outra coisa. 

- Não precisamos começar assim Ana.

- Tem razão. Até porque algo me diz que a noite será longa, então é melhor poupar as energias! Onde estão seus pais?

- Ainda não chegaram, mas estão a caminho, o Augusto já foi buscá-los no aeroporto

- Que bom, melhor assim.

- Entra, não vai querer ficar aí parada na porta né? Quer beber alguma coisa?

- Não, obrigada.

É estranho de sentir e de entender, mas me sinto como uma hóspede na casa que um dia foi minha.

Consigo lembrar exatamente de todos os detalhes e de como decorei e escolhi cada objeto que está nessa sala, talvez tenha sido uma opção dele, ou realmente tenha deixado com a intenção de causar um certo impacto sobre mim, porque aparentemente nada não mudou nesse apartamento.

As cortinas brancas nas janelas de vidro, os móveis em uma madeira rústica e sofisticada, as fotos na bancada da tv registrando momentos em que fomos felizes com a família, as decorações na mesinha de centro, os três vasinhos de suculentas que fiz questão de comprar assim que bati os olhos nelas, até mesmo a mesa de jantar que já está devidamente organizada com um dos meus jogos americanos preferidos me fez reviver os momentos que passei aqui, mas apesar de todas as lembranças eu não sinto que me pertence, não é como costumava ser e definitivamente aqui não é mais o meu lugar.

- Tem certeza que não quer beber nada? - Estava tão perdida em lembranças que nem me dei conta de que Maicon bebendo alguma coisa sentou ao meu lado no sofá.

- Tenho sim, obrigada.

- Acho que precisamos acertar algumas coisas, sobre o jantar

- Precisamos? - Me afastei um pouco e tentei parecer o mais pacífica possível ao escuta-lo, quero realmente resolver qualquer ponto solto sobre a nossa relação, preciso disso para me conectar com tudo de novo que venha a me surgir, quero me sentir livre e tirar todo e qualquer peso dos meus ombros, então pacientemente vou me concentrar em apenas ouvir cada palavra que ele diga pra que assim tudo isso acabe logo.

- Acredito que será melhor não falarmos sobre aquela mulher... Os meus pais já terão que enfrentar um choque grande demais ao saber da nossa separação, não quero jogar mais essa bomba no colo deles. Eu ainda não sei como lidar com tudo isso, imagine eles. É tudo tão estranho, é uma realidade completamente diferente daquilo que existia e dói tanto enxergar isso, sabe? Quero evitar que eles sintam essa mesma sensação e que sofram por eles, por mim e por você.

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