Sensações

40. Aliança

Vitoria 

- Ninha acorda, não temos tempo a perder.

Ana Clara tem cheiro de flor, cheiro de jasmim, leve e adocicado.. Sei que ela tem um carinho específico por cactos e até entendo, eles realmente são fascinantes, mas ao meu ver, as flores combinam mais com ela. Simples mas cheia de significado, vai da proteção a atração, da luminosidade a sensualidade e além de lembrar um estrela, ela sugere a transcendência do ser humano. Ana também trás com ela tudo isso, é delicadeza, charme, feminilidade, uma pitada de mistério, um pouco de impulsividade e sorte. Sorte em tê-la e em poder está com ela, aqui e agora!     

Daqui a dois dias irei fazer um teste que poderá mudar minha vida, e tudo o que quero agora, é não pensar que faltam dois dias pra o teste que poderá mudar a minha vida. 

Ana se espreguiça e volta a se encolher ainda mais.. Sua pele, um tom mais escuro que o meu, cria um contrate quase perfeito entre os lençóis brancos e a luz do sol que começa a invadir o quarto. Ainda é muito cedo, e a julgar pela hora em que fomos dormir ontem se torna mais cedo ainda, mas, mesmo que eu queira com todas as forças continuar aqui admirando cada detalhe do seu corpo nu na minha cama, não posso me dá ao luxo de perder o vôo, vamos a Ubatuba e não quero passar três horas na estrada, se posso chegar lá em vinte minutos, mas a mocinha aqui continua deitada com o rosto enterrado no travesseiro e com mechas de cabelo espalhados pelo travesseiro. Lentamente ela abri um olho, me encara como se tivesse tentando entender o que está acontecendo e o porquê estou tentando acorda-lá tão cedo, mas isso não dura muito, resmunga algo incompreensível, passa o nariz nos lençóis e volta a fechar o olho.

- Vamos dorminhoca, tu terá tempo pra dormir depois.

A arte sempre me encantou em suas diversas formas, a ligação e a admiração por cada coisinha que é produzida pelo outro é imediata, e além da arte física, sou apaixonada pela sensorial. Ir à praia e contemplar a arte viva que se faz aqui, é pra mim sinônimo de paz, refúgio das paredes de tijolo e cimento que nos cercam.. A vida por entres os prédios é mecânica demais, regrada demais, complicada demais. Eu gosto do pé no chão, da mão na área, do vento no rosto. Eu sou da arte da natureza e vim em busca dela para recarregar as energias, e Ana veio comigo.

- Então é aqui que você traz suas namoradinhas? - Ana diz enquanto anda de um lado a outro expesionando cada detalhe do quarto, enquanto eu desfaço as malas. A muito custo ela saiu da cama e chegamos a tempo no aeroporto.   

Minha madrinha, que faleceu há alguns anos, me deixou com "presente" se assim posso dizer, os cuidados da sua casa no interior. Venho aqui desde de muito nova, mas depois que ela faleceu passei a vim menos, mas sempre com o proposito de renovação. Venho em busca de equilíbrio, paz pra alma.. É como se aqui, eu voltasse a ser a criança de dez anos que passava o dia por essas ruas correndo e brincando sem ter hora pra parar e muito menos com o que se preocupar, e tem funcionando, quando busco por refúgio, venho aqui, mas não com namoradinhas. 

Na verdade, Ana é a primeira pessoa que trago aqui, e agora é que estou me dado conta de que foi algo completamente involuntário. Não passou pela minha cabeça não traze-lá, não faz mais sentido vim sem ela, por que parte da minha paz é ela.

- Somos namoradinhas é?  - Não consigo não rir dos seus questionamentos. 

- É.. Quer dizer, não sei. Somos? - Ela para em frente a janela e me olha com a expressão de dúvida estampada no rosto, então largo as roupas e me aproximo um pouco.  

- Tu quer ser minha namoradinha? 

Sou completamente desapegada de rótulos e coisas assim, não vejo uma grande função em da nomes a situações e as coisas que vivemos, nem tudo se explica, a gente só sente, e é.. Mas nem todo mundo é assim, existe quem precise nomear e talvez essa seja uma necessidade real pra Ana, lembro-me de já ter feito essa pergunta a ela, não sobre o namoro, mas sim sobre os rótulos e ela não me afirmou nada.