Capítulo 5

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Maria Flor Arantes

Se eu não for a pessoa mais azarada do mundo, desconheço então! Como pude ter sido tão descuidada e permitido que os meninos vissem o meu bumbum napolitano? E agora, como vou para o colégio? O Diego Rocha viu! Ben também viu! Nossa que vergonha!

Minha mãe estaciona o carro na frente da escola.

O dia está quente, mas escolhi uma regata que tenha touca para que eu pudesse me esconder.

- Filha, você está bem? - Mamãe indaga, me encarando pelo espelho.

- Nada bem! - Bufei, mas para mim mesma.

- O que disse, querida?

Balancei a cabeça.

- Nada. Eu tô legal!

- Ok então. Boa aula.

- Valeu!

É agora, Maria Flor. Saia e enfrente!

Desci do carro e fechei a porta atrás de mim. Fiquei alguns segundos parada, tentando regularizar o meu ritmo cardíaco e respiratório, mas estava impossível. Estou tremendo e com muito medo de começar a chorar de vergonha na frente dos rapazes. Maria, fique longe deles. Fique longe!

É isso, preciso ir pelo caminho mais longo. Que caminho? Que eu saiba o colégio tem apenas uma porta de acesso as salas de aula.

Já sei!

A sala da diretoria. Ela tem duas entradas e usarei as do fundo. Os alunos são proibidos entrar por lá. Só é permitido quando eles tem algo muito importante para dizer a diretora.

Muito bem, Maria Flor!

Cruzei os braços e apressei os meus passos.

Eu fiz o possível para não parecer tão estranha, mesmo que o capuz demonstrasse o contrario. O prédio do colégio é um pouco grande, por isso, demorei um pouco para chegar até a parte posterior.

No entanto, assim que virei a esquina, dei de cara com o Diego e o Gael.

Segurei a respiração.

Será que dá tempo de correr?

- Maria do bumbum de fora - grita Diego, com os braços abertos e um sorriso pervertido nos lábios. - Ops, Maria Flor eu quis dizer.

Não dá tempo de correr mais.

- Se você disser que sempre vai estar provando alguns biquínis naquela loja, juro que darei exclusividade apenas a você e não comprarei mais as revistas na banca perto de casa. - Falou Gael.

Arregalei os olhos, enojada ao ouvir as palavras de Gael. Jura que ele estava falando das revistas...

É melhor deixar pra lá.

- Cara, essa foi péssima! - Comentou Diego.

Não aguento mais ficar perto desses brutamontes.

- Bom rapazes, foi muito bom ver vocês, mas agora eu preciso muito ir, de verdade. - Menti e sai correndo.

Meu coração está tão acelerado que pode pular para fora da boca a qualquer momento.

Só de pensar na hipótese de que, assim que passei pelos meninos e eles encararam o meu traseiro o imaginando por baixo da calça jeans, tenho vontade de vomitar.

Avisto mais um dos rapazes. Cadê essa porta da direção que não chega nunca?

É Lucas.

Eu abaixo a cabeça, na intenção dele não me ver, mas falhei.

- Fiu-Fiu!

Continuo andando, mas Lucas é grande demais e se coloca na minha frente, impedindo a minha passagem.

- Aonde vai com tanta pressa, Maria Bumbum? Provar mais alguns biquínis?

Meu sangue está fervendo. Estou irritada. Muito irritada. Estou ofendida. Muito ofendida. Humilhação resumi tudo. Sim, é isso: estou me sentindo humilhada.

Engulo em seco.

- Deixa eu passar. - Rosno.

- Deixo sim, mas só se você me passar o seu WhatsApp. - Eu impulsiono o meu corpo para a frente, mas Lucas continua parado, impedindo a minha passagem. - Você faz aquilo Online também?

A mesma sensação, o mesmo nervosismo do dia anterior, volta a se repetir dentro de mim. Uma salada mista de todos os sentimentos ruins se misturam a fazem um reboliço em minha alma. Será que vou vomitar nos pés de Lucas? Ele está merecendo. Mas não, eu estou bem. Não estou sentindo aquela onda crescendo dentro de mim. Algo um pouco mais doloroso está acontecendo e isso eu sei que não tenho o controle. Na verdade, nessas horas, eu perco totalmente o controle de mim. O que está acontecendo comigo? O que vai aconte...

Estou chorando? É isso produção? Estou chorando na frente do Lucas?

- Ah, vai chorar? - Ele provoca.

- Idiota! - Berro e o empurro para o lado.

Por fim estou livre daquele saco de lixo; mas por outro lado, eu estou devastada, estou destruída. Eu perdi a oportunidade de participar do Festival e concorrer a uma bolsa de estudos, vomitei nos pés de uma das juradas dos testes. Os piores garotos da face da terra me viram em um momento intimo e agora, terei que aguenta-los zombando de mim pro resto dos meus dias nesse colégio. São muitas tragedias acontecendo de uma vez só e com apenas uma pessoa. Não sei se vou aguentar até o final de semana. Talvez até lá o chão possa me engolir...

- Ai! - Grito, assim que bato a minha testa em algo firme.

- Flor! - É o Benjamin.

O "algo firme" é seu tórax.

Eu não posso permitir que ele zombe de mim também.

- Me deixa em paz, Benjamin! - Berro e saio correndo. 

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