Silent Scream - Anna Blue

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Acordar no sofá dos Kim foi um tanto constrangedor, principalmente porque ele só frequentava sua casa há dois dias. Assustou-se ainda mais ao perceber que não passavam das sete da manhã. Levantou do sofá, rapidamente, e espalmou as roupas amassadas.

Um olhar para cozinha serviu para identificar Taehyung sentado frente à ilha, com uma caneca fumegante em mãos. Cheirava a café. Ele olhava pela janela, distraído, e murmurava alguma canção em coreano.

- Desculpe.

Taehyung sorriu, ainda com o olhar através da janela.

- Por quê?

Jimin ficou confuso, de novo.

- Eu dormi no meio do jantar. E passei a noite na sua casa.

O moreno ergueu uma sobrancelha, e o ruivo corou, sem querer interpretando a frase de outra forma. Com uma risada, Kim disse:

- Não vejo o problema nisso. Aliás, passou a tarde com Sadie e George, é de se esperar eu caísse no sono em algum momento.

Poppy saiu do banheiro ao lado da cozinha e ofereceu café a Jimin, que não raciocinava direito, desacostumado com o horário. Ele aceitou, envergonhado, aninhando a caneca entre as mãos pequenas.

- Tae, - disse Poppy. - eu agradeceria se manchasse suas roupas com um pouco menos de freqüência.

Em resposta, o garoto abraçou a senhora por trás e, com a cabeça apoiada no ombro dela, curvado pela maior altura, falou:

- Minha querida Poppy... não precisa, não deve tentar tirar as manchas, eu não me importo de sair assim na rua. Ou melhor, me importo, elas são minha marca registrada. - e eram mesmo, Jimin quase babou sobre Taehyung no momento.

- Certo... Mas, ainda assim, use as mesmas roupas para pintar, pode ser?

Taehyung riu, e voltou a se sentar.

- Quer cumprir seu horário de manhã hoje?

Antes de responder, tentou dar um gole no café, mas o sono interferiu e ele passou a vergonha de errar o lugar e derrubar a bebida quente na camiseta branca. Sobressaltou-se, dando um gritinho, e chacoalhou o tecido, tentando esfriar. Deixou a caneca na bancada, apressado, derramando café nela também. Taehyung ria, observando a cena.

- Você está bem? - perguntou, por fim. Jimin olhou pra ele com raiva.

- Não? - de novo, soava como uma pergunta.

- Perdoe-me, Jimin, mas vai ter que começar a se decidir se nega ou não. - o mais alto gargalhou, sendo fuzilado.

- Eu preferiria que você parasse de rir...

- Eu não, e veja só! Você está igual a mim!

Realmente, haviam manchas maculando a superfície da tão necessária camiseta branca.

- Não me orgulho muito disso, sabe.

- Ora, vamos! Isso é sinal de uma conexão.

Recebeu de presente um olhar de incredulidade. Ele estava falando sério? Jimin começava a ficar assustado sobre o que passava dentro daquela bela cabecinha.

- Você é esquisito.

A expressão de Taehyung endureceu, e ele disse, com voz firme:

- Está dispensado por hoje, Park. Tome o dia de folga.

Recolhido no porão, ou Sala de Criação, Taehyung dava pinceladas furiosas numa tela. A pintura era uma mistura assustadora de preto e vermelho.

Ele não conseguia acreditar que Jimin tinha feito aquilo. Não era chamado de esquisito ou estranho havia muito tempo, não precisava passar por aquilo de novo. Se bem que o comentário fora justificável mesmo que lhe trouxesse lembranças ruins. Horríveis, na verdade.

Um pouco mais vulnerável, quase podia sentir novamente os pontapés em seu tronco e membros, os murmúrios conforme passava pelos corredores de sua antiga escola. O cheiro forte de tinta que se impregnara à ele nos meses em que, somente pintar, era seu refúgio. Nesse tempo, com os pais ocupados ao trabalho, irmãos pequenos demais e Poppy em função deles, Taehyung sofria sozinho. Eram só ele e seus materiais.

Fora só uma gracinha, porra! Mas o mais simples trouxe tudo à tona.

Ele era estranho. Não pertencia à esse lugar. À nenhum, na verdade. Era o tipo de pérolas que ele costumava ouvir.

Graças à Deus aquelas pessoas não sabiam de sua sexualidade. Era capaz de ter sido crucificado se soubessem.

Taehyung só esperava que Jimin não achasse isso dele realmente.

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