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Como um filme tudo passava em milésimo de segundos em sua mente, as lembranças de dez anos atrás, o seu ordenado no seminário, a sua formatura onde pode-se denominar padre, o seu retorno para o vilarejo onde ele pôde constatar que não tinha nenhuma vocação para o sacerdócio, passou por sua mente também o seu reencontro com Nathan e como seu coração havia batido forte. A morte de Phillip, o perdão a mágoa que se dissipara, tudo parecia torturar Noah agora com aquela dúvida entre ficar e assumir de vez o seu amor sabendo que não receberia a benção de sua mãe e nem o da igreja, ou se enclausurar em um seminário sabendo que jamais voltaria a ver Nathan. 

As lembranças do beijo, do abraço, da tarde em que passaram juntos, e a lembrança do orgulho visto na face de sua mãe quando esse se formou e se tornou padre, por qual motivo isso parecia ser tão difícil de decidir, a quem escolher, sua mãe o amava e imaginava ser o melhor para ele o enclausuramento, Nathan o amava e imaginava uma vida ao seu lado, mas era Noah que ficava com a parte mais difícil a parte da decisão:

_ Então Noah o que decide, vai embora agora com o frei ou sua mãe não significa nada para você, sua mãe que tanto se sacrificou para te criar no caminho do bem. Depois do que aconteceu a dez anos atrás eu quem tive que ficar aqui e aguentar os olhares zombeteiros desse povo, agora que você é padre eu achei que fosse tudo melhorar e esse povo iria esquecer o ocorrido, mas novamente esse homem filho do capiroto entra no seu caminho trazendo vergonha a nossa casa. Por favor Noah escolha o caminho certo meu filho eu te amo tanto. 

Permanecendo em silêncio, Noah a olhava com os olhos cheio de lágrimas:

_ Quem ama nos aceita da maneira como somos, não impõe condição minha mãe.

_ Então pelo que vejo você já tomou a sua decisão, vai ficar com ele?

_ Não! _ Assim como a senhora quer, eu irei com o frei. 

Ela o abraçava chorando:

_ Você tomou a decisão acertada meu filho, Deus está feliz com você. 

Ele amava Nathan, mas iria abrir mão do seu amor para agradar a mãe e seguir a uma fé que impedia que ele e Nathan ficasse juntos. 

Ele arrastava as malas pela rua do vilarejo, ao seu lado uma satisfeita dona Margarida ria com o frei enquanto Noah estava cabisbaixo permanecia calado. 

_ Noah? - Uma voz tão familiar lhe chamava fazendo todos paralisarem seus passos.

_ Nathan!

_ Que malas são essas?

_ Meu filho vai para longe de você seu demônio - dizia histérica dona Margarida.

_ Você vai embora Noah? 

_ Eu... é... 

_ Não Noah, você não pode ir, nós nos amamos, a tarde que passamos juntos, você não pode ir embora, não pode me abandonar.

_ Vamos Noah o ônibus já vai sair - dizia o frei na porta do ônibus. 

Dona Margarida abraçava Noah e já o empurrava para que o loiro entrasse no ônibus, seus olhos fixos no de Nathan que estava visivelmente entristecido, Noah subiu o primeiro degrau de escada e novamente olhou para o moreno que fazia um não com a cabeça. E em um impulso ele corria ao encontro do moreno dando-lhe um beijo em seus lábios, um beijo demorado de língua depois o abraçou sussurrando:

_ Perdão Nathan, perdão meu amor.

Sem olhar para trás ele entrou no ônibus deixando Nathan ali parado sem reação, o ônibus já dava partida quando o moreno parecia sair de um transe momentâneo, pela janela podia ver que Nathan corria atrás do ônibus, frei Jorge colocava a mão no ombro do loiro:

_ Você fez a escolha certa meu filho. 

Lágrimas corriam por seu rosto.

***

A escada que dava para o longo corredor onde ficava as celas onde padre John ficaria por tempo indeterminado era todo branco, foi aberto a terceira porta de madeira marron e o arcebispo informava que aquele seria o seu quarto de agora em diante. 

As paredes brancas assim como o corredor era apenas isso um branco diante dos olhos de Noah, não havia ali nada além de uma cruz acima da cama  que continha os lençóis também  brancos, em cima dela estava uma túnica que seria sua vestimenta daqui para frente, um crucifixo, água benta e um terço, essas seria suas ferramentas de agora em diante:

_ Bem vindo padre John, sou a irmã Fátima, amanhã lhe mostraremos as dependências do mosteiro, agora tome um banho, descanse um pouco e como é o seu primeiro dia eu venho lhe chamar para o jantar, mas já informo que isso não será rotina, temos nossas obrigações aqui, o café da manhã é as 06hs da manhã, o almoço é o 12hs, e pode se comer uma bolacha com chá ás 15hs, e o jantar é as 18hs. 

_ Obrigado irmã Fátima, pode deixar. 

Ao fechar a porta, Noah sentava-se na beirada da cama, levava ambas as mãos no rosto e chorava. 

A triste realidade que tinha agora era exatamente aquilo um branco total, ele ficou pensando em Nathan, no sorriso dele e quanto mais pensava mais chorava.
Desceu para o jantar já com a roupa que haviam separado para ele, uma túnica branca com um cinto também da mesma tonalidade amarrado em sua cintura, sobre os pés uma alpargata branca com alguns detalhes em preto. 
Sentou-se na cadeira separada para ele e um padre de cabelos brancos começou a dar graça pelo alimento, depois seus olhos por trás de seus óculos grossos direcionaram á Noah.

_ Irmãos esse é o padre John, ele morará conosco de agora em diante, vamos receber o nosso irmão com as graças de Deus e o ajudar e auxiliar no que ele tiver dificuldade por aqui. 

O mosteiro ficava um pouco isolado de tudo, sendo que a função de padre John ficou designado ao orfanato, esses eram os poucos momentos em que padre John se sentia vivo, no momento em que ficava com os pequenos ainda que vigiado de perto por um dos padres idoso que havia no mosteiro, lá ele conheceu Giovanne um menino adorável loirinho de dois anos e meio, ele havia sido abandonado pelo pai e pela mãe usuários de drogas, padre John se encantara assim que colocou os olhos no pequeno. 
A atração parecia ter sido mútua de ambos os lados, e ainda que tratasse todas as crianças de forma carinhosa pelo menino padre John se redobrava em atenção.  

O PadreOnde histórias criam vida. Descubra agora