Primeiro emprego...
Agora Nimbus estava frente a frente ao que parecia ser o seu primeiro chefe, a pessoa que decidiria qual seria a sua função naquela nave. E essa impotência o deixava desconfortável, muito desconfortável.
— Parece que o seu mestre não aprecia muito a minha engenharia, garoto. Não o culpo — o senhor riu muito alto. — Me acompanhe, vou te mostrar o lugar primeiro. — Ele saiu da sala e mostrou tudo ao garoto.
— Vê aquelas estruturas ali? — ele apontou para as caixas montadas em toda a parte no grande salão. — Esses são os Geradores de Hidrogênio da Brand, nós temos quarenta, e peças para construir pelo menos mais dois, se necessário.
Nimbus apenas olhou para as grandes caixas.
— Acho que você não está entendendo do que eu estou falando, não é garoto? — O velho coçou a cabeça. — Acho que vou ter que te dar uma aula sobre como funciona tudo por aqui.
— Não entendi nada mesmo — O garoto tentou dar um sorriso, mas ainda estava um pouco abalado e o barulho era quase insuportável.
— Bom, vou começar do começo, esta nave em que você está é uma fragata, um modelo de nave mais rápida e mais leve que o normal, logo que surgiram as naves, as fragatas eram as melhores, eu ainda acho que as fragatas são as melhores, principalmente a Brand, mas vamos falar disso outra hora. Depois inventaram os couraçados, maiores, mais pesados e com muito mais poder de fogo e blindagem, mas eles são lentos.
— Sim, isso eu já sabia — Nimbus falou.
— Que bom posso pular essa parte da história e partir direto para a parte técnica. — O velho deu um tapinha no ombro do garoto e o levou para perto de uma grande caixa que estava contra a parede e Nimbus notou que era dali que o barulho se originava. — Garoto é isso que faz a Brand se mover — ele apontou para a grande estrutura que parecia um cilindro gigantesco, deveria ter uns sete metros de diâmetro.
— Eu sempre quis saber o que fazia uma nave andar — falou Nimbus, e o velho pareceu não escutar pois ele falou baixo demais.
— Pois é! É incrível mesmo né? — O velho notou que Nimbus estava maravilhado com a estrutura, apesar de não ter escutado o que o garoto havia falado, ele imaginava. — Pois é isso que faz a nave andar, os geradores geram hidrogênio que entra na turbina e lá dentro ele explode, fazendo girar a turbina que impulsiona a nave para frente. Eu também tive uma reação parecida quando vi uma turbina pela primeira vez. Bom, vamos continuar. Você conhece a composição do éter?
— Não!
— Pois vou lhe contar então, no éter existem várias camadas, a camada que vemos daqui é rica em água e oxigênio, é pouco densa e podemos surfar por ela sem problemas, já a segunda camada é feita de um gás um pouco menos denso que a água, esse gás é extremamente corrosivo, qualquer coisa que caia lá é desintegrada em poucos minutos, as únicas coisas que nós conhecemos que sobrevivem a essa camada são os monstros do éter e mais algumas outras criaturas que encontramos no mar de éter como os lons e o lins, nós evitamos essa camada, mas ela é muito importante para nós, porque é nela que nossas turbinas têm firmeza para nos impulsionar, nós vamos praticamente quicando nela enquanto surfamos sobre o éter. — Agora o velho estava andando com Nimbus para outra parte da nave.
— Mas o senhor falou que essa camada é corrosiva, então como o casco da Brand não é corroído quando quica lá embaixo? — Agora eles tinham saído da sala barulhenta e estavam no corredor.
— Boa pergunta garoto, lembra que eu falei que as únicas coisas que não são corroídas por essa segunda camada são os monstros do éter? Então nós forramos o casco das naves com a pele deles, em grossas camadas. E ainda temos algumas tintas derivadas da sua pele que usamos para pintar toda a nave.
— Então é possível a Brand mergulhar no éter e viajar por baixo se for preciso?
— Não é bem assim garoto, quanto mais profundo se mergulha, mais corrosivo o éter é e, apesar da Brand ter essas proteções, a pele que a envolve não é tecido vivo, portanto não se regenera, e depois de poucos minutos ela também é desintegrada. Além disso, nas camadas mais profundas não há éter rico em água, então não podemos gerar hidrogênio e oxigênio lá em baixo. E tem ainda a compressão, é muito difícil selar todas as frestas das naves, sempre irá haver entrada de éter nas camadas profundas, corroendo a nave por dentro, embora em velocidade menor do que sem a proteção dela. — E após o homem receber uma afirmativa ele falou:
— Imagino que você não conheceu a nave.
Nimbus respondeu negativamente e colocou uma das mãos na nuca.
— Já imaginava. Entrar escondido não dá muita liberdade a alguém. — O homem gargalhou novamente.
— Venha, vou lhe mostrar tudo. — O velho começou a caminhar e explicar cada lugar para Nimbus. — Esse andar em que estamos é o terceiro subnível, a engenharia ocupa metade desse andar, a outra metade é de alojamentos da tripulação. No andar de cima ficam os alojamentos dos oficiais, a cozinha, o restaurante e os locais de uso comum, como o ginásio de treinamento e algumas salas de estar e a biblioteca. No primeiro andar, ficam os alojamentos dos cavaleiros, do capitão e do pessoal que trabalha na ponte de comando. Lá em cima também tem os canhões, o paiol, a sala de armas, a enfermaria e algumas salas de reuniões. Abaixo de nós fica o local onde você estava escondido, o depósito de suprimentos e o tanque de armazenamento de água.
Nimbus pensou em anotar tudo que o velho falou, mas desistiu quando notou que ele não iria parar de falar. E quando Dr. Henry perguntou se ele havia entendido, ele consentiu, mesmo não tendo compreendido muita coisa.
— Muito bem, vou deixar esse dia de folga para você conhecer a nave e amanhã bem cedo se apresente a mim, que vou te mostrar a tua função. Combinado?
— Sim senhor! — Nimbus respondeu, quase em posição de sentido.
— Senhor está no céu garoto, me chame somente de Henry como todo mundo. Até amanhã, divirta-se.
O Dr. Henry foi embora e Nimbus se viu sozinho no meio do corredor dos alojamentos, como ele não sabia o que fazer, foi explorar o local.
***
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Nimbus e os Cavaleiros de Cenferum
FantasyEm um mundo onde continentes flutuam sobre nuvens mortais onde monstros colossais ameaçam a humanidade, um jovem idealista e um cavaleiro desonrado embarcam em uma jornada desesperada a bordo de uma das últimas naves, para salvar os últimos vestígio...