— Donna, não é hora para brincadeiras. — Harvey disse ainda com uma expressão séria.
— Eu não estou brincando, Harvey. — Donna mexia no pano de prato em sua mão de maneira nervosa, tentando manter a voz calma. — Piper é sua filha.
Harvey estudou o rosto de Donna, ela realmente não estava brincando, nem mentindo. Ele deu alguns passos para frente e apoiou as mãos no balcão da cozinha, olhando para baixo, calado.
A idade de Piper batia com a noite da festa e isso explicava muito. A conexão instantânea que havia sentido com ela, o fato de amá-la e sentir a necessidade de protegê-la. Piper não ter um traço de Mark. A única coisa que ele não achava uma explicação era o fato de Donna não ter contado para ele.
— Harvey? — Donna perguntou baixinho, mordendo o lábio inferior. Ele estava há um tempo calado. — Please, say something.
— You had no right. — Harvey disse entredentes, ainda olhando para baixo.
— Harvey, por favor, me deixa expli... — Donna se aproximou do balcão.
— O que você fez não tem explicação. — Harvey a interrompeu e olhou para ela com uma expressão tão dura quanto a sua voz. Seus olhos estavam vermelhos. Vê-lo assim fez com que Donna engolisse em seco. — Você sempre soube o quanto eu amo Piper e mesmo assim me deixou acreditar que ela era filha de outro.
— Eu nunca disse que... — Donna disse baixinho, mas Harvey a interrompeu novamente.
— MAS VOCÊ SABIA QUE EU ACHAVA QUE ELE ERA O PAI, DONNA! — Harvey falou mais alto e isso fez com que a ruiva desse um pulo. — E MESMO ASSIM VOCÊ NÃO DISSE NADA. NADA! FOR THREE FUCKING YEARS.
— Harvey, please! — Donna disse com lágrimas nos olhos, sua voz começou a embargar. — Eu ia te contar, eu juro que...
— E quando você pretendia fazer isso? — Ele não gritava mais, mas sua voz estava completamente alterada. — No primeiro dia de aula? Quando ela fosse tirar a habilitação? Ia esperar até ela se formar? Ou depois disso? Já perdi todas as fases importantes da vida dela até agora mesmo. Uma a mais ou uma menos talvez não faça diferença para você.
— HARVEY, ENOUGH! — Donna gritou enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, mas ela não se importava. — Eu sei que errei, ok? Eu sei que nada que eu diga vai justificar, mas eu realmente ia te contar. — Donna estava nervosa e atropelava as palavras para que Harvey não tivesse a chance de interrompê-la novamente. Seu tom de voz aumentava cada vez por conta da agitação. — Eu ia fazer isso naquele dia em que fomos à nossa lanchonete e você me disse que tinha sido aceito em Harvard. Você estava tão feliz, Harvey! Eu já tinha visto meu sonho de ir para a faculdade acabar, não podia deixar que o mesmo acontecesse com você!
— You. Had. No. Right. — Harvey repetiu pausadamente. — Além de você ter escondido a gravidez de mim, você ia colocá-la para a adoção, Donna! PARA ADOÇÃO! — Ele passou a mão pelos cabelos e suspirou frustrado. — Seu plano inicial era colocar a minha filha para adoção sem ao menos me dizer que ela existia! E se você não tivesse mudado de ideia depois que ela nasceu? E se agora ela tivesse com outra família? Você iria conseguir olhar na minha cara todos os dias pelo resto das nossas vidas e simplesmente continuar escondendo isso de mim? Mesmo sabendo que teria uma filha nossa por aí sem que eu soubesse da existência? — Algumas lágrimas de mágoa e raiva começaram a escorrer pelo rosto de Harvey.
— I'm so sorry! — Donna apoiou as mãos na bancada da cozinha e sacudiu a cabeça. — Eu não queria estragar seu futuro...
— Não cabia a você decidir, era uma escolha minha! Eu poderia ter arrumado algum jeito, Donna, mas você não me deu uma chance nem de tentar! — Harvey massageou a testa, fechando os olhos.