"Vai ver fui eu que quis esperar pelo momento do adeus, mas... Volta! Sem você eu já não posso viver, pois é impossível ter de escolher entre teu cheiro e nada mais. Me diz que o nosso amor não é uma mentira e que você ainda precisa, mais uma vez, se desculpar."
– Johnny Hooker (editado)
A mulher que recebe o meu dinheiro no caixa do barzinho, me encara com condolência e isso me enraivece. Até parece que ela nunca viu uma pessoa se afogando nas próprias lágrimas.
— Você está bem? Eu posso...
Pego as minhas cinco garrafas de vodca e saio bufando do bar antes que ela resolva dar uma de boa samaritana. Além disso, eu não consigo pensar em outra coisa além da falta que aquele vagabundo me faz e isso, com certeza, me impediria de pronunciar palavras conexas, o que inviabilizaria qualquer comunicação entre eu e ela. Sinto que estou morrendo por dentro... E eu só quero parar de sentir essa porcaria de dor, nem que para isso eu tenha que ficar inconsciente.
Chego ao ponto de ônibus e sinto o vento frio penetrar a minha pele, alcançando a alma. Me agarro as garrafas de elixir que eu havia acabado de comprar, na tentativa de me aquecer, porém, falho miseravelmente. Ele, sem dúvidas, teria calor suficiente para esquentar todo o meu corpo, inclusive a parte interna de mim, e isso me faria tão bem, como tantas outras vezes fez. É o que eu acho, é o que eu quero e é o que me faz chorar mais ainda. As pessoas a minha volta lançam aquele olhar de "oh, tadinho dele" e eu sinto a necessidade de dizer coisas inapropriadas para todas elas, mas me contenho.
E como quem quer me ajudar, o universo faz o favor de pintar o céu com uma ameaça de chuva... Justo hoje! O dia em que o meu amor me abandonou!
O ônibus chega e, como brinde por eu estar tão desgraçado, acabo ficando em pé durante todo o trajeto.
Obrigado, vida!
Ao descer do ônibus, a chuva cai e o meu nível de irritação atinge o seu limite, me fazendo parecer um metaleiro no meio da rua. As pessoas me olham assustadas pelos gritos que dei e eu mostro a elas o meu dedo do meio, o que as faz lançarem olhares repreensivos a mim. Não me preocupo com isso e, deixando que a chuva lave meu corpo, me dirijo ao apartamento minúsculo em que eu moro e divido com meu melhor amigo, Cássio... Ele vai surtar quando souber.
Abro a porta do nosso cubículo e deixo toda a tristeza me consumir, já que não preciso me preocupar com mais nada agora, nem com o fato de eu estar encharcado. Tudo se resume a necessidade de chorar e, mesmo em prantos, ainda consigo perceber o que acontece a minha volta. O local está escuro, um pouco bagunçado e... Ouço ruídos vindo de algum lugar próximo, então decido segui-los. Passo pela sala que dividia espaço com a cozinha e percebo que o som vem do quarto de Cássio, continuo andando até chegar à porta, bato três vezes e ele abre no instante seguinte.
— Oi, querida! – E me abraça, sem perceber que eu estou ensopado e falecendo.
— O-oi, neném... – tento dizer em meio aos soluços.
— Ju! – Ele se assusta, apesar de eu desconfiar que seja mais pelo fato de eu estar molhado que pelo fato de eu estar chorando feito um bebê. — Meu Deus! O que aconteceu? Calma!
Eu até tento responder, mas tudo se perde em choro e ele acaba decidindo que o melhor a se fazer é me apaziguar primeiro para depois me interrogar. Ele me leva até sua cama, me senta, tira o meu casaco e as minhas amigas-garrafas de mim.
— Não! – Eu reclamo, mas ele não se importa.
— Relaxa – fala enquanto se volta a mim. — Vou te deixar perder o cabeção assim que me contar o que aconteceu e se, somente se, eu achar que é justificável.
— O Lucas terminou comigo. – Digo com raiva estendendo a mão para que ele me devolva as minhas amigas, mas o choro continua forte.
Ele fica tão surpreso que acaba se transformando num robô. Gira em cento e oitenta graus e sem olhar para lugar algum, pega uma das garrafas e sai do quarto com o olhar ainda perdido, mas logo volta com dois copos pequenos na mão esquerda.
Ele se senta, me entregando um copo, pegamos nossas doses e as viramos. Depois da primeira, volto a me lamentar enchendo o copo novamente.
— Pode desembuchar, mocinho. – Ordena Cássio, apesar de soar como um pedido. — Me conta isso direito que eu não estou acreditando! – Ele olha nos meus olhos e só vejo preocupação e incredulidade.
Viramos mais uma dose.
— Ele terminou comigo depois que eu sai do trabalho. – Digo, a voz saindo falhada e fanha com direito a fungadas. Ele parece ficar em choque com o fato. — Disse que a gente já não estava mais dando certo e que o que ele sentia por mim já não era mais o mesmo – dou uma pausa para conseguir continuar, pois só de lembrar daquelas palavras idiotas, eu sinto vontade de chorar até ficar desidratado. Cássio me abraça e percebe que eu continuo molhado mesmo tendo tirado o meu casaco.
— Espera aí, Ju. – Ele diz, se levanta e vai até o armário enquanto eu tomo mais uma dose do que viria a ser minha salvação. — Isso é realmente muito triste – ele volta com duas toalhas, me entrega uma, na qual me enrolo, e a outra ele indica para eu colocar sob mim. — Mas ao menos ele terminou contigo pessoalmente, né?
Lanço a ele um olhar assassino e ele sorri envergonhado, pedindo desculpas.
— Como ele pode deixar para trás uma história de quatro anos? – Questiono soando como uma pergunta retórica. – Nosso filho estaria começando o fundamental agora! – Ele dá um sorriso, mas lanço, imediatamente, outro aviso de morte a ele, que logo fica sério.
— Vem cá, meu preto! – Ele me abraça e é bem melhor assim. Talvez eu só precise disso por um bom tempo. Nada de palavras ou incentivo, só cuidado e carinho. Afinal, eu não vou desistir tão fácil quanto Lucas pensa. — Eu vou te ajudar a sair dessa. Eu prometo! Vamos mostrar para esse mané que ele não te deu o fim do mundo. — Eu iria contrariá-lo, mas minha cabeça está sem saco para isso.
Hoje eu só quero chorar.
———
Pela manhã, eu levanto sentindo um pouco de dor de cabeça e muita sede. Aposto que seja mais por conta do dilúvio que meus olhos fizeram que pelas garrafas de vodca que eu tomei.
Vou ao banheiro e quando saio à cozinha, vejo uma bela mesa de café da manhã com bolos, pães, biscoitos e, claro, café – eu e meu amigo não vivemos sem.
— Bom dia, princesa! – Diz Cássio jocoso e é impossível não dar um sorrisinho. — Hoje eu decidi fazer isso tudo para te persuadir a aceitar a minha solução infalível para o seu problema. – E lança um sorriso malandro.
— Você me conhece bem, hein?
Ele dá um riso aberto que é lindo de se ver.
Me sento à mesa e o encaro. Ele está em pé, de frente para mim. Sirvo-me de uma xícara grande de café preto e bolo de milho.
— Enquanto eu preparava toda essa maravilha aqui – ele gesticula sobre a mesa. — Eu também pensava em como te ajudar a sair dessa fossa horrível. Fiz algumas pesquisas rápidas, pensei um pouco mais e acabei achando que uma lista de tarefas seria uma boa opção para você, já que listas são divertidas.
— Uma lista? – Quase engasgo com um riso contido. Ele acha que eu serei seu rato de laboratório?
— É, mana. De coisas que vão te fazer superar o Lucas. – Ele estava tão sério que até a ideia parecia ser séria.
———
Olá, gente linda! :3
Esse foi o primeiro capítulo, o famigerado piloto, haha, e espero que tenham gostado. ♥
Por favor, deixem o votozinho e os comentários dizendo o que acharam, o que gostaram, o que não gostaram e o que esperam a partir desta "prévia".
Bom domingo. :* ♥
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Como superar o EX [EM PAUSA]
Romance"Tiro a camisa da cintura e visto-a, tentando cobrir minha insegurança enquanto nos dirigimos à parada de ônibus. Quantas coisas podem ser tiradas de alguém por culpa da ausência de outra pessoa?" Juliano é um adolescente centrado de 16 anos que tem...