(2.) 1. Se permita sofrer

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"Você mata o seu amor, porque você quer amar para parar de sofrer, aí você pega o amor e engole, mata, sufoca e não consegue ficar mais que um ou dois anos com alguém, porque você matou o seu amor de tanta ansiedade para salvar a sua vida (...). O que que nós não temos na civilização? O valor da vida, e a vida implica em ganhar e perder, a vida está além do ganho e da perda. O que me faz bem não é ganhar ou perder, o que me faz bem é ser potente para viver."


– Viviane Mosé (editado)

— Isso não é uma boa ideia. – Eu poderia fazer uma cena dizendo que eu perdi a fome, mas eu estaria mentindo. Tomo um gole do café que está amargo, do jeito que eu gosto, e como um pouco do bolo que está levemente duro. Eu até acho legal a disposição do Cássio em querer me ajudar, mas eu não queria tocar naquele assunto porque o meu namorado não pensou direito ainda, logo... ele não terminou comigo em definitivo.

— Por que não? – Ele fecha a cara, cruza os braços e levanta a sobrancelha direita.

Touché. Seu ego foi atingido.

Escondo um riso debochado.

— Porque ele não terminou comigo, neném. Não de verdade. – Ele parece muito confuso, por isso se senta e se serve de suco de uva e bolo de trigo, esperando uma explicação minha. — Olha, eu sei que eu fiz uma cena maravilhosa ontem – nós dois reviramos os olhos, sorrindo. — Mas eu devo ter entendido errado as palavras dele, sabe? Eu não quero superá-lo porque eu não preciso. Mas isso não quer dizer que eu não sou grato pelo seu apoio e preocupação, pelo contrário... – olho nos olhos dele e ele me dá um sorriso desanimado quando toco sua mão. — É bom saber que você cuidaria de mim se isso fosse real.

Ele desfaz o nosso toque e suspira, olhando para seu bolo enquanto, provavelmente, pensa numa boa resposta.

— Bem... – ele levanta o rosto e me encara. — O namoro é seu e o namorado também, então... não vou interferir. Mas, quando tiver certeza do que há entre vocês, seja bom ou ruim, saiba que eu vou estar aqui, okay?

— Okay, Hazel. – Ele gargalha me fazendo rir junto. — Mas, me fala, por que toda essa animação com esse negócio de término?

Ele se empolga, ajeitando-se na cadeira e começando a comer o bolo com as mãos, gesticulando-as com exagero para me elucidar.

— Te ver daquele jeito me deixou extremamente preocupado, sabe? Ainda mais depois que você ficou bêbado – eu engulo meu café com um gosto mais amargo e eu acho que é culpa. Ele sorri para mim, me confortando. — Tu contaste toda a vida de vocês juntos, inclusive os detalhes sórdidos – repito o gole e sinto-o mais amargo, culpa da vergonha dessa vez. — E eu realmente achei que seria muito difícil para você passar por tudo isso sozinho. Fiquei com medo de você entrar em depressão... – ele para de falar por um segundo e eu sei bem o porquê. Esse assunto é complicado para ele. — Fora as minhas próprias experiências, né? – a gente ri. — Daí, nas pesquisas que eu fiz, tinha tanta gente falando e dando tantas dicas que eu pensei que seria interessante reunir tudo e tentar seguir à risca, ao menos para ocupar a mente, entende? – ele dá um sorriso envergonhado e eu acho fofo.

Oh – é tudo o que eu consigo dizer, porque... bem, ele se preocupou sem muita necessidade. — Relaxa, amigo. Você ainda tem suas outras amigas para testar isso. – Brinco, bebendo um pouco mais de café em seguida.

Ele me olha como se o tivesse apunhalado pelas costas, mas sorri, descrente.

— Você jogou baixo agora, bicha. – A gente gargalha por saber que as amigas dele estão sempre com um novo namorado todo mês. — Apesar de que seriam elas quem nos dariam aulas. – Concordo sorrindo e a gente segue a manhã assim, falando dos outros.

Como superar o EX [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora