6. Chrysalism

30 1 0
                                    

"Chrysalism: A tranquilidade confortável de se estar dentro de casa durante uma tempestade."

– Catraca Livre


Seus movimentos eram rápidos. Arriscaria dizer, inclusive, que ele era o mais veloz de todos naquela quadra e eu sabia que não era o fato de eu estar loucamente apaixonado por ele que me fazia pensar isso. Era seu corpo que falava por si só. Sem camisa, sua pele negra e seus músculos, levemente definidos, ficavam expostos e brilhavam por conta do suor. A parte da cintura da calça de seu uniforme ficava molhada por isso, mas, eu não me importava, pois seu bumbum e suas pernas trabalhadas me hipnotizavam e eu não conseguia tirar os olhos dele. Todavia, eu sabia que não era só o seu corpo que eu queria conhecer, pois não era só o que eu observava. Minha paixão por ele me fazia imaginar minha vida toda ao seu lado.

— E então? – Cássio me despertou e eu sabia que ele estava ansioso por uma visão crítica a respeito da mais nova pesquisa, totalmente aleatória, que ele havia feito.

Encolhi os ombros e sorri em um pedido de desculpas. Ele revirou os olhos e riu, descrente. Entretanto, compreendeu minha desatenção assim que olhou à quadra.

— Lucas, não é? – Ele perguntou e se virou para mim, esperando uma resposta.

— Sim. – Disse apaixonado e abaixei a cabeça, tímido. Mas me senti um pouco culpado por não ter dado atenção as falas do meu amigo. Eu sabia que a enorme quantidade de tempo que ele possuía, o deixava louco e fui eu quem o incentivei a se ocupar com algum hobby. Não queria parecer que eu estava achando chato sua compulsão pelo passatempo, pois eu não estava.

— Ele é lindo – Cássio comentou e voltou a olhar a quadra, o que me fez fazer o mesmo. — Está apaixonado? – Ele voltou a me olhar, mas possuía um sorriso jocoso que sugeria muitas coisas.

— Há um ano. – Confessei, envergonhado e desviei o olhar. Ele me socou de leve o braço, um ato que queria dizer que ele me apoiava e torcia por mim. Era tudo novo, para mim e para Cássio. Eu sabia que ele estranharia, pois a) eu nunca tinha falado com Lucas, b) ele era dois anos mais velho e c) ele havia repetido um ano, o que Cássio não aprovava. Mas quem iria namorar com o Lucas era eu. E eu sabia que as pessoas iam muito além da vida acadêmica. Fora isso, havia um ano que eu descobrira a minha sexualidade e tinha compartilhado esse segredo com meu melhor amigo, o único que eu confiava dentre os da nossa turma. Ele me ajudou a carregar o fardo do silêncio e do desejo reprimido, mesmo não tendo conhecimento de sua própria sexualidade ainda.

— Então ele te ajudou a se descobrir? – Ele perguntou, mas não olhava mais para mim, seu caderno se enchia de rabiscos e ele nem percebia, mesmo olhando diretamente para a folha. Ele estava começando a se questionar e eu entendia muito bem aquilo.

Assenti com a cabeça, mas sorri ao perceber que ele não ia olhar.

— Sim. – Falei, antes de ele voltar a me encarar.

Tentei ajustar as coisas pegando seu caderno.

— Por que a musica existe? – Li o título de sua pesquisa e sorri, estranhando seu questionamento. Os rabiscos não danificaram o texto, pelo contrário, até enfeitavam.

Ele me deu um sorriso e levantou os ombros, levemente envergonhado. Talvez tivesse medo de julga-lo como "desocupado" ou coisa parecida. Faria de tudo para que ele não pensasse assim.

— Me explica de novo? – Pedi, realmente interessado em ouvir e para que não houvessem distrações, me levantei do chão do pátio da escola e puxei Cássio.

Como superar o EX [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora