(5.) 2. Compartilhe a sua dor

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"A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós."

– Walkiria Leitão (nas palavras da Monja Coen)

— Mas você precisa ir agora? – Pergunta Cássio com um leve desespero.

Sorrio.

— Sim, bebê. – Quando eu queria fazer chantagem emocional, eu abusava do carinho. — É que, se não for agora, não vou querer ir em outro momento.

É noite e a gente tinha combinado de jantar juntos, mas cancelei assim que cheguei em casa, pois havia me decidido. Isso o fez surtar. Ele está irritado e chateado com uma faca um pouco grande e afiada demais na mão, cortando alguns temperos na mesa da nossa pequena cozinha e eu, com medo, mas já arrumado para sair.

— Você sabe qual o segundo item?! – Ele pergunta apontando a faca para mim.

— Você não me falou. – Digo, levantando as mãos em defensa, mais argumentativa que física. — Como eu vou saber?

— Pode até ser. – Ele costumava falar isso quando não queria admitir que estava errado. — Mas eu vou te falar. De novo. – Ele mente achando que eu serei manipulado por sua alta convicção. — Conversar sobre a sua dor. Isso é importante. Pôr para fora, compartilhar... sabe? – Sua mania de gesticular hiperbolicamente me causa medo ao invés de irritação agora.

— E é isso que eu vou fazer. – Me aproximo dele, abaixando sua mão e beijando sua testa. — Vou numa psicóloga.

Me viro, deixando-o pensativo na mesa.

— Espera! – Ouço antes de cruzar a porta. — Eu vou contigo. – Ele seca as mãos no pano que tinha sobre os ombros, guarda o que estava usando e vai ao quarto para se trocar, mas volta logo caminhando em minha direção. — Não vou deixar você me enganar dizendo que vai para algum lugar quando na verdade vai tentar fazer alguma loucura para ter ele de volta.

Sorrio.

Eu juro que não pensei nisso.

— Eu nem pensei nisso. – Falo, descrente e ofendido, o que não colaborou muito para que ele acreditasse em mim.

— Aham, Cláudia. – Gargalhamos e enfim, saímos de nosso apartamentozinho.


Durante o caminho, sinto o nervosismo crescer dentro de mim e isso faz com que eu fique mais introspectivo e observador. Começo pelo meu amigo que troca desesperadamente várias mensagens com sabe-se lá quantas pessoas. Sua popularidade e sociabilidade talvez sejam atribuídas ao seu jeito divertido e comunicativo, sempre atencioso e interessado em saber o que as pessoas têm a dizer, mesmo que seja só para discordar, mas eu tenho certeza que a sua beleza tem muito mais a ver com isso, visto que a maioria das pessoas com quem ele fala são meninas que, apesar de decepcionadas por saberem da sua sexualidade, continuam falando com ele... Talvez seja só esperança ou persistência da parte delas ou talvez seja a ótima companhia que Cássio é.

Cabelos castanhos acobreados, olhos azuis bem claros, traços finos e até delicados, corpo magro e bem definido, estatura mediana. Esse é Cássio, meu melhor amigo. Vestido sempre de forma sofisticada mesmo quando podia estar confortável. Agora, por exemplo, ele usa uma bermuda marrom social acima dos joelhos com uma camisa social azul por dentro da bermuda, sapatos e cinto marrons com tonalidades diferentes e uma bolsa de lado. O cabelo bem arrumado, com relógio e óculos.

Como superar o EX [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora