9. Anthrodynia

26 0 0
                                    

"Um estado de exaustão ao perceber o quão horríveis as pessoas podem ser umas com as outras."

– Catraca Livre

Eu conheci a intolerância dentro da minha casa antes mesmo de saber que aquelas atitudes tinham um nome. Meu pai, ou o homem que deu o seu esperma para fecundar o óvulo de minha mãe, foi o grande precursor do sofrimento na minha vida e apesar disso, eu não o odeio. Eu, na verdade, não sinto nada em relação a ele, não quando se trata de afeto. Lembro de sua voz sempre alterada e feroz, do seu olhar sempre duro e sua feição sempre séria, fechada; lembro da sua mão sempre levantada para mim, da dor ao sentir minha pele sendo violentada... E eu nem ao menos sabia o porquê do seu ódio. Até que um dia eu comecei a escutar suas palavras, porque a dor já havia se tornado um hábito e quase não me incomodava mais. Ele dizia que eu estava apanhando para me tornar homem de verdade e eu devia sempre respeitá-lo e obedecê-lo. Eu entendi que eu não nasci do jeito certo. Eu decepcionei meu pai e gerei seu ódio por não ter os olhos claros de minha mãe, ou a pele negra extremamente clara, ou seu cabelo liso. Segundo ele, eu não era seu filho. E eu fiz questão de guardar bem essas palavras. Na época eu não soube, mas minha mãe também sofreu por mim e isso me fez ter mais motivos para querer ser sozinho.

Nas escolas que frequentei, eu nunca era visto. Todo mundo admirava o meu melhor amigo, o Cássio, e com isso eu descobri a inveja. Eu me odiei por isso. Eu já fui excluído, ofendido, agredido, perseguido e subestimado na vida acadêmica e, em todos esses casos, os roteiros se assemelhavam. Apesar do que se espera de alguém com esse tipo de história, a única decisão que eu tomei foi viver sozinho, ser o melhor, mas sozinho e conseguir meu próprio espaço, também sozinho, porque eu havia me cansado da maldade alheia.

Mas quando eu conheci o Lucas, meus planos se afogaram. Eu criei uma dependência que até hoje eu não gosto de admitir. Eu conheci um homem capaz de dar amor da forma mais intensa que eu acho ser possível. Ele era o porto seguro que eu precisava. A voz doce e calma, o olhar apaixonado e apaixonante que lhe dava um ar amigável, o que me ajudou a não ter medo de me entregar a ele; sua mão segurando a minha e a alegria que eu sentia ao abraça-lo. Quando eu lembro dos homens que convivi, eu lembro de defeitos e imperfeições, mas quando eu lembro do Lucas, eu lembro de bondade, inocência e amor, no sentido mais puro da palavra.


Como superar o EX [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora