4. A parte mais difícil

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"Eu te mantenho na minha cabeça, mesmo que você tenha ido. Se agarrar a nada é mais fácil do que soltar (...). E eu daria qualquer coisa só para estar com você de novo."

– Nina Nesbitt (editado)



Pela primeira vez em dois anos, a nossa rotina matinal é alterada. Cássio vai primeiro ao banho, me permitindo dormir por mais alguns minutos, no entanto, eu já estou acordado. O comum mesmo é ele me acordar e me mandar entrar no banho primeiro, já que eu demoro mais, e, graças ao meu irmãozinho, nós não nos atrasamos, pois saíamos juntos de casa por estudarmos juntos.

Nos quinze minutos que o meu amigo usa para tomar banho, eu fico deitado, pensando no Lucas. Alcanço o meu celular sem muito esforço e procuro nossas mensagens antigas, começando a lê-las do início. Elas não acompanhavam o começo do nosso namoro, pelo contrário, eram até recentes, mas, ainda assim, tinham conseguindo registrar vários momentos importantes da nossa relação. Viagens, conquistas, realizações, piadas, juras...

Cássio bate na porta e eu tento secar as lágrimas rapidamente, mas ele entra e percebe.

— Aí, mana. – Ele faz cara de preocupação e se senta ao meu lado. — De manhã cedo?

— Não tem hora para sofrer não, bebê. – Digo, um pouco irritado. Ele dá um meio sorriso aceitando o argumento.

— Você está certo. Apesar de todo o chororô do final de semana, a dor não vai embora tão fácil assim... – concordo com ele, mesmo que não tenha sido uma pergunta. — Mas eu tenho o direito de me preocupar contigo! Ainda mais agora que tu vais entrar no banho. – Ele discursa gesticulando bastante as mãos e eu não consigo parar de prestar atenção nisso.

— Era eu quem deveria me preocupar. – Sorrio em uma bufada e ele não acha graça. É, de fato, não teve graça. – Desculpa, Cá. – Digo, realmente arrependido e tento tocar sua mão. Ele deixa.

— Está tudo bem. – Ele sorri compreensivo. — Como diz a Christina Diva Aguilera, que o flop a tenha, "o engraçado das pessoas feridas, é que elas tendem a ferir outras pessoas". – Balanço minha cabeça, impressionado e ele apenas ri. — Mas está na hora. Vai banhar. Se precisar de ajuda, é só gritar. – Ele bate na minha perna de leve, se levanta e vai vestir uma roupa.

Sigo suas ordens.


Depois de ter banhado e me vestido, analiso meu reflexo no espelho. Minha pele negra entra em contraste com a camisa branca de detalhes verdes do uniforme da escola e sua costura faz com que os meus músculos superiores não sejam tão bem valorizados. Já a calça jeans azul valoriza bastante meus músculos inferiores, especialmente a bunda. Toco-a só para me lembrar do quão gostoso eu sou e do quão gostoso era o seu toque nessa região. Fico triste, por isso minha atenção se volta para meu rosto e percebo um maxilar marcado, uma boca carnuda, um nariz arredondado, olhos castanhos – e tristes – com cílios grandes. De tudo em mim, que levei um bom tempo para aceitar e gostar, as sobrancelhas grossas são as únicas coisas que ainda me incomodam. E ele gostava de mim assim... Será? O Lucas sempre foi desejado por todo mundo, já eu... Entretanto, eu não podia perder ele... Seria como perder o prêmio lotérico!

Coloco o colar com uma única pena metálica que ele me dera e algumas pulseiras que eu havia comprado para o nosso aniversário de namoro, calço meu tênis preto e vou tomar café com meu amigo, decidido a ter, pelo menos, uma explicação plausível para essa ideia maluca de querer me abandonar. Mas descobrir isso com ele viajando... É exigir para pôr em prática os ensinamentos do CSI.

Como superar o EX [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora