Rafael Silva diante de uma visita

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Diante do hotel estava movimentado. Hospedes e moradores vizinhos ao hotel aglomeravam-se em torno da ambulância, esticando pescoço e olhares para ver a moça aloirada, na maca, sendo colocada no veiculo por dois homens de branco que eram seguidos pelo homem cabeludo, Rafael Silva.

Ana Clara e Alisson chegavam nesse momento. Observando a cena as duas meninas começaram a escutar comentários dali e daqui das pessoas em volta:

_ Parece que foi intoxicação alimentar._ dizia uma hospede.

_ Não. Me contaram que alguém a envenenou.

_ Nenhum e nem outro. Ela tentou se matar. Eu estou no quarto ao lado deles e estava saindo do meu quarto quando eu escutei ele gritar para uma camareira: "Acho que ela se envenenou. Chame uma ambulância depressa!".

_ Será? Uma moça tão jovem e bonita...

Ana Clara avistou os pais debruçados sobre a janela do quarto deles, ambos com cara de quem acabava de acordar.

_ Ana Clara, olha! O anão!_ exclamou Alisson.

_ Onde?

A jovem acompanhou o olhar de Alisson e viu o anão com uma maquina profissional pendurada ao pescoço e meio escondido entre um bolo de hospedes.

_ Ele parece estar em todo lugar!_ estremeceu Alisson.

_ O que vocês acham?_ perguntou Rodrigo._ O anão pode ter envenenado ela?

_ Acho que não. Alisson e eu perguntamos à camareira, que junto com o Rafael Silva socorreu a Beatriz, o que aconteceu. A camareira disse que o Rafael encontrou a mulher jogada no chão com um monte de vidrinhos de remédios abertos ao redor dela. Vidrinhos com soníferos.

_ Mas por que ela tentaria se matar? Algum novo golpe deles?

_Também não entendo, Rodrigo..._ Ana Clara balançou a cabeça.

Alisson cruzou os braços.

_ Acho que isso está começando a ficar fora do controle. Melhor falarmos com a policia. Temos provas pra apresentar. A gargantilha.

_ Tenho que concordar com a Alisson. E tem mais: pensamos tanto e deixamos passar uma coisa._ disse Rodrigo.

_ O que?_ exigiram as duas meninas.

_ Os Iguanas com certeza notaram a troca de livros. Devem estar atrás do "verdadeiro livro" e o número de suspeitos que poderiam estar com ele é reduzido: Ana Clara e a mãe da Maitê. As duas foram as únicas que participaram da confusão toda. Se não encontrarem o livro com a mãe da Maitê vão vir atrás de nós. Isso é, da Ana Clara.

_ Mas a Beatriz Silva está no hospital agora!_ protestou Alisson.

_ É, mas o marido dela continua saudável, vendendo saúde. Querem mesmo confiar que ele vai ficar parado por causa da esposa hospitalizada? Ainda mais se houver suspeita de que ela foi envenenada e não tentou suicídio como tudo indica.

_ O anão pode não ser bandido. E se for um dos mocinhos? Um detetive particular?_ supôs Ana Clara.

_ Com aquela cicatriz na cara? Duvido!_ divergiu Alisson.

_ O tio Lúcio é o delegado da cidade. Podemos conversar com ele.

Um dos garçons do hotel aproximou-se trazendo uma fatia de torta de banana e suco para Alisson e refrigerantes e sanduiches de ovo frito, queijo,bacon, presunto e alface para Ana Clara e Rodrigo.

_ Que gosto harmonicamente horrível o de vocês dois!

_ Alisson, o mundo não é vegetariano.

_ Você é vegetaria?_ perguntou Ana Clara curiosa._ Como começou isso?

_ Com minha mãe. Quando ela era criança era muito anêmica e os pais viviam implicando que pra melhorar ela deveria comer bastante carne, apesar dela nunca gostar. Mas nos treze anos de idade ela decidiu mudar o habito alimentar, seguir o "cardápio" do irmão mais velho, vegetariano. Os pais acharam que ela ia morrer, coisa assim. Mas ela melhorou, tornou-se saudável, nunca mais teve problema. Desde então nunca mais comeu carne, a não ser a de soja. E não pense você que ela me obrigou a seguir o caminho dela. Eu me tornei vegetaria por que percebi que é mais do que deixar de comer carne, é um estilo de vida. Preservação ao meio animal...

Alisson olhou para Ana Clara.

_ Eu participo de grupos ecológicos, se quiser saber mais depois é só conversar comigo.

Rodrigo mordeu seu sanduíche.

_ Se deixar a Alisson fica nessa o dia todo.

Alisson parou a colher no ar e, calmamente, mostrou a língua para Rodrigo.

Na sala de espera do hospital o homem cabeludo andava de um lado para o outro, desassossego. Seus cabelos, sempre perfeitamente arrumados, estavam completamente bagunçados de tanto passar as mãos por ele. Aguardar o diagnostico medico o estava levando a loucura!

Um homem ruivo e sardento, de uma elegância casual, parou no meio da sala e olhou para o cabeludo:

_ Rafael Silva?

O cabeludo estancou e olhou para o outro confusamente.

_ Sou eu.

_Precisamos conversar.

_ O senhor é...?

_ Vamos conversar lá fora.

_ Não tenho nada a tratar com desconhecidos.

_ Oh, tem sim. E é do seu inteiro interesse.

O homem ruivo e sardento demonstrava ser bastante seguro e autoconfiante sem deixar margem para recusas.

_ Não vamos demorar._ garantiu o ruivo.

Seguiram para fora onde um carro prateado estava parado, contudo com o motor ligado, na entrada do hospital.

O ruivo abriu a porta do veiculo prata e mandou o homem cabeludo entrar.

_ Mas não disse...

_ Sutis alterações nos planos. Não se atreva a gritar ou reagir. Estou armado.

O ruivo empurrou-o para dentro do carro com decisão. O homem cabeludo encolheu-se no banco e o carro partiu. O cabeludo olhou para a motorista: os cabelos escondidos em um boné, nariguda e também sardenta.

_ Alugamos esse carro especialmente pra "passearmos" com você. Não tem como fugir. As portas foram trancadas pela frente. E se tentar alguma gracinha..._ o ruivo retirou a arma escondida debaixo da blusa e exibi-a e o outro balbuciou, apavorado:

_ O que querem de mim?

_ Nada que já não seja nosso. Por um descuido você e sua mulher ficaram com uma coisinha muito valiosa pra nós. Um livro de capa dura.

O outro não compreendeu:

_ Um livro? Mas...

O ruivo fez um gesto plácido para o outro calar-se:

_ Antes de tentar inventar uma mentira quero contar que nós andamos vasculhando o quarto de vocês e descobrimos o seus segredos, doutor Jocimar Coutinho.

O homem cabeludo perdeu toda a cor do rosto.

O caso da joia da CondessaOnde histórias criam vida. Descubra agora