A esposa saiu do banho enrolada na toalha e sentou-se na beirada da cama. O marido segurava um exemplar de capa dura do livro "Os três mosqueteiros" de Alexandre Dumas. Ele abriu o livro; a parte do meio das paginas fora cortada criando um espaço oco.O marido sorriu:
_ Vay servir. La joya será encajar aquí y nadie sospechará. Em la mañana vamos negociar tranquilos.
Ele foi até uma mala e mexeu no fundo duplo da bagagem retirando de lá uma belíssima gargantilha inteiramente cravejada de diamantes e no centro uma enorme safira reluzia diante de seus olhos brilhantes de ambição.
O marido colocou o colar dentro do espaço oco do livro e depois o fechou.
_ Para mí "Os três mosqueteiros" siempre ha sido uma lectura fascinante.
A esposa acercou-se do marido e o beijou falando:
_ A mí también. Me encanta.
Um choro de menina chegou até eles. Ela revirou os olhos reclamando:
_ Aquella niña nuevamente!Esta mi dejando loca!
_ No te afliges, mi amor. Mañana por la noche estaremos lejos de aquí y de todo lo resto.
●
Rodrigo e Alisson pedalavam o mais rápido que podiam. A pancada de chuva chegara junto com um vento forte pegando os dois irmãos desprevenidos. Um carro passou por uma poça atirando água para cima de Alisson ao mesmo momento que o vento traiçoeiro assoprava. A menina desequilibrou e caiu.
Rodrigo brecou, desceu da bicicleta e foi até a irmã. Ela ralara o joelho e agora choramingava:
_ Tudo culpa sua!
_ Você consegue andar? Não falta muito pra chegar ao hotel.
Uma jovem que passava fugindo do temporal presenciou a cena e resolveu ajudar. Aproximou-se dizendo:
_ É melhor esperar a chuva passar ali._ apontou para o toldo de uma lojinha próxima._ Leva ela na sua bicicleta e eu levo a bicicleta dela.
Rodrigo olhou para a jovem. Era Ana Regina! Mas de alguma forma estava diferente...
_ Está bem._ concordou o rapaz.
Alisson levantou-se com a ajuda de Rodrigo e foi carregada pelo irmão na bicicleta até o toldo sem desamarrar a cara.
A lojinha estava fechada. Alisson encostou-se na parede de braços cruzados e com uma tromba gigante. Rodrigo abaixou-se para olhar o joelho machucado da irmã perguntando:
_ Está ardendo?
_ É um ralado bobo. Ela vai ficar bem._ falou a jovem inclinando-se para olhar o joelho de Alisson.
_ O problema pra Alisson nem é o machucado, mas a marca que pode ficar depois._ disse Rodrigo voltando-se para a jovem._ Obrigado pela ajuda, Ana Regina.
A mocinha endireitou o corpo e sorriu divertido.
_Ana Regina é minha irmã gêmea. Eu me chamo Ana Clara.
_ Sério?_ Alisson quis confirmar. Poderia ser uma brincadeira da outra.
_Sério._ e curiosa quis saber:_Como foi que conheceram minha irmã?
_ No hotel._ respondeu Rodrigo, assombrado com a semelhança da jovem com Ana Regina.
_ E vocês dois são...?
_ Alisson e Rodrigo._ Alisson, ainda desconfiada da outra, quis testar:_ E sua irmã?
_ Já deve ter chegado ao hotel há um tempão. Hoje é o aniversário da nossa bisavó e a parentalha toda veio pra cidade comemorar. Eu, assim como o resto da parentela, estava organizando a casa dela pra festa. Eu terminei de preparar os salgadinhos e minha mãe ligou me mandando voltar pro hotel me arrumar pra festa quando a chuva me pegou de surpresa.
_ Alguém já falou que você fala muito?_ perguntou Alisson.
Ana Clara não se aborreceu com a observação da menina. Riu.
_ Já. _ mandou outra pergunta:_ São amigos?
_ Irmãos..._ e diante da expressão inalterada da jovem, Alisson completou:_ Meios-irmãos.
A chuva passou tão rápido quanto veio. Chegaram ao hotel pingando, ensopados. Ana Regina projetou-se na frente deles, como em um passe de mágica, dirigindo-se à irmã:
_ Ana Clara, que demora! Não sabe como a nossa mãe é? Ela já estava com a imaginação há mil...
Foi quando notou Rodrigo e Alisson. Sorriu:
_ Oi! Pelo jeito conheceram a minha outra metade, a Ana Clara.
Alisson e Rodrigo olhavam para as gêmeas sem esconder a admiração. Juntas parecia impossível distinguir uma da outra.Até o timbre da voz das duas eram semelhantes.
Com a roupa colada ao corpo e começando a sentir o frio apertar, Alisson decidiu ser pratica:
_ Não sei vocês, mas eu vou tomar um banho quente e trocar de roupa.
A menina foi subir a escada sem esperar pelo elevador. A cada degrau galgado o joelho ralado reclamava de uma maneira distinta.
Vendo a irmã subir Rodrigo também manifestou-se:
_ Conversamos outra hora. Também vou subir.
E já estava para dar o primeiro passo quando Ana Regina o segurou pelo pulso.
_ Espera.Por que não vai conosco a festa da nossa bisa? É meu convidado. _ e sem esperar a resposta do rapaz emendou:_ Nos encontramos aqui as sete, está bem?
Rodrigo receou que a alegria que sentia por dentro se estampasse deslavadamente na sua cara. Amou o convite.
_ Está certo.
Ana Regina despediu-se mandando-lhe um beijo no ar. Ana Clara, calada até aquele momento e ainda sem conseguir acreditar na cena feita pela irmã, apenas disse:
_ Nos vemos mais tarde. A Alisson também está convidada pra ir.
Com o pouco que conhecia de Alisson, Rodrigo sabia que a irmã não iria. E se quisesse ir ele é que não iria levá-la. Nem sonhando que a pirralha pudesse estragar uma noite que prometia fortes emoções.
●
Ana Clara entrou no quarto depois de se "mostrar viva" para mãe. Encontrou Ana Regina olhando para o guarda-roupa aberto.
_ Qual roupa você acha que eu devo ir hoje?_ questionou Ana Regina ao notar a presença da irmã.
Ana Clara ainda sustentava a expressão de incredulidade de antes:
_ O que foi aquilo?
_ Aquilo o quê, Clarinha?_ disfarçou a irmã aereamente, mexendo nos seus vestuários.
_ Você me entendeu. Onde fica o seu namorado Bira que veio conosco nessa viagem a seu pedido?
_ Bira e eu brigamos hoje cedo. Conhecendo ele talvez nem apareça na festa. Deve estar andando por aí, tentando esfriar a cabeça. Nos meus quinze anos sou mais madura que ele com dezesseis...
_ Mas ainda estão namorando, certo?
_ Ainda...
Ana Regina voltou-se para a irmã:
_ Clarinha, qual é? Não estou cometendo nenhum atentado ao pudor.
A outra foi sarcástica:
_ É mesmo, Regininha? Acha que eu não entendi o seu joguinho idiota de querer usar esse garoto pra se vingar do Bira?
Ana Regina não perturbou-se. Pegou um vestido no guarda-roupa alegando:
_ Clarinha, não sei do que você está falando. Agora me diz. O que acha deu ir com esse vestido?
Ana Clara não tinha sangue de barata. Revirou os olhos e deu as costas para a irmã entrando no banheiro e batendo a porta.
●
O anão escondeu-se atrás de um vaso de palmeira. Com seu tamanho havia passado despercebido pelo casal o dia todo.
Sem saberem que eram observados a uma curta distancia, a moça loira, "Lu", e o homem cabeludo, "Mar", em trajes de banho, conversavam a beira da piscina aproveitando o final da tarde.
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O caso da joia da Condessa
PertualanganQuando dois irmãos, que se detestam, se envolvem em uma confusão, eles não imaginam o que vem pela frente. Acompanhe a história de Rodrigo e sua irmã Alisson na descoberta de uma misteriosa joia desaparecida