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"Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção."

Antoine de Saint-Exupéry


Bolas, não estava mesmo na disposição de sair. Sim. Eu, Caetana Marques, que habitualmente seria a primeira a sugerir uma volta por Lisboa à noite, estava desta feita no mood das pantufas nos pés, chocolate quente numa mão e o último livro que adquiri na outra. Mas promessas são promessas e neste momento estava a abandonar as minhas tão adoráveis e queridas pantufas neste frio dia de Fevereiro, e a calçar uns sapatos de salto pretos que raios, em nada me aqueciam os pés. Agarrei na minha bolsa e no meu casaco cardado preto e dirigi-me para a porta do meu prédio, onde a Benedita já me aguardava - impaciente como sempre.

- Então miúda, pronta?

- Não. Eu queria mesmo era ficar na cama, Benny, já sabes.

- Vais ver que no fim da noite vais estar a agradecer-me por te ter arrastado hoje.

- Oh, definitivamente que vamos ver.


**


A Benedita tinha razão, como muitas outras vezes. Ou seria a bebida a falar por mim? De qualquer maneira, peguei no copo à minha frente e concentrei-me no líquido que o preenchia, sorvendo mais um golo. Foi então que o vi: o rosto escondido pela barba e os olhos escuros, que pareciam absorver toda a luz à sua volta qual buraco negro absorve energia. Um pequeno sorriso irrompeu nos seus lábios e eu retribuí, incitando o jovem dono do olhar negro a percorrer toda a distância que nos separava num curto espaço de tempo.

- Olá. - Mesmo com todo o barulho, consegui escutar perfeitamente bem a sua voz rouca e bem, se não tivesse já tocada pela bebida, aquela sílaba teria sido o suficiente para me induzir num estado psicotrópico.

- Olá. Caetana!

- Eu sou o Bernardo!


**


"Vais ver que no fim da noite me vais agradecer." O caraças, é que vou agradecer. Maldita a hora em que concordara com a Benedita, agora não aguentava a cabeça. A mesma que se queixou assim que o meu telemóvel me fez o favor de começar a notar (notar a ironia).

Caetana, onde estás filha?

- Hum, bom dia para tia também pai. Como assim, onde estou? Combinamos alguma coisa para hoje?

- Caetana! É o aniversário do Rafael - foda-se, esqueci-me do meu irmão, de novo! - e ficamos de almoçar cá em casa todos juntos.

- Pois foi, tens razão. Cabeça a minha. Daqui a pouco mais de meia hora estou aí, pai.

- Está bem, conduz com cuidado, minha filha.


Nem disse mais nada, desliguei. Sentia-me terrivelmente mal por ter feito isto ao meu irmão, outra vez, quando ele era o primeiro a lembrar-se de mim no meu dia.

- Podias ter falado mais baixo! - Os meus olhos arregalaram assim que escutei uma voz rouca. Algo a medo, olhei para o lado e avistei o mesmo rapaz da noite passada.

- Bom dia para ti também, idiota! Levanta-te, tenho de me despachar. - falei, olhando o moreno incisivamente.

- É assim que tratas os hóspedes? Tenho pelo menos direito a pequeno almoço?

- Se te despachares, pode ser que te ofereça um copo de água e uma fatia de pão.

- Uhm, rude.

- Coitadinho, chora mais. - Os minutos passavam e o idiota não se levantava da cama, deixando-me impaciente. - É assim, Gustavo, Roberto ou lá o caraças que seja o teu nome: eu tenho um compromisso importante daqui a meia hora e na verdade eu ainda estou aqui porque tu não trouxeste o teu carro, deixaste-o algures no Estoril. Por isso, se não queres ficar perdido aqui na zona, é bom que mexas esse rabo e te despaches.

- É Bernardo. Berraste o meu nome tantas vezes a noite passada e não o conseguiste decorar?

- De tudo o que eu te disse, só conseguiste reter isso? Bolas. - Com a maior rapidez possível, selecionei um conjunto semi-formal e vesti-me, enquanto o idiota se mantinha no mesmo sítio. - Vais ficar aí a olhar para mim?

- Nem estou muito mal de vistas, não.

- Tens 5 minutos para estar fora da porta do meu quarto, idiota!

- Ok madame. 




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Buenos dias

Meus amores, aqui fica o primeiro capítulo desta nova história. Espero que gostem tanto quanto o meu gato gordo gosta de fiambre ( ele adora, já agora eusheu). 

Os meus comentários estão sempre abertos para vocês, por isso sintam-se á vontade para lá deixar as vossas opiniões ;)

Já agora, quando eu comecei esta história, foi com base numa ideia. Contudo, depois surgiu uma ideia tão mas tão adorável que não pude não adaptar já a história a essa mesma ideia. Prometo que com o tempo vão perceber o rumo deste livro. 

Para já, deixo-vos com um abraço maior que o Bernardo (eusheu).

M. Ribeiro

Dear LoverOnde histórias criam vida. Descubra agora