Proseguire

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Entram no restaurante, que está lotado, e fazem seus pedidos. O homem insiste em pagar o lanche. Ela aceita, apesar de contrariada.
Sentam-se em uma mesa com duas poltronas macias, próximas à parede. É impossível não notar o quanto ela evita olhá-lo.
- Pâmela, por que você mentiu sobre Daniel? - pergunta ele, com um olhar penetrante.
Finalmente, ela o encara.
- Eu não menti. Estava pronta para terminar com ele. Mas foi a única saída que vi para conseguir o tratamento da minha doença - responde, mordendo um pedaço do hambúrguer.
- Espera... Que história é essa? - ele pergunta, dando uma mordida no lanche e se inclinando curioso para ouvir.
- Daniel disse que, se aceitasse seu pedido de casamento, pagaria um convênio para eu fazer meu tratamento e minha cirurgia - explica, mordiscando o hambúrguer.
- Isso é um absurdo! Você sabe que isso é um relacionamento abusivo? - questiona ele, inconformado.
- M-mas eu o amo... - aquelas palavras cortam seu coração. Não consegue compreender como isso é possível. - Ou pelo menos acho que amo - completa, com a voz hesitante.
- Você pode amá-lo. Porém, está em uma relação tóxica - alerta ele.
- Vamos mudar de assunto... - ela sugere, espalhando ketchup em suas batatas fritas.
Os minutos seguintes passam rapidamente. Logo, eles estão na porta da casa da jovem.
- Obrigada - diz ela em um sussurro. - Você foi muito gentil. - Dá um beijo em sua bochecha e sai do carro.
Ele a olha com um sorriso sem graça e assente com a cabeça.
[X]
Os dias passam. Daniel já havia ido ao hospital para solicitar a inclusão de Pâmela em seu convênio e assinou um termo afirmando que pagará os custos adicionais não cobertos pelo plano.
A vida não está sendo justa com Pâmela. Embora acredite amar Daniel, pensa frequentemente em Thiago e no beijo que deram na festa de Carolina. Para piorar, seus colegas de trabalho a tratam como se estivesse à beira da morte. E, de fato, ela está, mas isso só a lembra que pode morrer a qualquer momento.
Seu único consolo são suas colegas de faculdade, que ainda tentam manter o mesmo comportamento de sempre.
Thiago, por outro lado, continua com sua vida dupla: policial durante o dia e justiceiro à noite. Faz o possível para não pensar na garota absurdamente mais nova e comprometida, evitando cruzar seu caminho. É o melhor a fazer.
[X]
Em um daqueles dias em que a Lei de Murphy decide brincar com Pâmela, ela acorda atrasada para o trabalho. Sem tempo para tomar café, sai correndo para o ponto de ônibus. Uma tempestade começa a cair, fazendo com que o ônibus demore a passar.
Ao chegar à empresa com mais de duas horas de atraso, todos a encaram curiosos. Seus cabelos e roupas encharcados explicam a situação. Seu chefe a convida para a sala de reuniões.
Ela sente que o emprego está por um fio. Suspira pesadamente e segue Antônio para o "cantinho da vergonha", como é conhecido o local, devido às broncas que os funcionários recebem quando são chamados para lá.
- Olha, quero pedir desculpas... - ele levanta a mão no ar, fazendo-a silenciar rapidamente.
- Sabe, Pâmela... Eu gosto de você! - ele ri. Ela retribui com um sorriso tenso, sem entender o que ele quer dizer. - Você é uma boa funcionária, apesar da sua rebeldia em não concordar com algumas das nossas regras e não cumpri-las, ou estourar as pausas. Gosto desse negócio de empoderamento! - ele ri novamente.
Os ombros de Pâmela ficam tensos. Ela tenta entender a direção da conversa.
- O que vai fazer, Antônio? Dar-me suspensão? Demitir-me? - pergunta ela, ansiosa.
- Claro que não, querida! - afirma, como se fosse óbvio. - Mas... Que tal se fizer um favor para o seu "super"? - ela ergue uma das sobrancelhas. - Levante-se dessa cadeira!
Ela obedece e caminha na direção dele.
- Ótimo! - ele comemora. - Agora... Que tal se eu fizer isso... - ele fala pausadamente, enquanto circula ao redor dela e para atrás de suas costas. Ele passa as mãos ali.
Ela não consegue reagir. Apenas respira desconfortável e nervosa. Sente-o levantar sua blusa e deslizar uma das mãos até a barra de seu sutiã.
- Para... Por favor! - implora em um murmúrio.
- Seu namorado já te tocou assim, Pâmela? Ele já te fez uma massagem gostosa desse jeito? - ele pergunta, levando suas mãos aos ombros dela e massageando-os.
- Não. - diz ela, ainda sem conseguir se mexer. - Para! - empurra-o para longe e, antes que ele alcance a saída, ele a puxa pelo braço.
- Preciso de um abraço. Abrace-me, querida... - fala próximo ao rosto dela, puxando-a para perto de si e distribuindo beijos em seu pescoço.
Pâmela encontra forças que nem sabia que tinha e o empurra contra a parede. Pega sua bolsa em cima da mesa, sai rapidamente, pisando fundo.
Desnorteada e chocada, liga para a polícia para saber o que fazer. Orientam-na a ir a uma delegacia. Ela vai à mais próxima de sua casa.
Ao chegar lá, vai direto ao policial na recepção:
- Quero fazer uma denúncia de assédio! - bate na mesa.
O homem arregala os olhos.
- Acompanhe-me, por favor... - ele a guia para uma sala de espera e lhe oferece um copo d'água.
Com as mãos trêmulas, ela leva o copo à boca e finalmente desaba em um choro desesperado.
O delegado entra na sala, acompanhado por um rosto conhecido, que fará o relatório: Thiago.
Ao vê-la naquele estado, o coração de Thiago se despedaça. Involuntariamente, ele se levanta e a abraça forte, sentindo-a como seu porto seguro.
Nem se importa com a camisa molhada pelas lágrimas e com a aproximação da garota com as roupas e cabelos encharcados. Apenas retribui o abraço. Em seguida, a guia até uma cadeira e a coloca sentada de frente ao delegado, que não entende a aproximação dos dois.
- Por favor, senhorita... Comece dizendo seu nome completo para nós - exige o delegado, enquanto Thiago se prepara para digitar as informações.
- Pâmela Oliveira Martins.
Ela entrega seu documento ao delegado, que anota seus dados para abrir a ocorrência.
- Conte-nos o que aconteceu! - ordena o delegado.
- Meu chefe me assediou. - O justiceiro a olha rapidamente. Seu corpo ferve de raiva. Ele aperta as teclas do computador com força, digitando o relato. - Ele levantou minha blusa e passou as mãos em mim...
- Você tem como provar isso? - o delegado pergunta imediatamente.
- Não. Não posso usar celular na empresa. Mas talvez a sala onde isso aconteceu tenha câmeras de segurança.
- Acha que encontraríamos evidências do ato se fizéssemos um corpo de delito? - indaga o delegado.
- Ele não chegou às vias de fato, senhor - ela retruca.
- Então, infelizmente não temos como ajudá-la, senhorita! Passe bem! - o delegado se levanta da cadeira, deixando-a inconformada.
- O QUÊ??? VOCÊS NÃO VÃO FAZER NADA??? NÃO PODEM NEM IR À EMPRESA INTIMÁ-LO??? - ela brada.
- Pâmela, pare! - Thiago a repreende.
- PARAR? TEM UM ABUSADOR SOLTO E VOCÊS NÃO VÃO TOMAR NENHUMA PROVIDÊNCIA!? - ela continua gritando.
O delegado se irrita com o escândalo e manda um dos policiais a levar para fora da delegacia.
Thiago decide ir atrás dela.
- Thiago... Ajude-me! - ela suplica, lamuriando.
- Desculpe. Essa é a nossa legislação, como eu te falei naquele dia - ele diz, com raiva. - Mas posso te indicar um amigo advogado. Explique o que aconteceu e ele tentará entrar com um processo. - Ele entrega a ela um cartão de Rodrigo.
- O que vou fazer da minha vida sem esse emprego? Não posso continuar lá e se ele...
- Shhhh... - Thiago coloca o indicador nos lábios dela. - Tente não pensar nisso. Você precisa descansar! - abraça-a e afaga seus cabelos.
- Minha vida é uma merda! Odeio tudo isso! Eu deveria morrer! - ela chora.
- Pâmela... Pare! - ele a aperta mais contra seu corpo.
De repente, ela começa a respirar com dificuldade. Ele nota rapidamente que ela está prestes a ter uma crise. Sem esperar a autorização de ninguém, ele a coloca dentro de um carro da polícia.
Avisando pelo rádio que vai socorrer a jovem, ele acende o giroflex e sai em alta velocidade em direção ao hospital mais próximo.

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