"Inércia é uma palavra pequena, mas com múltiplos significados. (...) ela usou essa palavra para descrever como sua vida estava antes de conhecer o homem que lhe ensinou tantas coisas.
- Ando entediado. Sabe como é... Rotina, vida parada, monotonia...
Pâmela acorda, sentindo o peso nos olhos. Coça-os e observa ao redor, reconhecendo seu quarto. Espreguiça-se, levanta-se com a cabeça girando um pouco - efeito dos remédios que tomou no dia anterior. Vai ao banheiro, apoiando-se nas paredes e móveis. Ao olhar no espelho, nota que está mais pálida do que o habitual. Caminha vagarosamente em direção à cozinha, ainda se apoiando em tudo o que vê pela frente. No entanto, é surpreendida ao passar pela sala. - Bom dia, flor do dia! - Elaine exclamou, assustando-a. Elaine e Carolina correm em sua direção e a abraçam. - Como você está, Pam? - pergunta a morena. - Mais ou menos. Minha cabeça está girando e mal me lembro de como cheguei em casa. - explica. - Mas onde estão meus pais? - Foram trabalhar. Disseram que não poderiam faltar, mesmo sendo feriado. - esclarece a loira. - Parece que foram escalados. Então pediram para que viéssemos cuidar de você! - completa Carolina. O diálogo é interrompido quando uma notícia aparece na televisão: "Um supervisor de uma empresa de telemarketing foi encontrado morto hoje pela manhã em uma esquina próxima ao local de trabalho." Pâmela corre, pega o controle e aumenta o volume. "O homem identificado como Antônio Nogueira Gelardino caminhava ao lado de uma funcionária, quando foi abordado por uma gangue de homens vestidos de preto e bem armados. Com medo, a mulher não quis dar entrevista." - Meu Deus! - sussurra Carolina. "Até agora, as evidências apontam para o Justiceiro de São Paulo, mas não há nada que ligue Antônio a atividades criminosas. Será que o intitulado 'herói' decidiu se tornar bandido?" - Filho da puta! - a ruiva soca a mesa de centro. - O que foi, amiga? - pergunta Elaine, aproximando-se. - Esse é o idiota que me assediou! As amigas se entreolham, boquiabertas. - Como o Justiceiro sabia disso? - Carolina ergue uma sobrancelha. - Também não sei. Mas uma coisa é certa: não fui a primeira. - Terá sido a mando de outra funcionária? - pergunta a loira. - Nunca saberemos. Ela bufa, levanta-se do sofá e vai finalmente tomar seu café. [x] Já próximo ao meio-dia, decide ligar para o advogado indicado pelo vizinho. Mesmo que Antônio tenha morrido, a empresa ainda deve indenizá-la pelo ocorrido. Aproveitando que as amigas estão distraídas discutindo o almoço, vai para o quarto. Pega o celular e o cartão de visita, disca o número. Chama quatro vezes e, prestes a desistir, é atendida: - Alô? - Bom dia. Senhor Rodrigo? - Sim. Quem está falando? - Meu nome é Pâmela. Sou vizinha do Thiago. Ele me indicou a falar com o senhor. - Ah, oi Pâmela! Lembra-se de mim daquela festa? - ri. - O Thiago me explicou seu caso. Que tal almoçar conosco na casa dele? - Claro que me lembro! - responde sem muita empolgação. - Acho ótimo! Que horas? - Pode vir agora! Já estamos preparando a comida. - Ok. Até daqui a pouco! - desliga. [x] Arrumada com uma roupa melhor, já que estava de pijama até pouco antes, passa pelas amigas e avisa que vai à casa do vizinho, sem dar muitos detalhes. Deixa o celular no braço do sofá e vai à cozinha pegar um copo d'água, sendo seguida por Carolina. Elaine, aproveitando que a tela do celular está desbloqueada, não hesita em mexer no aparelho. Entra na lista de contatos e anota alguns números rapidamente. Ouvindo os passos de Pâmela voltando, Elaine coloca o celular bloqueado onde estava e se afasta. Pâmela pega o celular e sai rumo à casa da frente, enquanto a morena reclama por não poder ir junto. [x] Thiago atende à porta com os cabelos levemente espigados e bagunçados. Seus olhos mostram olheiras, resultado de uma noite mal dormida. Veste uma camisa velha e uma bermuda surrada. Dá um sorriso fraco e abre passagem para que entre. Pâmela observa a casa, constatando a organização impecável. Apesar das pequenas infiltrações e rachaduras nas paredes, acha o interior bonito. Dirige-se à poltrona onde Rodrigo está sentado, bebendo uma cerveja, vestido com uma bermuda de nylon e uma camisa preta. - Nem aparenta ser um advogado, né? - Thiago aponta para o amigo, que se levanta para cumprimentar Pâmela. - Não se deve julgar pela roupa, meu caro. Sabe que sou bom no que faço... - diz Rodrigo, piscando para Pâmela e beijando seu rosto. - Vou terminar de preparar o almoço. Enquanto isso, adiante o caso para ele. - orienta Thiago, indo para a cozinha. - Senhor Rodrigo, desculpe-me por interromper seu dia de folga... - Senhorita! - interrompe Rodrigo. - Primeiro: Não me chame de senhor. Assim eu me sinto velho! - todos riem. - Segundo: o Thiago foi suspenso e estou sem nenhum caso. Ou seja, você é extremamente importante para mim! - afirma. Ela sorri, mas se preocupa. - Ele foi suspenso por minha causa, não é? - pergunta temerosa. - Ah, ele nem gosta da parte burocrática... - Rodrigo faz um gesto de desprezo com as mãos. - Mas antes de falarmos de assuntos profissionais, por que não me conta qual é a sua relação com o Thiago? - Relação? - altera o tom de voz. - Não há relação alguma! - responde defensiva. Rodrigo lança-lhe um olhar e sorriso maliciosos. - Sei... Pelo seu desconforto, fica claro que não há... relação... - enfatiza a última palavra. Pâmela aproxima-se, com uma expressão séria. - Não posso fazer nada se o destino insiste em cruzar nossos caminhos. Thiago é um bom homem, mas tem idade para ser meu pai! Além disso, estou muito bem comprometida. - diz, exasperada. - Que tal falarmos do motivo pelo qual estou aqui? - desconversa, afastando-se novamente. Rodrigo inclina-se na poltrona, passa as mãos pelo cavanhaque e retruca: - Estou todo ouvido! [x] Enquanto analisam as possibilidades de processar a empresa, são chamados para almoçar. Prepararam arroz, feijão, bife e polenta. O cheiro da comida é delicioso e Pâmela se encanta com o sabor. Após a refeição, ela se oferece para lavar a louça. O anfitrião hesita a princípio, mas acaba aceitando, com a condição de que ele guarde os pratos. Rodrigo vai para a sala, para deixá-los a sós e assistir ao jogo de futebol. Enquanto ensaboa os copos, ouve Rodrigo colocar a música "Take On Me", do A-Ha:
We're talking away I don't know what I'm to say I'll say it anyway Today's another day to find you
Ele canta animadamente. Pâmela decide brincar, tampando os ouvidos e balançando a cabeça em negação. - O que isso quer dizer, mocinha? - Rodrigo coloca as mãos na cintura, fitando-a com indignação. - Você canta muito mal! - caçoa. - Ah é? - aproxima-se dela. - Take on me... Take me on... - canta alto próximo ao seu ouvido, enquanto continua tampando os ouvidos dela. Agastada, Pâmela sacode as mãos molhadas próximas a ele, deixando-o todo respingado. Continua zombando até vê-lo se aproximar, fazendo cócegas em sua barriga, obrigando-a a se jogar no chão de tanto rir. Ele para, tenta se levantar, mas acaba sendo puxado e caindo em cima dela. Aquilo os encabula; entretanto, nenhum dos dois tem coragem de sair daquela posição. Encarando os olhos verdes dele, Pâmela perde-se em sua beleza. É indubitável a lascívia que a domina. Consome-a também, tem certeza disso. Se não quisesse, o afastaria; mas não o faz. Pelo contrário, fecha os olhos, esperando que ele tome uma atitude. Rodrigo a beija desesperadamente, como se fosse a última oportunidade de fazer aquilo. Sua mão grande ampara a cabeça dela, enquanto se entrelaça pelos seus cabelos alaranjados. Seus braços envolvem suas costas, mantendo-o ali. Rodrigo ouve as risadas e o silêncio repentino. Apenas a música ainda toca ao fundo, então decide conferir o que está acontecendo. Sorri orgulhoso ao ver que o amigo está se dando uma nova chance, esquecendo-se pouco a pouco de Bruna e entregando-se a uma nova paixão. Sai discretamente para que não percebam que estão sendo vigiados. [x] Em um bairro próximo, Elaine desembarca de um ônibus e se dirige a uma casa com portão marrom. Toca a campainha e espera alguns minutos. Finalmente, um homem aparece na janela: - Olá, no que posso ajudá-la? - pergunta. - Fui eu quem te mandei mensagem, Daniel. Vai me deixar entrar? Respira fundo, fecha a janela e coloca rapidamente uma bermuda, ralhando mentalmente por ter seus planos de assistir séries o dia todo frustrados.
- Quem é você e o que quer comigo? - pergunta, aproximando-se do portão.
Ela analisa o porte físico esbelto do homem e, encantada, morde o lábio inferior antes de responder:
- Meu nome é Elaine. Sou colega de faculdade da Pâmela. Venho te avisar que ela está te traindo!
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Olhem a carinha de anjo, inocente, dessa super amiga da Pâmela!
E aí, acharam o beijo precipitado demais? Rodrigo é o maior shipper de Pâmela e Thiago (inventem o nome do shipp, pois sou péssima!) que existe? O que vai acontecer depois disso? Não deixem de comentar!