Capítulo 6

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Capítulo 6 – Um novo lar (Ariel)

Os agentes que enviei, montaram corretamente o nosso acampamento, que não seria nada provisório, de acordo com meu planejamento.

Ripper que conhecia aquele lugar como a palma da sua mão, disse-me que seria desabitado, inóspito e de difícil acesso. E tinha razão: para chegar era preciso horas de caminhada e nos últimos minutos, escalar um pico com equipamento de montanhismo. Sem isso, as pessoas que se aventurassem não passariam perto de 5 km de onde estávamos.

E era exatamente isso que eu queria. Isolamento total. E mesmo assim, não poderia ter imaginado que seríamos premiados por uma beleza natural totalmente fora do convencional.

Estávamos cercados por uma vegetação fresca, ladeados por uma cadeia de montanhas e acampados em uma superfície tão plana e lisa quanto poderia ser uma extensa planície. E para arrematar, havia um pequeno lago, que desaguava um pouco à distância, em uma queda impressionante de cachoeira.

Várias barracas se espalhavam pelo local, sendo que somente a minha ficava no centro, em uma posição militar conhecida como "panoptismo". Havia um aspecto de "vigilância" total de minha parte. Eu dormia muito pouco e comigo, do meu lado, só ficava meu irmão.

Na extremidade direita, bem próximo ao lago, ficava Anne com seus "formados". Eu evitava esse lado, só indo por ali, uma vez ao dia para me banhar. E mesmo quando eu ia, meus olhos miravam o chão, automaticamente, evitando encontrar a tão familiar "silhueta" em alguma posição de treinamento.

Anne fez questão de executar todos os passos típicos de uma agente em formação, nos dias que se seguiram, mesmo estando fora do nosso QG. Ela era adepta da disciplina, do esforço pessoal e da hierarquia.

E me orgulhava de vê isso nela.

- Tem um acampamento de turista em formação há menos de 10km de nós – meu segundo em comando, entrou pela lateral de nossa tenda, me informando sobre sua descoberta.

Como responsável pelos patrulheiros, toda noite eles faziam reconhecimento da área circunscrita a nós, evitando a aproximação de civis ou mesmo de inimigos. Só descansava de dia, quando todos nós já estávamos acordados.

- Quantos? Eu perguntei, notando que Ripper estava imundo da cabeça aos pés e bebendo avidamente uma garrafa de água.

Ele considerou por alguns segundos, depois se aproximando da mesa que eu possuía ali, mirou no mapa local a posição que queria:

- Tem cinco barracas a leste daqui – disse apontando no mapa – e mais duas barracas aqui.

Umas vinte pessoas, talvez trinta se as barracas fossem maiores. Ponderei por alguns segundos, decidindo evacuá-los de maneira mais discreta possível.

- Chame Juarez, diga para trazer a sua maleta de "espécimes".

Ele concordou, sorrindo, mas em seguida disse:

- Pensei ter visto crianças no grupo – seu semblante de repente pareceu preocupado – é melhor termos cuidado.

Acenei em concordância e ponderei uma solução mais branda. Depois de um tempo, concluí:

- Chame Anne Z também – notando que ele não compreendia, eu expliquei – ela vai conseguir se misturar aos turistas mais facilmente.

E ele foi, sem nem mesmo me questionar.

Eu aguardei por ela mais alguns minutos. Enquanto isso, Juarez já estava por ali, apresentando um resumo detalhado de cada efeito que suas "espécimes" causavam.

Anne entrava em minha tenda quando eu testava em mim, a picada que Juarez chamou de mais "branda". Doía como o inferno e na mesma hora, um vergão imenso se abriu no meu corpo.

Ela olhava arregalada, provavelmente sem compreender porque eu mesmo me causei aquilo. Fui logo a tranquilizando:

- Tem um grupo de turistas muito próximos daqui e precisamos retirá-los de lá – fiz sinal para se aproximar da minha mesa, apontando os locais de posição do grupo no mapa.

Ela acenou que compreendia onde era o lugar e eu continuei:

- Você e o novo recruta precisam se misturar entre eles. Há crianças por ali, Ripper disse que identificou na última patrulha que fez. Então, para não soltar alguma "espécime" perigosa para abaixo de 12 anos, preciso que você se infiltre – ela me olhava ainda concordando - e demonstre de alguma maneira que eles estão em perigo. E Anne – ela me olhou focada, aguardando maiores instruções – você também precisará levar um ferrão destes, do contrário eles não vão acreditar.

Ela arregalou os olhos mais uma vez para meu braço inchado, mas não se recusou. Virando-se para Juarez, nosso cientista biológico, que permanecia concentrado por ali, olhando sua própria maleta, ofereceu um braço sem pestanejar.

GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora