Capítulo 2 – Uma torre para um Rei (Anne Z)
A movimentação externa ao lado de fora da ADA estava grande. Carros e mais carros cercavam o perímetro, com manchas de óleo e frenagens por todo chão.
Eu avistei a torre de comando e dei o sinal conhecido pelos agentes. Passei meu punho esquerdo no visor e tive minha passagem liberada ao entrar pelos portões do QG central.
Os homens reunidos no pátio viraram seu rosto para me olharem quando perceberam minha presença. Mas mantiveram os olhos baixos, porque entre eles, eu era conhecida como a "princesa do castelo".
- Bem vinda de volta, Anne – ouvi o segundo no comando me chamar pelo primeiro nome. Com exceção dele e do meu pai, só era conhecida como "Agente Z".
- Oi – eu me aproximei com receio de que os demais notassem nossa falta de formalidades.
Ele reparou na mudança do meu visual, traçando uma mecha vermelha dos meus longos fios entre seus dedos, de maneira sutil.
- Você ainda pode me chamar de Tio – ele sorriu com os olhos, sem qualquer expressão de felicidade no restante do seu rosto. Ninguém mais fazia isso assim, tão bem, quanto ele.
- Eu não tenho mais idade para isso – sussurrei, na ponta dos pés, alcançando apenas a metade do seu tronco.
Ele se afastou, fingindo que nada aconteceu, caminhando na direção contrária da sala do meu pai. Provavelmente, estava retornando de lá.
Anunciei minha chegada na ante sala da Diretoria, e em poucos minutos, a porta se abriu.
Ele estava com a cabeça baixa, e tinha as mãos estendidas na linha do próprio corpo, caídas na lateral. E quando me olhou, mesmo demonstrando um sensação de alívio pela minha presença não foi suficiente para afastar toda a tristeza que havia em seus olhos.
- Saudades? Eu perguntei sorridente, fingindo que não notava algo de errado com ele. Esse cargo estava lhe matando aos poucos e piorava a cada dia.
Ele me olhou, e suspirando pesadamente, me envolveu com seus braços fortes.
- Muitas, Anne, que eu não poderia nem contar – sua proximidade sempre me desconcertou.
Mas as manifestações de carinho se intensificaram nos último anos e eu tinha convicção de que só era enviada para missões que não envolvessem grandes perigos ou que não fossem isoladas de sua proteção.
- O que me trouxe aqui, de verdade, pai?
Ele recuou com minhas palavras, até se encostar na mesa grande posicionada atrás. Passou as mãos pelo cabelo e depois retirou um papel cuidadosamente da sua gaveta. Reticente, ele o estendeu a mim.
Li em poucos minutos e até identifiquei a passagem da bíblia, escrita em latim.
- Não é a primeira e nem vai ser a última vez que ameaçam a ADA – eu falei descrente.
- Mas foi a primeira vez que cumpriram – ele cruzou os braços na altura do corpo – a base da Alemanha caiu nessa manhã.
- Como? Eu perguntei confusa.
- Ataque no meio da madrugada, com fuzis de longo alcance e muita luta corporal – ele balançou a cabeça de maneira exausta e continuou – cinquenta agentes mortos, Anne. Dos melhores que temos no mundo.
- Oh Meu Deus... – eu me afastei dele, tentando me apoiar na parede. Ele permaneceu na mesma posição, mas de cabeça baixa, processando a perda mais significativa de agentes que já aconteceu na história da ADA.
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Gabriel
Mistério / SuspenseEle tinha um segredo. Ela, um passado. Livro 3 - Série Ripper Publicação semanal. Início: 01/02/2018