O Outro Lado Da Moeda

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Naruto on:
Eu não acredito que finalmente voltamos pro Japão e estamos indo pra Konoha, faz tanto tempo... Eu senti tanta saudade da cidade, dos meus amigos e, principalmente, senti saudade dela. Hoje a Hinata deve me odiar, até eu me odeio, não por abandonar ela grávida, porque eu jamais a abandonei, não por querer e não em pensamento, pois eu penso nela em todos os momentos, nela e no bebê que ela tava esperando, eu me odeio por não ter lutado pra ficar. Merda, como eu me arrependo de não ter enfrentado esse porra que é o meu pai. Eu devia ter enfrentado ele e o mundo se preciso fosse pelo meu filho e pela mulher que eu amava, mas eu sou um idiota...
- Já pode parar de procurar aquela golpista por ai... - esse é o Minato, meu pai, o cara que fodeu com tudo. - No máximo ela deve estar sendo empregada doméstica em alguma casa, como é o lugar dela!
- Fale assim dela de novo e eu quebro seus dentes, Minato! - nem adianta me olhar assim, ajeito esse olhar torto na porrada.
- Calma, Naruto! - cala a boca também, Shion, tu que deu com a língua nos dentes! Ela é minha irmã, a adotada, ela que contou que eu tava com a Hinata pro Minato, eu ia meter o pé com a minha namorada, ter meu filho longe, criar ele com ela numa boa, mas não, quando fui ver tava era dentro de um avião, sem ter como avisar pra ela. Eu devia ter pulado daquele avião, pelo menos eu não teria passado todo esse tempo me sentindo um lixo.
- Fica na tua, adotada! - eu nunca me liguei muito nisso, mas depois que ela fodeu a minha vida, eu jogo isso na cara dela sempre que posso. - Se não fosse pela mamãe, eu nem olhava na cara de vocês! - minha mãe não tem culpa de nada, ela é uma santa, até queria que eu ficasse com a Hinata, mas ela tem Alzheimer, precisa ficar com o Minato, que pelo menos serve pra cuidar dela, e romper relações com ele seria deixar ela pra trás. Mesmo ela não lembrando de mim, eu ainda amo a mamãe.
- Um dia você ainda vai me agradecer, filho.
- Nossa, senhor Namikaze Minato, muito obrigado por ter me separado da mulher que eu amo e do filho meu que ela tinha na barriga, nossa, como foi bondoso de sua parte! - não adianta ficar assim, já fodeu minha vida como bem quis, já estamos quites e nem dele eu dependo mais, graças a Deus que eu me viro com os meus desenhos, os desenhos que ela me inspirou a fazer. Hinata... Eu sinto um aperto no peito só de imaginar o que ela pode ter passado, sacou? O pai dela deve ter botado ela na rua, fez isso com a Hana, irmã dela que era uma menina quase, imagina com ela? Uma menina tão doce, tão pura, tão frágil e tão meiga quanto a Hinata deve ter sofrido muito na rua, ainda mais grávida. Meu filho... Deve ter uns 3 anos hoje em dia o moleque, será que ela teve ele? Será que eles ainda estão vivos? Você ta confuso? Ta bom, vou contar. Há uns 4 anos, mais ou menos, eu conheci a garota mais maravilhosa desse mundo, eu gostava dela de verdade, como nunca gostei e nunca viu gostar de nenhuma outra. Ela tinha uma inocência que encantava qualquer um, não foi diferente comigo. Eu conheci ela quando decidi deixar aos poucos o mundo que o Minato criou pra mim, ele queria que eu fosse médico cirurgião igual a ele, mas eu não, eu desde cedo queria ser desenhista, ao menos isso ele não tirou de mim. Eu tive que ir pra uma escola de desenho numa espécie de vila de subúrbio que tinha na cidade, porque ele fez com que nenhuma escola de desenho do centro me aceitasse, mas foi algo bom, vivi os melhores momentos da vida lá, fiz vários amigos de verdade, vivi a vida que eu sempre sonhei em viver, algo de verdade, longe dessa gente que me bajula por causa dessa merda de sobrenome. La ninguém sabia quem eu era, só sabia que eu era um amigo e gostavam de mim assim mesmo, principalmente ela, ela me amava de verdade, não foi a toa que ela se entregou pra mim, numa noite linda, tão linda quanto ela.

"Até hoje eu lembro daquele risinho meigo dela, um pouco nervoso, indeciso... Ela me encantava de verdade, eu gostava da Hinata, na verdade, eu amava a Hinata!
- Promete que vai ser gentil comigo? - eu só beijei ela com calma, pra deixar ela relaxada.
- Eu já disse que vou com calma, Hina, mas se você não quiser... - ela tinha enrolado o pai só pra ficar comigo no quartinho que eu morava no bairro da escola, mas eu nem esperava que ia rolar de transar com ela, sempre vi ela como uma mina toda pura, inocente, bateu até a culpa de corromper ela, mas quando eu percebi, ela já tava com as unhas cravadas nas minhas costas, toda corada, com vergonha de estar ali comigo, mas sem intenção nenhuma de parar, gemendo o meu nome, mordendo meu ombro enquanto eu metia nela. O foda disso de eu não estar esperando isso é que eu não tinha uma camisinha sequer em casa e, na hora, eu nem pensei em gozar fora, nisso, três meses depois...
- N-naruto... - ela tinha me falado que a menstruação tinha atrasado, eu já tinha notado que ela tava mais gordinha e tal, por isso eu paguei um exame pra ela. Ela veio toda acanhada me mostrar, quase chorando. - D-deu positivo! - acho que aquele foi o momento mais feliz da minha vida! Eu só abracei ela forte, porra, e daí que a gente não tinha nem 20 anos? Ela ia ter um filho meu, já tava imaginando como ia ser minha vida com ela e o moleque, ajoelhei e beijei a barriga dela com um carinho que eu nunca achei que ia sentir.
- Acho que eu sou o homem mais feliz do mundo, minha lindinha vai me dar um filho... - na hora eu já pensei em como fazer, eu ia passar em casa só pra pegar umas roupas e uma grana que eu tinha guardada, dar um beijo na minha mãe, que na época ainda não tava com a doença avançada assim, mas foi ai que eu cometi o maior erro da minha vida.
- Que sorriso bonito, Naruto, viu o passarinho verde? - meu erro foi contar pra minha querida irmãzinha.
- Eu vou ser pai, Shion, eu tô feliz demais, a minha lindinha vai me dar um filho... - ela fez uma cara que até hoje eu não sei decifrar, mas eu não liguei na hora, tinha que sair de casa logo. Quando eu peguei tudo, botei na mochila e fui pra porta...
- Onde você pensa que está indo? - eu gelei quando ouvi a voz do Minato, ele era a única pessoa que eu não queria ver. Eu olhei pra trás, la tava ele com aquela cobra atrás dele, na hora eu entendi tudo.
- Porque você abriu a boca? - nunca vou entender porque ela fez aquilo, porra... - Se eu soubesse que tu ia me fazer uma dessas, em vez de você eu tinha pedido pra mamãe adotar um gatinho!
- A sua irmã não fez nada de errado, só me fez te impedir de fazer uma besteira! - besteira...
- Você chama seu próprio neto de besteira? - ele fez uma cara de desprezo que me faz ter nojo dele até hoje.
- Quem garante que essa menina está grávida de você? Vai ver ela engravidou de qualquer um e só ta te dando um golpe... - nem esperei ele terminar de falar, dei foi um soco na boca dele.
- Lava a boca pra falar da minha Hinata, ela é mais digna que você! - ele pôs a mão no rosto, meio chocado, com a Shion cuidando dele. - Fica com a sua filhinha perfeita futura médica, você não manda em mim! - eu já era emancipado, minha mãe assinou o documento, mas foi ai...
- Que eu saiba, a sua mãe não está saudável das faculdades mentais... - se ele quisesse, era só pedir anulação dos atos da minha mãe, o que provavelmente faria ela ser internada numa clinica de repouso.
- Você não pode tá falando sério... - ele tava me ameaçando, deixando claro que se eu fosse ele ia jogar a minha mãe, a própria esposa dele, num desses manicômios imundos e não parou por aí!
- Você vai com a gente pra Chicago, agora, e aí de você se falar alguma coisa contra, aliás, ai de você não, aí daquela golpistinha interesseira! - eu fiquei sem ação nenhuma. Ele tava ameaçando a Hinata, se eu fosse, ele ia fazer mal pra ela. Talvez fosse só um blefe, mas, porra, ele tava disposto a botar a mulher que jurou amar e respeitar pelo resto dos dias dele em um manicômio, como assegurar que ele não ia mesmo fazer mal a ela e ao meu filho? Nesse meio tempo, a cobra que eu chamo de irmã trancou a porta da sala, tirou a chave e pegou o celular da minha mão, entregando pra ele. Nessa hora, a Hinata ligou e ele foi todo grosso com ela.
- Nunca mais ligue para o meu filho, você não passa de uma vagabunda interesseira! - me subiu um ódio, mas, o que eu podia fazer além de bater nele? - Me bata o quanto quiser, com essa golpista você não fala nunca mais na sua vida! - quando eu vi, já tava chorando dentro de um avião. Eu fui fraco? Fui, eu devia era ter peitado o Minato, derrubado ele e a Shion, pegado meu celular, as chaves e ter corrido atrás da Hina e do meu filho, mas eu tive tanto medo dele fazer mal à eles, só de pensar nela morta e tal, eu chorava mais ainda. Meio que eu preferi sair como o cafajeste que abandonou a namorada grávida do que acabar sendo responsável pela morte dela, mas hoje eu me arrependo, eu devia era ter enfrentado ele e até morrido por ela e o bebê!"

Tanto tempo que eu não pisava nessa casa, só de olhar pra essa sala eu lembro de tudo, chega a doer o meu peito.
- Bem vindo ao lar, m...
- Cala a boca, encontrada no lixo! - não, eu não tenho pena de tratar ela assim, assim como ela não teve pena de mim e da Hinata.
- Poxa, mano, quando você vai me perdoar?
- Quando você encontrar um jeito de voltar no tempo e me impedir de contar pra você que ia ter um filho com a Hinata! - não sei onde eu tava com a cabeça quando achei que podia confiar nela. Eu nunca devia ter tido pena dela quando achei ela na rua. - Eu te tirei da rua, Shion, você tava com frio, fome, pedi pros meus pais te adotarem e olha como você me pagou? Eu te dei uma familia e você me tirou a minha...
- Você só ia se juntar com uma qualquer que ia atrapalhar a sua vida... - eu só não bato nela porque ela é mulher!
- Ela é mais digna que você! - ela devia ser a filho biológica do Minato, não eu! Ela sempre foi a perfeitinha, a que quis ser médica como ele, a que fazia tudo o que ele gostava... Deixa ela pra lá, eu quero descansar e fazer meus desenhos. Nossa, quanta poeira! Na comoda ainda tem o retrato dela, a gente tirou no dia que ela falou que tava gravida, eu tenho uma cópia dela que eu fiz em desenho na carteira. - Eu sinto tanto a sua falta, lindinha... - abracei o porta retrato e me joguei na cama, chorando de novo. Eu fui um burro, um idiota, um fraco que teve vergonha ate de procurar ela depois, mandar uma mensagem, mas também, quando eu tive coragem de fazer isso ela já não tinha deixado rastro, sumiu completamente, não tinha mais nenhum registro de Hyuuga Hinata, não sei nem se ela e o bebê tão vivos, só de imaginar que não, meu peito dói. Eu devia ter ficado, eu devia ter ido até ela, fugido com ela daqui e recomeçado em outro lugar, ter a minha familia longe da familia do Minato, mas eu fui fraco e não posso voltar atrás, aliás, eu nem posso esperar que ela ainda sinta algo por mim ou que me perdoe, eu não tenho esse direito! Meu celular tocou, provavelmente é o Jiraya, meu padrinho, deve estar ligando pra falar do projeto que tá montando. - Fala, seu tarado! - ele é bem, digamos... Tarado! Vive nos bordéis da vida atrás de prostitutas porque diz que uma vez se apaixonou por uma delas e até hoje procura por ela.
- Chorando pela tal "lindinha"? - sempre! - Quando se recompôr e descansar, passa aqui, pra gente resolver isso dos palhaços...
- Vai fazer isso por todas as escolas e creches mesmo? - lidar com crianças meio que preenche meu vazio de não ter conhecido o meu filho, entende? Fazia isso em Chicago e quero fazer isso também aqui.
- E em hospitais também! - isso vai ser legal, vai me acalmar um pouco! - Até mais, Naruto!
- Até mais... - desliguei o telefone, apesar de meu corpo estar cansado e meio abalado pela mudança de fuso horário, minha mente quer desenhar, desenhar como se não houvesse amanhã, desenhar o rosto dela! Eu to fazendo um mangá, um mangá de temática um pouco pesada, sobre uma máfia chefiada por uma mulher, não sei porque tive essa ideia, mas acho que vai ser bom. Porque uma mulher? Porque foi a forma que eu encontrei de poder desenhar ela, a Hinata é a minha protagonista, a líder, a toda poderosa do universo do meu mangá, se bem que eu jamais imaginaria ela como sendo uma mafiosa, ainda mais que ela sempre foi toda inocente, meiga, pura... Eu só preciso estudar bastante sobre máfias, talvez visitar alguns bordéis com o Jiraya pra fazer um bom estudo desse submundo, porque sobre isso eu não sei nada, até agora só fiz um esboço, porém, acho que minha mente vai deixar eu descansar um pouco antes de eu dormir e sonhar com ela, sonhando com o que teria acontecido se estivéssemos juntos, como seríamos uma família feliz, ou tendo pesadelos com o que ela poderia ter enfrentado na rua depois que eu fui embora, grávida, pesadelos que me atormentam sempre. Bem, o que me resta é dormir, dormir com a esperança de ter um sonho bom, um sonho onde eu não fui um fraco medroso e sim um homem, um pai de família como ela queria que eu fosse pro nosso filho. Hinata, onde será que você está? Será que, um dia, a gente vai se encontrar de novo?

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