O4. an antisocial pessimist

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Abril de 2018, 4 meses depois...


     Fazia uma tarde chuvosa, o céu estava fechado por um lençol, nuvens escuras e o vento forte fazia as árvores balançarem do lado de fora, suas folhas caíam e voavam com ele, soprando pela rua deserta. Eu estava no quarto deitado na minha cama enquanto olhava fixamente para o teto, apenas esperando que o tempo passasse. Mas ele parecia ter perdido essa capacidade desde que Chen foi embora.
      Peguei meu celular para olhar as horas, já era quase noite, embora o tempo fizesse parecer que o dia já havia ido há muitas horas atrás. Sentei na janela, observando agora a chuva que começou a cair fraquinha.
      Nunca entendi muito bem o clima daquela cidade, mesmo após o rigoroso inverno já ter passado há um tempo, o ambiente não parecia muito disposto a abraçar a primavera ainda, pois a chuva grossa continuava a castigar durante as noites e perdurava, mais amena, durante o dia.

      O relógio decidiu ser generoso comigo, pois quando me dei conta já eram 19h00. As nuvens estavam tão densas que o céu chegava a brilhar refletindo as luzes urbanas. Minha garganta estava seca e desci até a cozinha para beber um pouco d'água. Enquanto colocava a jarra de volta na geladeira mamãe chegou como um vulto às minhas costas sem que eu a visse.

      — Minseok — tomei um leve susto ao ouvir a sua voz de repente. Peguei o copo da bancada e me virei para ela.

      — Oi, mãe.

      — Você não saiu do quarto o dia inteiro — disse, cruzando os braços.

      — É... eu não tinha muito o que fazer, aproveitei pra dormir até mais tarde antes de adiantar alguns trabalhos — falei, tomando um gole da água. — Você precisava de ajuda?

      — Não. Digo isso porque você tem passado tempo demais entocado, mesmo quando tem aula. Isso me preocupa, querido. Você deveria sair mais com seus amigos... — Ela dizia aproximando-se e pôs suas mãos em meu rosto. — precisa se divertir, mesmo que um pouco.

      — Omma... — falei, olhando para baixo, pedindo de uma forma sútil que parasse.

      — Tudo bem, boa-noite, eu já vou deitar, estou um pouco cansada. Vê se come alguma coisa, deixei espaguete em cima do fogão — finalizou com um sorriso de canto e um beijo na minha testa, indo em seguida para o seu quarto. Apaguei a luz da cozinha assim que a ouvi bater a porta e fui também de volta para o meu, nem cheguei a verificar o espaguete, não estava com apetite.

      Tao havia me enviado uma mensagem. Disse que poderia faltar na faculdade no dia seguinte, pois estava com uma virose. Respondi a ele um "tudo bem", peguei meus fones e deitei. Nós estávamos em cursos diferentes, mas frequentávamos o mesmo campus no mesmo horário, então sempre acabávamos nos encontrando por lá.
      Acordei às 6h10, como de costume. Esfreguei os olhos me espreguiçando na cama e levantei para tomar um banho antes de ir para a faculdade. Abri o guarda-roupas para procurar o que vestir, mas só vi as roupas surradas que usava para ficar em casa. Naquela hora eu desejei que tivéssemos um uniforme, minhas roupas estavam todas sujas, havia esquecido de pôr na máquina de lavar há pelo menos uma semana. Cheguei no cesto de roupas sujas que ficava no meu banheiro e escolhi algumas de cima que fediam menos, um banho de perfume e um pouco de desodorante resolveria qualquer odor desagradável nelas.

      — Bom-dia! — mamãe, que já estava sentada tomando sua típica xícara de café extra-forte, falou ao me ver chegar na cozinha.

      — Dia — respondi, tentando fingir algum ânimo e me sentei também.

      Tomamos o café da manhã em silêncio, o que eu particularmente gostava, me fazia poupar energias para lidar com as pessoas na faculdade. Quando o intervalo tocou, corri até o banheiro, pois havia segurado a vontade durante todas as aulas anteriores; não que fôssemos obrigados a permanecer nelas, mas, diante da minha situação nas últimas provas, não podia simplesmente me dar o luxo de perder explicações importantes.
      Na pressa em entrar acabei esbarrando com um garoto na porta e seu celular caiu deslizando pelo chão. Pedi desculpas e recolhi o objeto, que foi parar próximo de uma pilastra, o entregando. Nos olhamos por um momento, ele era bonito até, embora tivesse a mesma altura que eu aparentava ser mais novo, seus cabelos pretos e lisos cobrindo a testa lhe davam uma cara de nerd. Não ficaria surpreso se ele fosse membro do fã-clube de Star Wars ou fizesse parte do time competitivo de DOTA do campus.

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