O8. what if...

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      Meu celular vibrava incansavelmente ao lado da minha cabeça e isso foi o que me fez despertar naquela manhã. Esfreguei os olhos enquanto bocejava e o peguei para ver quem era, mas minha visão estava embaçada e o máximo que pude fazer foi arrastar um botão verde que se destacava na tela.

      — Alô?

      — Acordou agora? — reconheci a voz de Tao. — Enfim, só liguei pra perguntar se precisa de algo...

      — Sim, voltar a dormir. E pode falar pra minha mãe que eu não preciso de uma babá — falei, desligando em seguida antes que ele pudesse responder.

      Esfreguei os olhos mais uma vez e agora podia ver o quarto de forma nítida. Olhei para o lado e vi Chen dormir pacificamente, o edredom que apenas cobria nossos pés evidenciava seu corpo nu em meus lençóis escuros. Por um segundo fui invadido pelas memórias daquela noite e aos poucos elas iam despertando dentro de mim. Eu estava anestesiado por aquela sensação. Embora parte de mim se recusasse a acreditar que realmente tinha acontecido, a outra parte, entorpecida pelo cheiro de Chen, manipulava meus sentidos, fazendo com que eu conseguisse experimentar os seus dedos caminhando pela minha pele e os seus lábios brincando com os meus, como se ainda estivesse acontecendo naquele exato momento.
      Levantei devagar para não acordá-lo e vesti minha roupa que estava ao pé da cama. As dele estavam espalhadas por todo o chão, peguei e as coloquei em cima da escrivaninha, onde ele pudesse vê-las quando acordasse. Enquanto me espreguiçava me pus a observá-lo cautelosamente, ainda com aquele sorriso bobo de êxtase estampado no meu rosto, como se tivesse recebido uma ótima notícia logo pela manhã.

      Desci para fazer o café da manhã e não houve sequer um minuto em que eu não lembrasse de Chen me agarrando como se eu estivesse prestes a desvanecer de seus braços como um punhado de areia no vento. Talvez eu estivesse me importando demais, o que não era bom, mas como poderia simplesmente não me importar? Estive esperando por isso por tanto tempo. Ter Chen entregue a mim e me ter entregue a ele. Era como se eu estivesse em um daqueles sonhos em que desejamos nunca acordar. Cerca de meia hora depois o vi descer as escadas rapidamente. Ajeitava seus cabelos com os dedos e passou tão rápido que nem me viu.

      — Chen?! — falei alto, para chamar sua atenção.

      — Ah, oi... não te vi aí. — Ele que já estava com a mão na maçaneta da porta, pronto para ir, virou-se para mim.

      — Tá com pressa, aconteceu algo? — franzi a testa. — Fiz café da manhã pra nós dois, você não quer comer?

      — É... eu preciso ir, se não se importa, eu realmente preciso ir agora... Titia ligou avisando que meu cachorro não amanheceu muito bem...

      — Pera, você tem um cachorro? — perguntei confuso, Chen nunca havia mencionado e ele sabia o quanto eu gostava de cães.

      — É, ganhei faz pouco tempo... devo ter esquecido de te contar...

      — Tudo bem... me avisa qualquer coisa...

      — Ok... — assentiu, saindo rapidamente em seguida.

      Sentei-me à mesa com a cabeça apoiada sobre meu braço e comecei a comer lentamente, buscando evitar certos pensamentos intrusivos que aos poucos iam sufocando aqueles bons. Por um momento ele me deixou preocupado, mas e se... Não, Chen não faria isso comigo... me obrigava a pensar.
      Após comer as duas porções do café da manhã que havia preparado, subi para o meu quarto onde tomei um banho rápido e depois fui me deitar novamente, afinal, ainda era cedo. O cheiro de Chen estava impregnado nos meus travesseiros, os quais fiz questão de afundar meu rosto e apertar com as mãos enquanto me envolvia com o edredom e voltava a pegar no sono rapidamente, enlaçado pelo seu perfume. Acordei horas depois com a campainha tocando, estava em um sono profundo e por isso demorei a perceber que precisava levantar e atender a porta.

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