O3. november was white, december was grey

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      Ao acordar não vi Chen no quarto e por um momento pensei que já tivesse ido para casa, mas por que tão cedo e sem me avisar antes? Levantei rapidamente e comecei a procurá-lo em silêncio pela casa, pois não queria acordar mamãe. Assim que desci as escadas, vi de relance uma silhueta através da janela da sala e o encontrei sentado na varanda, segurando as pontas dos pés como se quisesse esquentá-los com o calor das mãos.

      — O que tá fazendo aqui fora? — perguntei, esfregando os olhos e bocejando.

      — Nada, só tava esperando você acordar.

      — Vem, entra. Tá frio — deixei a porta aberta e ele me seguiu até a cozinha, onde comecei a vasculhar os armários em busca de algo para comermos. — Você deve tá morrendo de fome, não é?

      Antes de preparar alguma coisa para comer, enchi um copo com água e o entreguei junto de um comprimido que peguei de uma caixinha de medicamentos no balcão.

      — Pra sua dor de cabeça.

      Seu olhar confuso dizia: Como você adivinhou?, e eu apenas dei um sorriso de canto. Não era muito difícil deduzir isso depois da situação em que o vi na noite passada, Chen não era acostumado a beber, não que eu soubesse, e muito menos na quantidade em que o fizera. Logo depois preparei nosso café da manhã, ovos mexidos com arroz que havia sobrado da janta e sentei-me, apenas o vendo comer até a última parte.

      — Hyung, você pode me dizer o que aconteceu e como vim parar aqui? Não consigo lembrar de absolutamente nada...

      — A gente tava na casa do Tao ontem à noite...

      — Isso eu lembro.

      E então contei como havia me distraído tempo suficiente para que ele perdesse o controle.

      — Como já era tarde, preferi que dormisse por aqui mesmo. Até porque eu não te deixaria ir pra casa no estado que tava, seria outra dor de cabeça pra você se seu pai ou sua tia te vissem chegando em casa daquele jeito — falei e Chen respirou fundo após engolir a última colherada. — Tem certeza que não se lembra de nada?

      — Felizmente não.

      Passamos o resto da manhã no meu quarto conversando e pesquisando formas de induzir memórias. Chen se recusava a acreditar que era possível alguém simplesmente esquecer uma noite inteira e, embora realmente fosse bom poder esquecer uma noite assim, eu podia ver a aflição em seu rosto por tentar lembrar-se do que aconteceu, mas sem sucesso.
      Estávamos jogando uma partida de xadrez quando meu celular começou a vibrar debaixo do travesseiro, recebendo uma mensagem atrás da outra. Tentei ignorar, pois estava concentrado no jogo, Chen estava apenas há algumas peças de me vencer pela quinta vez seguida, mas assim que as mensagens pararam, começaram as ligações e ele me pediu para atender.

      — Oi, Tao, o que você quer?

      — Quero que você me diga o que aconteceu — disse apressadamente me ignorando.

      — O quê?

      — Xiumin, pelo amor de Deus, o Chen dormiu aí, não me diga que vocês não deram nem um beijinho.

      — Quê? Tao, você ficou doido? É claro que não... — olhei para Chen, que analisava absorto o tabuleiro como se estudasse sua melhor tática, e minhas bochechas ficaram mais vermelhas que o normal. — Olha, mais tarde nos falamos. Tchau! — Quando desliguei, Chen parecia confuso e perguntou por que eu estava quase roxo, fiz um gesto com as mãos para que ele esquecesse isso e voltássemos a jogar.

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