11. not even the sea

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      Eu nunca estive tão confuso. O que havia acontecido com aquele Chen que se arrependia profundamente das coisas que havia feito comigo? Isso estar acontecendo mais uma vez, como um ciclo vicioso, não era justo comigo. Embora eu quisesse mais do que qualquer outra coisa tê-lo para sempre daquela forma, algo em mim foi maior que essa vontade, talvez um resquício de bom senso que devia ter restado nos confins do meu ser. Mesmo que aquele momento significasse muito para mim, eu sabia que seria apenas aquele momento e que depois Chen poderia, e com certeza iria, simplesmente repetir a dose de incerteza. E eu já sabia como esse filme acabava.

      — Jongdae... para com isso agora. — Me soltei dele violentamente e me afastei, deixando-o sem reação.

      — Mas por quê? Você quer isso tanto quanto eu! — Ele me olhou confuso.

      — Esse é o problema. Eu não sei o que você quer... O que diabos deu em você? Eu não quero que haja mais "mal entendidos" entre a gente. É melhor pra mim e pra você. — Chen me olhou em silêncio. Sua expressão de decepção estilhaçou meu coração, mas não deixei que me abalasse. — Você é inconsistente e eu tenho medo disso. Uma hora você quer e na outra já não quer mais... Eu... acho melhor eu ir embora agora — falei, ajeitando meu casaco. A textura macia do algodão me lembrou sua pele, que eu estava tão desesperado em tocar naquele momento, mas não podia me entregar mais uma vez. — Foi bom te ver, mas foi apenas pra isso que vim aqui... Pra te ver...

      Essas foram as últimas coisas que eu disse antes de sair pela porta. Parei um momento do lado de fora para respirar fundo e me recompor, foi quando me assustei ao ouvir o som abafado de Chen socando a parede com tanta força que, pelo barulho que se fez em seguida de vidro quebrando, provavelmente havia derrubado um quadro. Chen normalmente era a pessoa mais calma que eu conhecia, mas durante momentos de emoção costumava ter acessos de fúria. Eu sempre o ajudava, impedindo que ele ultrapassasse os limites e fizesse algo estúpido. Eu era seu porto seguro em dias turbulentos... mas daquela vez eu não poderia assumir esse papel.
Antes de ser o seu porto seguro, naquele momento mais do que nunca, eu precisava ser o meu.

      Quando cheguei em casa vi que as luzes estavam acesas, provavelmente eu as havia esquecido de apagar antes de sair. O choro que guardei durante todo o caminho se desfez em uma enxurrada quando pude me sentir seguro entre as paredes de casa. Dei uma volta na chave e encostei minha cabeça na porta. As lágrimas caíram no chão, uma a uma, e eu não podia fazer nada para impedi-las, tampouco queria. Talvez fosse melhor extravasar como uma torneira humana do que atravessando meu pulso pela parede da sala de jantar.

      — Minseok? — Uma voz me chamou baixinho às minhas costas. Por um segundo achei que fosse minha sombra, vindo reivindicar sua parte da minha tristeza, mas era doce e zelosa demais para ser ela.

      — Omma...

      Eu me virei e fui até ela para abraçá-la, que sem questionamentos me acolheu em seus braços abertos e me fez carinho, me fazendo lembrar de quando eu era apenas uma criança aterrorizada após um pesadelo, sendo confortada daquela mesma maneira. Eu precisava tanto daquele abraço. Um abraço que somente ela poderia me dar.

      Àquela noite eu me deitei para dormir e, por um milagre, foi tudo o que eu fiz. Sem mais lágrimas ou pensamentos distantes. Talvez já tivesse chegado no limite da exaustão mental com isso. No dia seguinte me levantei cedo para me arrumar para a faculdade, murmurando por ter que levantar às 6h da manhã em um sábado, mas era dia de apresentação de um projeto de pesquisa, então não poderia nem sonhar em faltar ou mais da metade da minha nota iria pelos ares (e eu já não estava com um histórico de que me orgulhar, vamos dizer assim). Quando estava descendo para comer algo mamãe me abordou.

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