O6. jupiter is in your eyes

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      O baile de fundação da faculdade seria em dois dias. Havia uma certa competição entre os garotos na semana anterior para estarem com as meninas mais bonitas e populares do campus, alguns até chegavam a sair no soco na hora do intervalo, brigando pela mesma garota. Uma ótima demonstração de como o reino animal funciona, diga-se de passagem. Quis falar com Soo para perguntar se ele ainda queria ir à festa, mas sempre outras coisas acabavam me ocupando e eu esquecia.
      Desde a última vez em que falei com Chen não tive mais contato com ele, as chamadas sempre iam para a caixa postal e as mensagens nem chegavam. A ansiedade que já me tomava agora juntava-se à preocupação por não saber o que podia ter acontecido para estar tão inacessível assim. Mas tentei manter a calma, não devia ser nada demais. Convidei Tao para dormir na minha casa aquela noite, não havia nada que eu gostasse mais do que passar a madrugada conversando com ele e tentando rir baixinho enquanto minha mãe, vez ou outra, resmungava para que fôssemos dormir.
      Quando ele já estava arrumando a mochila para ir embora na tarde do dia seguinte insisti que ficasse só por mais uma noite. A presença de Tao realmente me fazia bem, era bom ter alguém com quem conversar às vezes. Ele não pretendia ficar, mas bati o pé e fiz bico, assim ele não resistiria.

      — Tá bom, Xiumin, eu fico, mas vou precisar pegar mais algumas roupas em casa — assenti e o chamei para ir até a cozinha para comermos algo.

      Enquanto eu preparava nosso lanche, ouvi o céu roncar furiosamente e em seguida uma chuva forte caiu. Aquela semana prometia. O temporal durou o dia inteiro e não parou por nem um segundo. Tao foi à noite em sua casa buscar algumas roupas e ao voltar subimos para o quarto onde ficamos conversando e ouvindo músicas no computador até de madrugada quando a energia caiu. Acendi a lanterna do celular e desci para ver se minha mãe havia acordado, mas não tinha ninguém além de mim e Tao perambulando pela escuridão.
      Eu sairia para ver as estrelas, como sempre fazia quando não tinha luz, mas a chuva ainda castigava e parecia estar cada vez mais forte. Nós dois ficamos jogando papo fora até que Tao acabou pegando no sono. Eu estava no acolchoado sob a janela, apenas fechei a persiana para evitar os clarões dos relâmpagos e também adormeci embalado pelo barulho e o frio da chuva.

      O dia amanheceu e continuávamos sem eletricidade. Para passar tanto tempo assim provavelmente a tempestade havia danificado a rede e agora só nos restava esperar pelo reparo, mas pelo menos a chuva havia dado uma trégua, embora o tempo ainda continuasse decididamente fechado. Tao ficou lá em casa mesmo, já que à noite iríamos juntos à festa.
      As luzes se acenderam por volta das 16h00. Às 20h00 já estávamos prontos e seguimos para a faculdade, Tao parou no estacionamento e precisamos andar alguns metros, evitando poças d'água no caminho, até o ginásio do outro lado do campus, onde aconteceria o baile.‎ Eu olhava de um lado para o outro à procura de Soo, mas não o via. Deveríamos ter buscado ele em casa, falei, correndo os olhos entre a multidão. Tao deu de ombros e saiu de perto de mim, voltando minutos depois com dois copos cheios de bebida e me entregou um.

      — Só não fica como o Chen, hein?! — disse e eu ri.

      — Pode deixar — respondi.

      O tempo foi passando e eu continuava ali no meio daquela aglomeração toda ainda procurando por Soo de vez em quando. Tao havia saído com Kris e desapareceu fazia meia hora. Eu já havia bebido o suficiente para começar a sentir um calor insuportável naquela roupa engomada, mesmo que fizesse uma noite fria. Saí para o gramado para tomar um ar, desabotoei o blazer e subi as mangas para permitir que minha pele respirasse um pouco.
      Minhas pálpebras estavam pesadas por conta do álcool e, se virasse a cabeça muito rápido, as coisas giravam um pouquinho antes de ficarem fixas de novo. Sentei-me na grama da parte coberta do estacionamento. Havia alguém ao lado que não reconheci a primeiro momento e também não me importava. Eu só queria que meu corpo parasse de suar e pinicar, arranquei a gravata borboleta com certa violência para poder desabotoar a gola também.

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