12. no drug like him

124 23 52
                                    

      Estive refletindo por muito tempo sobre mim e que rumo as coisas haviam tomado ao saírem do meu controle, se é que em algum dia já tive algum. Me afundei em uma onda de indisposição que me mantinha como uma gosma pegajosa. Estava quase me fundindo aos móveis do quarto, na esperança de que em algum momento esse sentimento se tornasse mais ameno, pois todos os lugares em que fomos juntos, Chen e eu, tornaram-se gatilhos para as minhas crises.
      Bastava um tempo observando a mesma paisagem para uma noite em claro, e aquela cidade nunca foi muito grande afinal. Precisei ficar mais forte, embora estivesse muito fragilizado ainda, meus demônios interiores se alimentavam daquela angústia interminável e ganhavam forças com isso, sobrava para mim confrontá-los antes que eles me consumissem, e esse, honestamente, era um dos piores momentos.

      Estar longe de Chen, ao contrário do que eu imaginava, era mais destrutivo com o tempo do que estar com ele. É certo que ele me machucava, mas ele também possuía a cura de que eu precisava, e somente ele poderia reparar as feridas que fazia em mim, ou pelo menos era no que eu acreditava.
      Pela primeira vez eu estava feliz em estar na faculdade mantendo minha mente ocupada, por mim ficaria lá o dia inteiro servindo em qualquer lugar que fosse solicitado e até adiantando trabalhos inexistentes que nem haviam sido dados ainda. Talvez essa saturação mental me ajudasse a esquecer meus reais problemas.
Tao havia me chamado para assistir com ele o treino de Kris após o intervalo. Entrando na quadra eu procurei por ele nas arquibancadas e o vi do outro lado acenando para mim.

      — Como você aguenta todo esse barulho? — perguntei, fazendo cara feia e me sentando ao seu lado.

      — Eu tô mais ocupado observando ele — disse, sorrindo e olhando para Kris que retribuiu o sorriso com uma piscadela, quase levando uma bolada na cara.

      — Ah, claro... — revirei os olhos.

      — Esqueceu de cobrir suas olheiras mais uma vez.

      — É, eu já não faço mais tanta questão assim de esconder... — falei suspirando.

      — O problema ainda é o Chen, não é?

      — Já não sei mais se o problema é ele ou a minha mente que constantemente se vira contra mim. Ou os encontros que tenho sozinho tarde da noite em algum lugar nostálgico.

      — Você pretende conversar com ele ou vai esperar que todos esses sentimentos aí guardados desapareçam magicamente? Os problemas não se resolvem quando a gente decide ignorá-los. Você já deve ter percebido isso.

      — Não precisa ser irônico... e sim, eu tive pensando em uma conversa, mas... — suspirei. — eu não tenho certeza se quero olhá-lo nos olhos de novo, talvez isso só me deixe pior...

      — Mas talvez assim você se cure mais rápido. Se você não tira o arpão alojado aqui — disse, tocando o meu peito com o indicador —, como espera que pare de doer?

      — E o que você sugere que eu faça? Uuuhh... — Naquele momento Kris tentou pegar a bola de um dos jogadores com uma ultrapassagem e acabou caindo com toda a força, rolando até quase dentro da trave. — O seu namorado sabe que o gol se faz com a bola, né?

       — Espero que sim... Enfim, já pensou em colocar um ponto final em toda essa situação e reescrever um novo começo? Sem ele, de preferência.

      — Falar é fácil... Eu preciso de tempo pra assimilar tudo isso melhor. Mais tempo.

      — Você é um procrastinador profissional mesmo, hein. — Tao me puxou para os seus braços enquanto esfregava o cocuruto da minha cabeça. — Eu sei que você vai superar tudo isso, e eu tô aqui pra te ajudar se precisar.

Purple SkyOnde histórias criam vida. Descubra agora