O9. God knows i tried

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      Eu estava saindo da minha sala quando o intervalo tocou, fui até o jardim onde me sentei e abri um livro para passar o tempo, aquele era o lugar perfeito, talvez até melhor que a própria biblioteca, que sempre estava cheia. Ali nada me chamava mais atenção além das letras naquelas páginas e isso era bom, sem distrações, ou pelo menos era para ser, pois Tao chegou de repente sem que eu o visse.

      — O que faz aqui? — perguntou, sentando-se ao meu lado e bagunçando meus cabelos.

      — Lendo...

      — Por que não na biblioteca? Lá pelo menos tem ar-condicionado.

      — Só tava afim de ficar um pouco sozinho...

      — Hm, aconteceu algo?

      — Nada — respondi, fazendo uma pausa. — Você anda muito desconfiado — falei calmamente sem tirar os olhos do livro.

      — E você nunca foi bom em mentir. — Eu o ignorei, virando a página. — Então você vai fazer joguinhos? Ótimo, eu amo eles — falou, levantando-se. — Bom, já que você não me diz... talvez o Chen saiba de algo, afinal, você sempre conta tudo pra ele, não é mesmo? — disse e fechei o livro imediatamente, o fitando.

      — Você não tem nada o que falar com o Chen!

      — Então me fale você.

      — Eu já disse que não foi nada, será que não se pode nem mais ler um livro em paz nessa droga?! — gritei exaltado, me levantando e passando esbarrando no ombro de Tao. Meu comportamento só confirmava o que ele no fundo já sabia.

       Embora no momento eu tenha ficado um tanto preocupado, sabia que Tao jamais iria procurá-lo e isso me deixou mais tranquilo. O que o Chen pensaria se Tao fosse tirar satisfação com ele? Isso só pioraria as coisas para mim, e, convenhamos, elas já não iam muito bem...
Evitei os possíveis lugares onde poderia encontrar Tao até a hora da saída e fui direto para casa, ignorando tudo e todos que se aproximavam de mim. Mesmo que nada de ruim tivesse acontecido naquele dia, a breve conversa que tive com Chen na noite anterior foi suficiente para colocar uma tonelada de inseguranças penduradas nos meus ombros. Mamãe ligou mais tarde e eu tentei não ser rude, ela não tinha nada a ver. Sinto que fui levemente sutil. Até passou pela minha cabeça dar uma volta aquela tarde, mas eu não estava totalmente disposto, preferia ficar em casa sozinho. É isso. Sozinho é a palavra que definia bem o que eu precisava naquele momento, apenas ficar sozinho...


      Uma semana havia se passado desde aquela troca de mensagens com Chen e ele sequer havia aparecido para pegar seu relógio de volta. Tive a infame ideia de ligar para ele, que não atendeu, e isso apenas fez a minha vontade de morrer aumentar. Não deveria sequer ter cogitado a ideia, mas agora já era tarde para se arrepender, então apenas tentei deixar para lá e não pensar tanto nisso. Mas a única forma de parar de pensar em Chen seria ocupando a minha mente com outra coisa igualmente preocupante, e vamos dizer que havia muita coisa inacabada em relação a mim. Logo, já que eu não conseguia resolver uma, tentei outra.
      Também havia um tempo desde o dia em que falei com Soo. Eu precisava saber como ele estava e precisava conversar sobre algumas coisas. Passei muito tempo observando o seu contato na tela do celular até resolver arriscar e ligar para ele, que pra minha surpresa atendeu. Pedi que me encontrasse no mirante onde havíamos ido quando saímos pela primeira vez. Para a minha surpresa ele aceitou e marcamos às três da tarde. Olhei no relógio e ainda faltavam duas horas. Nesse meio tempo decidi ir ao mercado comprar algumas coisas que estavam faltando e quando cheguei aproveitei para fazer uma limpeza na casa, para caso minha mãe chegasse não me julgasse relaxado.
      Talvez o ânimo de pensar que Soo estava disposto a acertar as coisas comigo tenha me dado algum entusiasmo; limpei lugares que antes eu nem lembrava que existiam naquela casa e apenas faltava o porão, eu estava indo até lá quando a campainha tocou. Respirei fundo, tirando o avental, coloquei o balde com o esfregão num canto e fui atender a porta. Era um rapaz que eu não conhecia, mas tinha a estranha sensação de já ter o visto em algum lugar.

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