3 Treinos

398 46 107
                                    

Na manhã seguinte, acordei cedo, olhei para o celular e já tinham três mensagens da Jhen. Fechei os olhos e joguei o celular na cama. Logo de manhã não! Andei pelo corredor, minha mãe já estava tomando café da manhã na cozinha, e me sentei com ela.

— Bom dia, querido. Caiu da cama?

— Bom dia mãe, é, vou treinar, você pode me levar? – perguntei sem olhar para ela, enquanto atolava um pão de requeijão.

— Claro. – ela respondeu com nojo, olhando meu pão. Eu quase ri.

Peguei o pacote de batata palha no armário e enchi o pão com o requeijão. Dei uma mordida me deliciando, e vendo minha mãe revirar os olhos.

Acabei de comer, voltei para o quarto para trocar de roupa, e partimos.

Assim que chegamos em frente á casa, já vi o carro do tio Vini. Esse sim manjava de corridas, de todos os tipos.

Me despedi da minha mãe no carro, e desci.

Entrei em casa, e eles estavam todos na bancada, conversando.

— Olha só quem chegou. Nosso herói do Freestyle? – Tio Vini tocou comigo.

— E aí? Até você foi recrutado para a missão impossível? – eu ri.

— Essas são as melhores, garoto. Se você não estiver saltando mais alto que eu até sábado, não me chamo Vinicius.

— Não sabia que pilotava. – falei incrédulo. Como esse cara fazia tudo?

— Não piloto, o que eu disse é que vai saltar pelo menos a minha altura. – ele riu — Olha só esse moleque, Léo. Até parece que ando em um troço onde a minha cara é o para-choque... — Ele gargalhou.

— Uau, Vini sabe mesmo como animar alguém. – tia Elise riu me abraçando. — Não liga para ele Rick, é síndrome de navegador frustrado.

Ele ergueu uma sobrancelha para ela, mas não ousou responder. Ela podia ser pequena no tamanho, mas ninguém se metia a besta.

— E aí, vamos ficar de conversinha o dia inteiro, ou vamos para a terra? – ela nos chamou. —Rick, achamos uma pista aqui perto, vai dar para o gasto hoje, amanhã a gente vê um lugar melhor.

— Beleza, sem problemas.

Entramos no carro, e minha moto foi na carreta atrás de nós. Caramba, eu tinha que mandar bem, ou ia pagar o maior mico no teste.

Já fazia quase um ano que não andava, então estava bem enferrujado.

Desci já na pista, e não fomos os únicos com a ideia de treinar ali. Tinha uns três caras, todos mais velhos, mas não me deixei intimidar.

Coloquei todos os equipamentos, e tirei a moto da carreta, só em subir nela, já me vinha toda a sensação de liberdade que eu amava. Era uma droga eu não poder pilotar nas ruas, era melhor que muito cara zoado por aí. Mais triste ainda, era não poder ir direto para o Freestyle, só mesmo depois dos famigerados dezoito anos. E pensar que fui o melhor nas aulas, arrisquei até manobras que os caras mais velhos não tentariam em seus sonhos. Mas tudo se tratava de regulamento. Só consegui fazer as aulas porque tinha tia Elise para brigar por mim. Foi o melhor fim de ano de todos. No sítio em Atibaia, fazendo as aulas e me divertindo com uma moto maior que eu, na época. Tudo o que eu já havia feito de divertido tinha meus padrinhos no meio.

Dei uma volta pela pista só para conhecer, e pegar a manhã da moto nova. Era uma pista muito boa, e dava para treinar legal, eu não era muito rápido, mas meus saltos sempre foram bons, era ali que eu poderia ter alguma vantagem.

Tio Vini começou a cronometrar minhas voltas e comecei a ganhar confiança. No final do dia, já tinha até levado um papo com os outros caras, e no fim, já estavam tietando tia Elise. A Bonequinha do Rally de Campinas. Aonde quer que fossemos, e alguém manjasse um pouquinho de automobilismo, era isso que acontecia.

No fim da tarde, tio Vini nos deixou em casa e foi embora, mas com treino marcado para o outro dia cedo. Santas férias de julho!

Entrei, e mal conseguia respirar, tudo doía, estava fora de forma, e os treinos eram bem puxados, só esperava não estar morto até sábado.

Me joguei no sofá, e nem conseguia me mexer.

— Toma, vai ajudar. — tia Elise me entregou um comprimido e um copo de água.

— Relaxante muscular? – falei quase de olhos fechados.

Ela riu — É, acredite, sei como é isso aí. Toma, vai melhorar.

— Valeu. – me sentei para tomar.

— Quer que eu te leve embora?

Olhei para ela meio sem graça. — Na verdade, eu queria levar um papo com o tio Léo.

Ela me olhou meio desconfiada, mas não perguntou nada. — Tudo bem, se for ficar por aqui, avisa sua mãe tá.

Assenti, e me soltei no sofá outra vez. Caramba, levar uma surra teria sido menos dolorido...

*****

Acordei dando um pulo. Cacete, dormi! Olhei para o relógio e já eram onze e meia. Droga! Não, não podia ter dado esse mole com a minha mãe...

Passei a mão pelos bolsos. Merda! Celular em casa!

Peguei o telefone, e liguei para a minha casa.

— Alô mãe... Mãe foi mal, eu acabei apagando e...

— Calma, Rick, — ela riu — a Elise já me ligou para avisar.

— Desculpa, bati no sofá e apaguei... — Caramba era o primeiro dia e já estava fazendo merda... Ainda bem que eles não levavam castiga a sério.

— Está tudo bem, querido. Mas devia ligar para a Jhen, ela disse que nem respondeu as mensagens dela...

Ah caralho, achei que ia voltar para casa para responder... — Ai, ela deve estar muito puta comigo...

— Ela está chateada filho, e com razão. Precisa conversar com ela, deixar as coisas claras.

— Eu sei mãe. Putz só faço merda mesmo... – suspirei — Mas beleza, amanhã tenho treino de novo, vou pedir para me deixarem em casa direto tá?

— Tudo bem, querido. Descansa tá?

— Tá, boa noite. 

Fora das trilhas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora