8 Sem Paciência

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A tarde passou mais rápido do que eu previa, e não a encontrei mais. Na hora de voltar, preferi ir com meus pais. Mais por causa do tio Vini que só ficava falando da porra daquele beijo, e sobre a aposta que ele teria ganhado. Não estava com paciência para velho tonto. Na verdade, não era só o beijo que não saía da minha cabeça, era a conversa, realmente, fazia todo o sentido, mas conseguir uma rampa, mesmo que intermediaria para treinar, seria foda demais, eu não via como eu poderia só treinar, mas sabia que ela tinha razão.

Voltei para casa terminando a segunda lata de pringles. Cheguei em casa, devolvi a garrafa de água e as peras amassadas para a geladeira. Talvez só andar com frutas na mochila já me fizesse saudável. Eu ri.

Coloquei meu celular para carregar sentindo um gelo na barriga cada vez que olhava para a maldita foto. Mas também não estava a fim de fazer a limpa, estava cansado demais para isso.

Dormi, e acordei domingo, quase meio dia, pelo menos tinha recuperado da noite anterior.

Meu celular vibrava na minha mesa, me espreguicei, e me levantei para pegá-lo. Tinha umas quinhentas mensagens, e várias chamadas perdidas.

Pensei em ignorar tudo, mas não deu, ele começou a vibrar outra vez.

Atendi, mesmo sem conhecer o numero. — Precisava disso, Ricardo? – ela gritou.

Pisquei tentando acordar direito — Jhen?

— Nem vinte e quatro horas para você estar com outra?

— O que? – falei atordoado — Do que está falando?

— Eu vi, aliás, todo mundo viu você beijando aquela garota! Está na internet para quem quiser ver! – ela esbravejou.

Eu quase ri — E daí? O que você tem com isso? Foi você quem terminou, não te devo mais nada. A boca é minha e beijo quem eu quiser.

Ela ficou em silencio por um tempo. E voltou a falar com uma voz ainda mais raivosa. — Agora sim você está parecendo com ele. Parabéns, agora é um legítimo Vasconcelos!

Meu sangue ferveu — Garota, você me deu um pé na bunda na véspera do dia mais importante da minha vida! Acha que tem moral de falar merda para mim? Se toca, eu tentei, não queria terminar. Eu ainda gosto de você... Mas não vou ficar chorando por uma egoísta. Agora vê se me esquece! – ia desligar, mas resolvi completar. — E para a sua informação, parecer com o meu padrinho não é defeito! Ele é muito melhor do que toda a merda da sua família junta.

E aí eu desliguei. Olhei para a tela, e a mensagem com um meme do beijo que a Manu me deu estava aberta. Eu ri. Beijaço! Podia ter dito que foi o melhor beijo que já recebi para ela, mas achei maldade.

Fechei a mensagem, e o maldito papel de parede me enfrentou. Aquele sorriso, as malditas covinhas mais lindas que já vi... Fiquei olhando para a nossa foto, ela estava no meu colo, em um dos primeiros churrascos na casa dos meus padrinhos que a levei...

O celular começou a tocar outra vez, e com a foto dela. Olhei para a parede na minha frente. Eu não ia mesmo conseguir apagar tudo aquilo.

Subi na cama e com a minha melhor pose de arremessador, atirei ele pela janela. Problema resolvido!

Pulei da cama, e fui para o chuveiro. Era muita audácia mesmo. Como ela podia tirar satisfações se foi ela quem terminou? Garota doida! Mas qual não era?

Saí do meu quarto, e minha mãe, e meu pai já estavam se arrumando. Fechei os olhos, almoço de família na casa do Ju... Dispenso!

— Oi querido. Tudo bem?

Assenti para minha mãe, só para não responder.

— Pela sua cara, não vai querer ir no almoço né?

Fiz que não com a cabeça tomando um gole de leite na garrafa.

— Falou com a Jhen? Ela ligou umas três vezes já...

A encarei. — Nós terminamos mãe... Já fui solteiro para a corrida, eu não traí ela, se é o que você está pensando. Eu não faria isso.

Ela sorriu — Eu sei que não, querido. Você está bem com isso?

Encarei o leite. — Estou, mas acho que preciso de um celular novo. – lutei para não rir.

— O que aconteceu com o seu? Perdeu na corrida?

Baixei a cabeça — Não... Voou acidentalmente da minha mão pela janela.

Ela cerrou os olhos para mim. — Então você vai ter que se virar para comprar outro. Meu dinheiro não é capim.

Eu sorri para ela.

— Estamos indo. — Meu pai gritou da garagem.

Ela me deu um beijo no rosto — Tem lasanha congelada se quiser tá? Se comporta.

Revirei os olhos. Às vezes parecia que eu tinha cinco anos para ela.

Assim que ouvi o carro sair. Peguei o telefone e liguei para a casa dos meus padrinhos.

Ela atendeu com a mesma voz de sono que a minha. — Oi Rick.

— Tia Elise, quando sai o resultado do teste? Quando vou saber se vai rolar o patrocínio?

Ela bocejou — Iam ter mais algumas baterias hoje, mas acredito que até o próximo fim de semana eles já tenham uma resposta.

Nossa, ia demorar pra caralho ainda...

— Vocês não vão no almoço do tio Ju? – perguntei, mas já sabia a resposta.

— Até iríamos, mas o Léo está desmaiado ainda, e já ficou tarde. Vai ficar de bobeira aí? Se quiser vir pra cá... – ela ofereceu.

— Ah valeu, mas vou desmaiar na Netflix hoje. Ainda estou morto de ontem.

Ela riu. — Beleza então, Rick. Também vou voltar para a cama.

Me despedi e desliguei.

Me joguei no sofá e comecei a procurar alguma coisa decente para ver, a maldita lista, só tinha as coisas que eu via com ela.

A pior parte de terminar, nem era terminar de verdade, o pior, eram os rabos. Quando se passa muito tempo com outra pessoa, tudo seu, acaba tendo ligação com a maldita. Talvez a ideia de ser um vagabundo sem dona não fosse tão ruim agora, sem lembranças, sem essa de até o cheiro lembrar a sujeita... E principalmente, sem cobranças. Quem dera eu conseguisse ser assim... Um beijo! Um único beijo, e pronto, já fiquei feito tonto com aquela garota na cabeça.

Como o previsto, dormi a tarde inteira também, e nem vi meus pais chegarem. Acordei, já estava escuro. Enfiei a lasanha no micro-ondas e depois de comer ela inteira com meia garrafa de coca, voltei para o quarto.

Estava sem ânimo, mas entrei no jogo online que eu curtia, já que não estava com sono. E encontrei meus amigos por lá.

Virei a noite jogando, e quando Digão ia me perguntar sobre a Jhen, desconectei. Alerta de assunto lazarento... a internet caiu! Eu ri. E fui para a cama, já eram mais de quatro da manhã, da última segunda feira das férias de julho. Maravilha!

Fora das trilhas (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora