Prólogo

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— Vivian! Vivian! Aonde você foi parar, menina?!

Eu escutava a voz do papai vindo de longe. Não queria voltar para casa. Estava fissurada na borboletinha que voava, batendo as asinhas, indo de flor em flor. As asas coloridas eram manchadas de azul. Amarelo e azul. Eram lindas, as asinhas...

— Vivian! Volte para casa agora! — Dessa vez parecia a voz da minha mãe.

Será que eu consigo alcançar a borboletinha? Levantei meus pezinhos o máximo que pude, colocando o peso do meu corpo inteiro nos dedinhos. A terra do quintal entrava no meio deles, fazendo cosquinha, mas eu não ligava. Queria pegar a borboletinha. Queria voar igual a borboletinha e ter asas lindas como as dela.

— Vivian! Se eu tiver que sair de casa para te pegar aí fora, você vai ver só, menina!

O bichinho foi voando, dançando, fazendo piruetas pelo ar, até as flores da casa do vizinho. Acho que não gostou de mim. Desci meus calcanhares no chão, sentindo a grama pinicar. Agachei e cocei. Levantei o corpo e arrumei meu vestido com as mãos manchadas de terra. Eu estava imunda, mamãe não ia gostar.

— Vivian! Eu já falei para você não brincar no meio das flores... — Papai estava perto e assustou a borboletinha.

Virei-me para ele depressa, chateada por ter perdido a chance de pegar a borboleta. Senti uma tontura e levei a mão à cabeça. A última coisa que vi foi o rosto do meu pai com um semblante engraçado. Depois, ouvi um barulho e minha cabeça doeu. Tudo ficou preto.

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